Por que ‘Superman Esmaga a Klan’ já pode ser considerado um clássico do personagem

      ‘Superman Esmaga a Klan’ é uma HQ com roteiro de Gene Luen Yang e arte de Gurihiru, do selo Teens da DC. A história se passa em 1946 e acompanha os jovens Roberta e Tommy Lee que acabaram de se mudar para Metrópolis, pertencentes a uma família chinesa, logo os jovens e seus pais se tornam alvos da Klan da Kruz Kandente, grupo extremista que tem uma arma secreta capaz de destruir o Superman.

      Apesar de ser uma HQ recente, e voltada para um público jovem, ‘Superman Esmaga a Klan’ é uma história que compreende e capta muito bem a essência do personagem e seu legado, e que já pode ser considerada um clássico dentre as histórias do azulão. Trazendo fortemente a ótica de uma pessoa racializada e que não se sente pertencente ao meio em que está inserida, Gene Luen Yang utiliza o tempo todo de figuras de linguagem e da arte de Gurihiru para traçar um paralelo entre a vivência de Roberta e a vivência de Clark/Superman, onde as dores de ambos se encontram no sentimento de não pertencer.

      Superman

      Dentro da história, Clark começa a experienciar visões de seus pais biológicos, após entrar em contato com uma estranha pedra verde, que ele ainda não sabe ser derivada de seu planeta natal, utilizada como arma pela Klan. Nessas visões, os pais de Clark tentam fazer com que ele recobre memórias de seu passado e aceite uma realidade sobre si mesmo que há muito ele tenta ignorar. Conforme a história vai passando e Clark vai ajudando os irmãos Lee a combaterem a Klan, e a se tornarem orgulhosos de suas origens, também vemos o personagem recobrar algumas memórias perdidas de infância e tornar-se orgulhoso de si mesmo.

      Veja, nessa história o Superman é ligeiramente diferente do que conhecemos, ele ainda corre muito rápido mas não voa e alguns de seus outros poderes ainda não estão lá, no entanto, quanto mais Clark mergulha em seu passado mais fica evidente de que o único motivo para todos os seus poderes não terem se manifestado, era por que ele mesmo estava os suprimindo, afinal de contas, ele era um “Super Homem”, se um homem corre, ele corre muito rápido, se um homem é forte, ele é muito forte, tudo super mas nada inumano. Clark anseia em ser comum, anseia em pertencer, porque apenas dessa forma ele está livre da rejeição e do preconceito. Em sua tentativa de parecer “normal”, o Superman acaba se tornando o símbolo daquilo que ele mesmo combate, já que a Klan o usa como exemplo do suprassumo da raça caucasiana. Em contraponto à história de Clark, temos a história da família Lee, que tenta tão desesperadamente se encaixar numa sociedade que ainda não os aceita, que evitam falar em sua língua nativa e não usam seus nomes de origem asiática. Ambas as histórias colidem quando tanto a família Lee quanto o Superman compreendem que o melhor jeito de combater o preconceito é abraçar suas raízes, respeitar sua ancestralidade e ficar em paz com a sua própia identidade. Apenas com essa aceitação que o Superman foi capaz de se aceitar, e descobrir seus próprios poderes, não mais temendo ser visto como alien, que dentro da história é uma óbvia analogia para estrangeiro. E é dessa maneira, através da aceitação e integração, e claro de superpoderes, que eles conseguem derrotar de uma vez por todas a Klan da Kruz Kandente.Em tempos onde slogans como “make America great again” se tornaram mantras para muitos, ter a ousadia de contar uma história onde o slogan de um grupo fanáticos e extremistas de vilões é “uma só cor, uma só raça e uma só religião” é muito mais do que necessário. ‘Superman Esmaga a Klan’ é uma ode aos ideais de Shuster e Siegal, uma história que nos lembra que, mesmo quando não somos ligados pela mesma carga genética ou ancestrais em comum, estaremos sempre ligados por uma coisa, a certeza de que todos nós compartilhamos o mesmo amanhã, e cabe apenas a nós fazermos dele um amanhã de todos!

      Luara Evangelista
      Graduada em Direito, amante de Ciências Políticas e Sociais, Literatura e Cinema. Aficcionada por Cultura Pop e Dcnauta ferrenha. Busco enxergar conexões entre a cultura pop e debates sociológicos.

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