Stargirl encantou uma legião de fãs graças ao seu carisma e estética, que traziam um olhar mais clássico sobre o universo de super-heróis. Uma carta de amor para a Era de Ouro da DC. Com a chegada de seu segundo ano, a série se torna mais consciente de seu universo, indo de encontro com ao seu íntimo, usando os demônios internos dos protagonistas como fio condutor.
Em seu primeiro ano, a série investe no espetáculo, usando dos visuais bregas e cheio de cores para apresentar um mundo onde a lógica e a razão não precisavam andar de mãos dadas o tempo inteiro. Mostrando um pequeno mundo onde as mitologias mais cartunescas dos quadrinhos existem de forma orgânica, focando no esplendor de uma nova geração herdando o mato de antigas lendas.
Após o fascínio, se encontra a realidade, e é neste momento em que a série decide amadurecer, colocando o peso e consequências de nosso mundo em sua trama. Incorporando os dramas adolescentes característicos da CW, porém, sem em momento algum abrir mão da breguice de seu material fonte.
Como forma de equilibrar essa nova tomada de rumo, a produção ataca um dos principais pilares que estava sendo erguido cuidadosamente no ano anterior, o moralismo. A produção usa a chegada do demoníaco Eclipso (Nick E. Tarabai e Milo Stein) para desestruturar os convictos heróis, de dentro para fora, se tornando o ponto chave da temporada antes mesmo de sua libertação, nutrindo-se a partir das inseguranças daqueles a sua volta como um contraponto de escuridão para a irradiante inocência juvenil.
Nesse espaço de tempo, personagens enfrentam seus piores medos, sendo contorcidos até fraquejarem diante o peso da realidade em seus ombros. Em um mundo cercado por objetos mágicos e robôs gigantes, nada parece mais doloroso que os demônios enraizados no amago do ser. Enquanto heróis como Yolanda (Yvette Monreal) e Ricky (Cameron Gellman) caem ou são consumidos pela incerteza, outros ganham a chance de finalmente brilhar e mostrar o seu valor.
Beth Chapel (Anjelika Washington), a atual Doutora Meia-Noite, sempre foi ofuscada pelos seus companheiros, podendo ser vista por muitos como o elo fraco da equipe. A série toma consciência desse fato e usa do mesmo artifício para engrandecer a personagem através da resiliência, lhe dando espaço para mostrar o seu valor. Sendo ela a única a vencer Eclipso em seu próprio jogo e recebendo a benção e mentoria de seu antecessor.
Outros personagens de destaque da temporada são Cindy Burman (Meg DeLacy) e Penumbra (Jonathan Cake), que trilham caminhos divergentes de ambiguidade, apresentados inicialmente como ameaças a serem vencidas e aos poucos incorporando um arquétipo de anti-herói com o passar dos episódios, tendo um papel decisivo durante a batalha final.
Em quesitos técnicos, a série soube driblar a maioria de suas limitações com inteligência, usando recursos de maneira moderada e inventiva, preferindo optar pelo pratico sempre que possível. Figuras como Jade (Ysa Penarejo), F.A.I.X.A. Solomon Grundy e Thunderbolt, que requerem um uso maior de efeitos visuais, somente dão as caras em momentos de necessidade, seja como armas secretas ou até para fins narrativos.
Por outro lado, um elemento de destaque são as cenas de ação, que estão melhor distribuídos em meio a temporada. As coreografias sabem explorar o melhor de cada personagem e o ambiente em sua volta usa movimentos de câmera e cortes preciosos para aproveitar o melhor dos cenários, tendo plena ciência da geografia do que está a sua volta, seja nas batalhas mais contidas ou em ambientes abertos.
Satrgirl: Summer School mostrou uma crescente na qualidade narrativa da série, que soube trabalhar temas mais maduros e aprofundar a psique dos seus personagens, sem perder a essência de se divertir no meio tempo. A temporada encerra de maneira épica, convergindo todos os seus núcleos para a grandiosa batalha final, já preparando terreno para a próxima temporada, intitulada “Stargirl: Frenemies”, e que deve focar na busca de Jade pelo seu irmão. A terceira temporada chegará em 2022, na The CW.
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