Quando falamos de quadrinhos marcantes da DC Comics, a lista é vasta, tanto em números quanto em possibilidades já antes exploradas ao longo de seus mais de 80 anos de existência. Contudo, é bastante comum a intensa repetição de títulos específicos, que sim merecem os reconhecimentos que possuem mas, impede que o público entre em contato com outras produções que também são dignas dos holofotes.
Na lista a seguir iremos trazer algumas historias extraordinárias da editora, que podem não ser tão abertamente comentadas, porém carregam em si uma qualidade sem igual. Confira:
Não existe na DC um herói com um catálogo de histórias tão variadas e inspiradoras como o Batman. O Cavaleiro das Trevas foi bastante agraciado com títulos que só podem ser definidos como históricos. Todavia, um gibi em específico acabou ganhando uma atenção especial nesses últimos tempos.
Lançada nos anos 2000, Ego é um quadrinho concebido pelo artista vencedor do prêmio Eisner, Darwyn Cooke, que se propõem a discutir a psique de Bruce Wayne e sua relação com o fardo que se auto impôs, assim como a relação quase simbiótica entre o Batman e a corrupta cidade de Gotham City, questionando seus métodos e o impacto que o símbolo do morcego tem para aqueles que jurou proteger.
A obra é considerada uma das melhores interpretações do cruzado encapuzado, sendo, inclusive, usado como base para o filme The Batman, de Matt Reeves.
Leia aqui uma analise mais aprofundada do título.
Os Livros da Magia
Neil Gaiman é um verdadeiro mago da literatura, sendo o responsável pela criação de inúmeros de clássicos modernos, tornando suas palavras uma extensão do potencial da imaginação humana. Na DC, o autor foi o responsável por gibis impecáveis como Orquídea Negra e, obviamente, Sadman. Mas, não são deles que iremos falar hoje.
Lançados entre 1990 e 1991 no falecido selo Vertigo, Os Livros da Magia narra a jornada de Timothy Hunter, um garoto comum de treze anos que descobre ter o potencial de ser o maior e mais poderoso mago do universo. A minissérie explora até os mais remotos cantos do universo mágico da DC, indo desde o deslumbrante reino do Sonhar até o fim dos tempos, com o intuito de mostrar ao jovem bruxo os caminhos e destinos que ele poderá trilhar.
O quadrinho também é recheado dos mais diversos rostos adorados do universo místico da DC, como Zatanna, Etrigan, Madame Xanadu, Constantine e até mesmo a amada perpétua Morte.
Leia aqui uma análise mais detalhada da minissérie.
Strange Adventures – Tom King
Tom King vem honrando seu nome e entregado trabalhos primorosos nesses últimos anos, especialmente na DC. Conhecido por colocar o dedo na ferida do lúdico mito dos “super-heróis” e ir fundo em suas mais diversas camadas, algo presente em seus inúmeros títulos, mas que acaba ganhando um novo patamar em Strange Adventures.
O personagem da vez aqui é Adam Strange, que se tornou um herói ao defender o planeta Hann da raça de genocidas pikkts no passado, mas agora se encontra no centro de uma investigação sobre seus possíveis crimes de guerra.
A trama se divide em duas linhas cronológicas, uma no passado com Adam precisando unir as tribos de Hann na batalha contra os pikkts, desenhada por Evan “Doc” Shaner; e outra no presente, desenhada por Mitch Gerards, com o aparecimento de acusações que mancham sua imagem de herói e o leva em uma investigação, encabeçada pelo Senhor Incrível.
A minissérie foi lançada em 2020, pelo selo DC Black Label, substituto do antigo selo Vertigo.
Superman Esmaga a Klan
Superman é o herói primordial. Sendo ele mais rápido que uma bala, mais potente que uma locomotiva e capaz de saltar prédios com um só pulo. Contudo, as suas melhores histórias são aquelas que entendem seu real superpoder, a inspiração.
Sendo um lançamento do selo DC Teen, Esmaga a Klan possui uma narrativa até simples, mas recheada de nuances que não só a torna genial, como também um clássico contemporâneo necessário. Na trama, os irmãos Roberta e Tommy se mudam com a sua família de Chinatown para Metrópolis. E, entre todos os problemas da adaptação, a família precisa enfrentar um inimigo sem escrúpulos, o preconceito. Perpetuado pelo grupo supremacista, aqui chamado de Klan da cruz em Chamas, vemos Lois Lane e Clark Kent investigando as reais motivações do grupo para por um fim em sua onda de ódio.
Vale destacar todo o arco do Superman na história, que também precisa lidar com o fato de ser um forasteiro nesse mundo, tendo medo de ser visto como o “outro” e colocado no lugar de ameaça, algo tão internalizado que o limita de atingir seu verdadeiro potencial.
A história é baseada no seguimento do antigo programa de rádio do Superman, intitulado Clan of The Fiery Cross, transmitido em 1946 e usado na época como forma de denunciar o crescente número de células da Ku Klux Klan, nos EUA.
Contando com um roteiro impecável de Gene Luen Yang e Gurihiru, a HQ venceu o prêmio de Melhor Livro Infantil no Harvey Awards 2020.
Harley Quinn: Breaking Glass
Arlequina pode ter surgido como uma mera ajudante, mas foi ganhando seu espaço e hoje é um dos maiores pilares da DC Comics, se tornando inclusive a protagonista de diversos títulos aclamados que merecem sim seu lugar ao sol.
