Essa é uma história sobre um garoto muito especial… parece algo muito genérico diante de tantos contos que já vimos por aí, mas acredito que este garoto realmente é muito especial por toda a sua jornada em um mundo que tecnicamente acabou por causa de um vírus. E não é muita coincidência? Assim é a jornada do jovem protagonista Gus, na adaptação de ‘Sweet Tooth’, lançada no dia 4 de junho pelo serviço de streaming Netflix.
A série é uma adaptação da história em quadrinhos de mesmo nome escrita por Jeff Lemire, lançada entre 2009 e 2013 pelo selo Vertigo da DC e ao todo somou 40 edições. Recentemente, ela recebeu uma sequência intitulada “Sweet Tooth: The Return”. A primeira temporada da série compreende boa parte dos acontecimentos das primeiras dez edições, mas toma a liberdade de fazer algumas adaptações necessárias para expandir essa narrativa para que possamos conhecer um universo que tem o potencial de se tornar um dos grandes sucessos do serviço de streaming.
O elenco conta com o jovem Christian Cowery no papel do hibrido Gus e Nonso Anozie como o grandalhão Jepperd, que se torna o companheiro de viagem do garoto. Além da dupla, ainda tem nomes conhecidos do universo das séries de TV como Will Forte, Dania Ramirez, Neil Sandilands e Aliza Vellani, Adeel Akhtar e James Brolin, sendo o último narrador desta primeira temporada de 8 episódios que, apesar de um tom de conto de fadas, traz temas sérios na sua trama.
Diferente do que acontece na história de Jeff Lemire, não acompanhamos apenas a jornada de Gus por um mundo devastado e completamente desconhecido. A partir da perspectiva apresentada, descobrimos o que ocorreu com a sociedade que caminhava em direção ao seu colapso e, com o advento dos híbridos, o vírus foi o ponto de ebulição. Logo no primeiro episódio, temos um panorama geral do que esta acontecendo e lentamente vamos descobrindo alguns arcos individuais que serão acompanhados durante os desdobramentos da narrativa.
Sweet Tooth é sobre uma jornada de descoberta, e neste aspecto, o roteiro não deixa a desejar. É uma aventura tocante, sensível e que faz uso da leveza de seus momentos para falar de temas mais complexos como a solidão, a culpa, medo, desespero e amor, frente a um cenário catastrófico. A trilha sonora abraça a narrativa, a fotografia é muito agradável para nos encantar como espectadores, enquanto desfrutamos desta jornada de despertar e amadurecimento do jovem protagonista.
Apesar de sempre circular entre os diversos personagens, de forma que possamos conhecer a formação de laços entre eles, o ponto central é a relação entre Gus e Shepperd, que mesmo se valendo de uma premissa já conhecida e vista em tantas outras produções, consegue nos entregar algo único. Por vezes, o problema dessa centralização excessiva causa uma perda de fôlego ao longo da narrativa. Mesmo que seja emocionante, essa repetição em alguns momentos se torna monótona, mas não ao ponto do espectador perder o interesse no que está acontecendo na história.
A trama apresenta perspectivas interessantes sobre este mundo, como Aimee Eden (Dania Ramirez) e a sua filha adotiva Wendy (Naledi Murray) sendo uma das grandes revelações sua origem, antes do encontro com sua mãe. A história apresenta outros pontos interessantes; a líder do exército animal, Ursa, que assume o compromisso de proteger os híbridos; a corrida do Dr. Singh em salvar sua esposa e a ambivalência ética que possui em relação a postura como pesquisador na busca pela cura do vírus; e o General Abbott como o líder da célula militar “Os Últimos Homens”, que se coloca na missão de “salvar” o mundo matando tudo o que esta na sua frente, sejam os híbridos ou seus protetores.
Apesar de se mostrar como um conto de fantasia, Sweet Tooth não deixa de manter o compromisso que o material original possui. A série nos faz pensar sobre questões que temos na nossa realidade, como a ausência de empatia no mundo, a desconfiança em relação ao próximo e até mesmo sobre questões políticas de um mundo conservador fadado a decadência em relação ao próximo, que ainda não está preparado para a aceitação de todos exatamente como são.
Como todo fim de uma temporada inicial, ele é aberto para que se possa contar mais na próxima leva de episódios. Apesar de todas as adversidades que ocorrem nos momentos decisivos, a produção não deixa de reforçar a ideia que gira entorno do personagem principal que, apesar de coisas ruins e inesperadas acontecerem, é importante manter a esperança. Não esperaria menos deste garoto muito especial, afinal, ele transpira esperança pelos poros!
Sweet Tooth não surpreende como o sucesso que demonstrava ser ao despontar no horizonte do serviço de streaming, mas apresenta um potencial para se consolidar como uma das grandes produções da Netflix e que iremos aguardar ansiosamente o anúncio de uma uma nova temporada. A série é uma narrativa que emociona, que acolhe e que também nos faz pensar sobre como está o mundo que vivemos.
Nota: 50/52.