Mais uma vez, Amanda Waller tem um problema que só pode ser resolvido pelos melhores dos piores. A Força-Tarefa X, mais conhecida como Esquadrão Suicida, volta a ação depois de já terem feito sua estréia nas animações e no Universo Cinematográfico da DC. E além de terem a missão de superar a qualidade do filme antecessor da equipe, Batman: Assalto em Arkham (animação que se passa no Arkhamverse), e de se livrarem da má reputação deixada por sua versão live-action, desta vez os vilões convocados precisam encontrar um objeto misterioso, um cartão com propriedades supostamente místicas.
Com direção de Sam Liu, sempre a frente de grandes animações, e com roteiro do já experiente Alan Burnett (Batman: a Máscara do Fantasma, Liga da Justiça Deuses e Monstros e participações em episódios das principais animações para tv da DC desde Batman: A Série Animada), Suicide Squad: Hell to Pay é o décimo filme do Universo de Filmes Animados da DC, iniciado com Liga da Justiça: Ponto de Ignição, e prova ser uma história divertida e com bons momentos, apesar de cometer alguns deslizes. É importante perceber que a animação espera atingir principalmente o público adolescente, sendo este o mais contemplado. Esta escolha pode acabar distanciando o público que busca uma obra final mais adulta e reflexiva. Porém, entendendo esta escolha, o filme se torna uma viagem muito interessante, principalmente pra quem é consumidor assíduo de animações da DC Comics. Hell to Pay faz diversas ligações com os outros filmes e personagens presentes neste universo. O mesmo acontece com os traços e a identidade da animação, que busca manter a mesma qualidade mas optando por novos caminhos e elementos para construir sua identidade própria. Um destes elementos é a violência. Sangue, vísceras e ossos são explorados na animação, mas de forma quase cartunesca, evitando que sejam graficamente fortes ou agressivas. A linguagem e algumas incitações sexuais, com direito a cenas de nudez não-explícitas, também ajudam a construir esse universo onde não há heroísmo, só vilões lutando por seus próprios objetivos. A ação também é bem presente, e a animação é bem dinâmica e cheia de vitalidade, assim como a dublagem americana e brasileira, que estão muito bem ajustadas aos personagens.
Outro grande acerto é a escolha dos personagens trabalhados em Hell to Pay. Dispondo de personagens famosos e e em ascensão, aos poucos somos apresentados a outros grandes heróis e vilões da DC que são desconhecidos do grande público, mas nem por isso menos interessantes. A formação do Esquadrão Suicida conta com Pistoleiro, Arlequina e Capitão Bumerangue (aproveitando o embalo do sucesso dos personagens no filme de David Ayer), Nevasca, Cobra Venenosa e Tigre de Bronze. Estes últimos dois merecem uma atenção especial por seu design, sequências de ação e/ou desenvolvimento no filme. Com o passar da trama, somos apresentados a outros personagens, mas cabe aqui preservar as possíveis surpresas e adição de conflitos ocorridas até o final do segundo ato, que são um dos pontos positivos do filme. É interessantes ressaltar apenas que, logo nos 5 primeiros minutos, há uma pequena aparição de uma antiga formação do Esquadrão nos quadrinhos.
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A relação dos personagens também é algo a observar em Hell to Pay. Apesar de mais ajustada que no famigerado filme do DCEU (faço a comparação apenas para usarmos como base, não que ela necessariamente precise ser feita ou que essas plataformas precisem ser comparadas entre si), ainda encontramos aqui uma tentativa muito superficial de aproximar os personagens e conquistar o carisma do público. Em vez de simplesmente mostrá-los como os vilões que são (e que queremos ver), o filme busca ressaltar suas virtudes e boas ações. Se o filme explorasse e nos mostrasse em tela essas camadas poderia ser mais efetivo, o problema é que tudo é mais falado do que executado. Os diálogos expositivos não nos permitem acreditar de fato e absorver o que a animação possui de mais dramático. Porém, se o filme falha em aproxima-los, distância-los se torna muito mais fácil e prazeroso. Quando o filme se permite entregar ao caos que é uma equipe formada por egóicos, mercenários, sociopatas e lunáticos, o resultado é prazeroso e imprevisível. Por isso, mesmo se o espectador começar a se cansar, recomenda-se continuar assistindo. Em sua primeira meia hora a animação pode parecer um trabalho sem muitas pretensões, mas em sua última hora (e especialmente no final) o resultado é realmente divertido e nos proporciona momentos empolgantes, plot twists e muita sujeira. Tudo isso com a participação de personagens difíceis de se ver normalmente e que trazem um frescor para aqueles que já estão cansados de ver sempre os mesmos rostos e uniformes em filmes, animações e quadrinhos da DC Comics.⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Enfim…
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Suicide Squad: Hell to Pay é uma animação divertida, repleta de gore leve e que busca ser justa com todos os personagem que dispõe, dando-os espaço na história, desenvolvendo seus poderes e habilidades e apresentado-os a boa parte do público. Continuando a boa qualidade que o Universo de Filmes Animados da DC vem construindo, Suicide Squad: Hell to Pay acerta ao optar por uma trama muito menos grandiosa e megalomaníaca que sua versão em filme, explorando o caráter operacional e paramilitar da equipe. Apesar de cometer deslizes no aprofundamento de seus personagens e construção de relação, e abusar do “falar, não mostrar”, a animação ainda é um resultado final agradável para assistir despreocupado e uma boa inserção do Esquadrão Suicida neste novo universo – e, quem sabe, um bom material de estudo para Gavin O’Connor e os roteiristas de Esquadrão Suicida 2…⠀⠀⠀⠀⠀