Nesta trama acompanhamos a jovem Harleen, que vive em um apartamento em cima de um cabaré karaokê de uma drag queen chamada Mama, na área pobre de Gotham e devendo escolher entre sua amiga Ivy ou o perverso Coringa para salvar seu bairro da gentrificação.
A HQ foi lançada pelo selo DC Ink, focada em jovens adultos, com artes de Steve Pugh e roteiro de Mariko Tamaki, que venceu o prêmio Eisner na categoria de Melhor Escritor (a).
You Brought Me The Ocean: An Aqualad Graphic Novel
Um quadrinho que ganhou destaque da mídia após o anúncio da série do Aqualad na HBO Max foi o romance gráfico do autor Alex Sanchez. Descrito como uma história de um “peixe fora d’água”, vemos um jovem Jackson “Jake” Hyde lidando com seus próprios medos e inseguranças, enquanto aprende sobre sua verdadeira natureza.
Não esperem combates épicos aqui, mas sim uma trama de amadurecimento. Tendo bastante cuidado em abordar questões inerentes a comunidade LGBTQIA+ com extrema sensibilidade, além de, claro, estar submersa na aquarela de cores e traços suaves da ilustradora francesa Julie Maroh.
A Outra História do Universo DC
A DC Comics é a casa de alguns dos maiores heróis da cultura pop, contudo, muitos personagens acabam sendo apagados ou subutilizados com o passar dos anos, em especial alguns que fazem parte de grupos minoritários.
Pensando nisso, em 2021, foi lançada a minissérie ‘A Outra História da DC’, que narra momentos chaves da editora no ponto de vista de super-heróis que, embora bem conhecidos em certos círculos, foram históricamente marginalizados tanto nas páginas quanto no mundo real. O título tem o roteiro de John Ridley, artes de Giuseppe Camuncoli e cores de Andrea Cucchi.
O especial foi dividido em cinco edições, com o primeiro volume estrelado por: Raio Negro, sua filha Anissa (Tormenta), Katana, Renee Montoya (Questão) e o casal Karen (Bumblebee) e Mal Duncan.
DC: Odisseia Cósmica
Uma das maiores e mais injustamente mal comentadas sagas da DC é Odisseia Cósmica, que reuniu nos anos 80 dois grandes nomes da história dos quadrinhos, com Jim Starlin, assumindo o roteiro, e com artes do lendário Mike Mignola, o criador de Hellboy.
Na trama, vemos a aliança improvável entre Darkseid e o Pai Celestial para deter o avanço da Força Anti-vida, que aqui é retratada como um ser senciente que ameaça todo o universo, precisando os mesmos reunirem um grupo diverso dos maiores heróis de seus respectivos mundos, como também da Terra.
Apesar de pouco lembrada, a HQ consegue reunir com maestria todo o potencial cósmico da editora em uma história cheia de reviravoltas e momentos marcantes que até hoje repercutem na trama principal dos personagens.
Sociedade da Justiça: A Era de Ouro
Ao contrário do que muitos podem pensar, a Liga da Justiça não foi a primeira super equipe da DC. A Sociedade da Justiça foi um grupo nascido durante a ascensão dos quadrinhos, em uma época longínqua e inocente, conhecida como A Era de Ouro. Contudo, sua relevância foi eclipsada com o final da Segunda Guerra.
Utilizando isso como base, em 1993, o roteirista James Robinson ao lado do ilustrador Paul Smith, decidiram contar sobre a queda desses ícones dos anos 40 em um deprimente processo de aposentadoria e adequação com seus novos status de “cidadãos comuns“, enquanto veem a ascensão democrática do fascismo nos Estados Unidos.
Tendo como ponta pé inicial a chegada de um novo herói chamado Dínamo, que conquista o carinho do público e o apoio de políticos fascistas na época do macarthismo, ele tem objetivos e intenções mais sombrias do que qualquer um jamais sonhou, e apenas os homens mascarados da Era de Ouro podem detê-lo.
A minissérie, dividida em quatro edições, foi lançada através do extinto selo Elseworlds, não fazendo parte da cronologia oficial do universo DC.
DC: A Nova Fronteira
Para finalizar a lista, temos uma obra idealizada pelo escritor e ilustrador Darwyn Cooke, que narra o momento de travessia entre a Era de Ouro e a Era de Prata dos quadrinhos.
Com o fim da segunda guerra e o inicio das tenções causadas pela Guerra Fria, os heróis da Sociedade da Justiça se tornam vítimas da paranoia coletiva, virando inimigos ao olhos do grande público. Agora, restam apenas Superman e Mulher-Maravilha trabalhando para os EUA, com o Batman virando um fora da lei.
E, nesse grande momento de incerteza, também acompanhamos o alvorecer de uma nova geração de mascarados, como Flash, Lanterna Verde e o Caçador de Marte, que precisam unir forças para derrotar uma entidade poderosa e antiga, conhecida apenas como o Centro.
A minissérie utiliza de momentos históricos da vida real, bem como discursos e lutas sociais, contextualizando esses personagens em um ambiente hostil e carente de esperança, criando um contraste com os traços vintage e leves de Cooke. Algo que encanta aos olhos e emociona os leitores a cada nova página.
Dividida em seis capítulos, o gibi só pode ser descrito como uma emocionante carta de amor aos lendários heróis desse universo. Não sendo atoa sua coleção de vitórias nos maiores prêmios do mundo dos quadrinhos (Eisner, Harvey, e Shuster).