Ocorreu no último final de semana (6 a 9/10), em Santa Maria/ Rio Grande do Sul, mais uma edição do Multiverso Experience e nós conversamos com Luiz Abel de Oliveira, um dos organizadores do evento, que nos falou um pouco sobre sua visão da comunidade nerd na região.
Ao ser questionado sobre a organização do evento em si e sua importância, Abel destacou sobre a história do Multiverso:
“A marca Multiverso começou em 2018, depois que a gente teve uma ótima experiência com o pessoal do “Brick Nerd”, de Porto Alegre. Trouxemos o Brick Nerd para cá e tivemos uma resposta muito positiva, foi quando nos reunimos para criamos uma marca para começarmos a fazer eventos aqui, voltados para a cultura nerd, tanto nipônica, quanto norte-americana ou quadrinhos nacionais.”
Sobre a aceitação do público, ele afirmou que está percebendo algo positivo:
“A resposta está sendo positiva, o público está participando. Este é o primeiro evento [deste porte] que fizemos dentro do shopping [Royal Plaza], com cosplay, com banda e está sendo muito legal porque a galera do cosplay está vindo e a gente sabe que não é pela premiação, mas pela oportunidade da galera vir aqui e mostrar o seu trabalho.”
Perguntamos também sobre a importância do Multiverso Experience para o interior do estado:
“Nós somos pequenos e estamos iniciando, mas uma coisa legal é que no nosso estado tem muita coisa boa acontecendo, aqui em Santa Maria mesmo, há 10 anos tem Shin [ evento voltado aos animes e afins], o Anima Soul em Rio Grande e a Comic Con RS. A gente fazer parte deste cenário em que várias pessoas estão se mobilizando para reunir este público muito especial, faz a gente se ver como algo a mais para se agregar nessa coisa bacana que está acontecendo no estado.”
Perguntamos também quais as maiores dificuldades em organizar este tipo de evento:
“A dificuldade são os imprevistos, tínhamos um planejamento de convite para estandes, nesse evento houveram desistências no dia da abertura, temos que ser rápidos para encontrar soluções. A maior dificuldade é em si a estrutura do evento. O shopping nos apoia muito, mas o fator humano muitas vezes dificulta, pois existem coisas que fogem ao nosso controle.”
Pensando no futuro, como você vê o Multiverso daqui 10 anos?
“Boa pergunta, muita coisa pode acontecer em 10 anos (risos). O que queremos é aumentar a marca com mais lojas fora de Santa Maria, porque aqui o nicho é legal, mas existem muitos núcleos fechados, buscamos expandir para outros lugares e pensamos em criar eventos maiores. Meu sonho é poder trazer desenhistas que todos tenham um carinho, alguém do meio norte-americano, mas também nacional. O que idealizamos são eventos maiores, mais artistas e mais conectividade.”
Como está a cultura nerd no estado e aqui em Santa Maria?
“Em Santa Maria a cultura nerd é legal, vejo que o público novo tem um apreço em ser geek, as pessoas tem consumido menos material de leitura e mais material para mostrar suas preferências. Mas o que acabo sentindo falta é do interesse pelo material da raíz da criação. O público tem se expandido cada vez mais, é um mercado muito próspero. O que sinto falta mesmo é das pessoas lerem e consumirem mais, não só os quadrinhos norte-americanos e brasileiros também, acredito que pela dificuldade de criarem coisas novas e bombásticas, como eram nas décadas passadas. Mas clássicos como Batman e Sandman são sempre consumidos, por exemplo. O que vejo é um interesse muito grande e também percebo que estamos perdendo a vergonha de falar publicamente que somos nerds. Eu nunca tive essa vergonha, sempre falei, mas sentia que pessoas do meu convívio não falavam. Os eventos têm contribuído com isso.”
Qual sua visão sobre eventos como este e sobre a visibilidade para esta cultura?
“Esta conectividade que é legal, os eventos são feitos para fomentar isso, para falar “eu sou”, “eu curto”, “eu me visto deste personagem porque eu gosto”. Eu sinto que essa ruptura não foi total, existe preconceito com quadrinhos. As cifras são potentes, o cinema voltado para os quadrinhos, o faturamento é estratosférico, mas ainda é encarado como um produto sem muita importância como arte, mas gente sabe que tem. Não é só entretenimento, quadrinho é arte a muitos anos, a gente tem que continuar lutando e mostrando para as pessoas.”
Qual o impacto que séries e filmes têm neste cenário?
“Séries como Sandman, que atingem o público de massa e a pessoa que assiste passa a ler o quadrinho, me deixam muito feliz. O impacto que vi de The Sandman foi trazer clientes novos e reacender o interesse de quem tinha deixado de ler. É uma obra muito abrangente, o Neil Gaiman tem toda a visão onírica, com quebras de barreira e sem preconceitos, é uma série fenomenal. Já é perfeita no quadrinho e a série conseguiu trazer toda a essência do quadrinho para ela. Quando esse produto, que é tão nichado chega na massa, o público começa a ver de outra forma. Tanto a TV quanto o cinema têm o alcance que o quadrinho não tem. Eu mesmo, não entrei no universo dos quadrinhos pelos quadrinhos, meu primeiro contato com personagens foi no filme de 78 do Super-Homem, eu tive contato com o Batman cavaleiro das Trevas do Frank Miller e quando saiu o filme de 89, eu entrei nesse mundo e nunca mais saí (risos).”
Recentemente, já havíamos falado aqui no site sobre o modo que os eventos ajudam a mudar o modo que o público em geral vê a cultura nerd, leia AQUI.
O Multiverso Experience existe desde 2018 e você pode acompanhar atualizações e informações sobre eventos futuros através do Instagram de seus organizadores.