Desculpe o transtorno, mas eu precisava fazer isso. Agora já pode relaxar o ombro, alongar o pescoço e retirar o tom de afronte que, possivelmente, isso causou, pois a intenção não é dividir e, sim, equilibrar. Afinal, parcialidade é a alma do negócio.
Logo no primeiro dia do ano, o DCnauta já teve de lidar com aquilo que mais está acostumado: Rumores. Caiu como uma bomba a notícia que o filme The Flash apagará todos os filmes do Universo Cinematográfico da DC, que tiveram a direção do cineasta Zack Snyder. E por que digo que caiu como uma bomba? Pois espalhou os fãs para cada lado, parecendo a cena do cabo de guerra da série Round 6 (façam suas próprias interpretações).
De um lado, fãs que anseiam por essa nova fase da DC nos cinemas e que querem se distanciar cada vez mais da visão sombria – e épica – que os primeiros filmes traziam. De outro, fãs que acham injusto não terem recebido a proposta inicial apresentada pelo estúdio. Mas, antes de nos aprofundarmos nisso, a situação toda teria sido resolvida se os fãs, ao lerem o tal boato, que dizia: “tenho um amigo que viu o filme Flash e ele apagará todos os filmes que Snyder fez”, tivessem feito uma pausa, respirado, inspirado e pensado:
- Um insider.
- Tem um amigo.
- Que viu o filme.
O filme nem pronto está. Ok, a pontuação exagerada, para reflexão, bastaria para o fandom todo cair na risada, subir os créditos com a música “Now, the world don’t move…”, e todos voltarem para suas comemorações de Ano Novo. Mas não foi o que aconteceu.
Mesmo sendo um rumor antigo, e já desmentido em partes, muito acredita-se que Superman (Henry Cavill) e Batman (Ben Affleck) serão definitivamente substituídos pelas heroínas Supergirl (Sasha Calle) e Batgirl (Leslie Grace), na nova formação da Liga da Justiça, que possivelmente será apresentada no filme do Velocista Escarlate. Tirando todo histórico problemático nos bastidores que a Warner possui, uma Trindade Feminina seria interessante pra caramba, não podemos negar. Afinal, se a Beyoncé disse que “quem comanda o mundo são as garotas”, a gente nem questiona.
A grande realidade é que ninguém sabe o que acontecerá nesse filme do Flash, uma vez que o próprio diretor Andy Muschietti confirmou, durante o painel chinês da DC FanDome, que o longa terá muitas surpresas.
Podemos dizer que há surpresas, não podemos revelar quais são. Mas provavelmente vai te surpreender. Quanto menos falarmos sobre isso, melhor. Há entusiasmo por trás das câmeras sobre essas surpresas. É melhor você não as conhecer até vê-las na telona.
E apesar de sabermos quase nada da trama, a produção abordará, finalmente, o multiverso da DC nos cinemas, explorando realidades alternativas. E justamente aí que entra o grande cabo de guerra entre os fãs. Enquanto uns querem a nova DCEU, outros querem mais do Universo criado por Zack Snyder. E cria-se, o então famigerado “nós vs. eles”, que vemos pelas redes sociais.
Eu concordo que existe um lado bem complicado dos fãs que, ao defenderem aquilo que querem, passam do ponto, chegando a desrespeitar (e isso rola muito, em ambos os lados), mas generalizar e dar voz como se estes fossem a maioria, é marginalizar pessoas que só querem ter sua parte do bolo servida, pela sua editora preferida. Logo, todos nós, enquanto fãs, não só podemos, como devemos pedir por aquilo que queremos. Afinal, o fã pode não ser dono, mas com certeza o material gerado pela editora/estúdio é para ele.
Um dos melhores exemplos disso, foi o visual do querido personagem de videogame, Sonic. Quando apresentado ao público, houve uma massiva reclamação sobre sua aparência. O estúdio escutou os fãs e repaginou o personagem. A Paramount errou ao escutar os fãs? Creio que não, o filme foi um sucesso.
Não estou dizendo que a Warner precisa reger suas decisões totalmente pautadas naquilo que o fã quer, mas justamente por ser detentora da DC Comics, uma editora que possui a pluralidade como uma de suas principais características, não custa agradar uma parte do fandom, que realmente é forte e deixou o nome da DC em evidência durante os últimos anos. E, sim, daremos nomes. Estou falando dos fãs da DC que apreciam a visão do diretor Zack Snyder.
Jogar contra um fandom que levanta US$ 500 mil em arrecadações para a Fundação de Prevenção do Suicídio; que tornou Liga da Justiça de Zack Snyder o filme mais comentado de 2021, no Twitter (deixando para trás Homem-Aranha: Sem Volta para Casa); que quebrou recordes de vendas de Blu-ray e aluguéis pelo mundo inteiro, tornando-se assim um declarado fenômeno global, não seria a melhor estratégia a ser adotada.
E, veja bem, não estou aqui dizendo para a Warner trazer o Zack Snyder de volta ao DCEU. É nítido que não existe mais espaço para Snyder dentro desse novo planejamento da DC nos cinemas. Mas é justamente esse novo planejamento que dá abertura a recebermos ambos os materiais e satisfazer todos consumidores.
O filme The Flash abrirá as portas do multiverso e não há razões para que não seja criada uma linha do tempo no estilo Elseworld (muito conhecida nas animações da DC), onde possamos ver o Snyderverse em desenvolvimento. Uma decisão que pode ser tomada como carro-chefe, no streaming HBO Max. Assim, o novo DCEU continua, o SnyderVerse continua, sem um interferir no outro. Assiste quem quer, cada um no seu espaço. Há de convir, seria uma bela maneira da DC dar uma ótima volta por cima, tantos nos cinemas, como no streaming.
E pouco me importa se o DCEU nunca será como a outra editora concorrente, o que importa, como consumidor, é que tenhamos pluralidade na hora da escolha do que queremos consumir e a DC Comics é a única, no momento, capaz de nos dar esse leque de possibilidades. Mas, para isso acontecer, precisará ouvir os fãs.
O futuro CEO, David Zaslav, que assumirá o posto na fusão entre Warner e Discovery, parece ser o tipo de liderança que pensa assim. Zaslav disse que é preciso “lutar todos os dias para criar produtos que os consumidores queiram e nutram, mas que permaneçam relevantes”. E fazendo as contas aqui:
Consumidores que queiram algo e que consumirão? Temos!
Produto que permaneça em relevância? Temos!
Durante o ano inteiro de 2021 e na virada para 2022, foi provado que relevância é sinônimo de Liga da Justiça de Zack Snyder e seu universo. Se David Zaslav aplicará isso dentro da Warner quando assumir o cargo de CEO, só o tempo dirá.
É óbvio que o futuro da DC Comics pode ser promissor. Com uma carta aberta de opções para atender toda a sua gama de fãs, não é difícil obter um resultado positivo. Uma nova DCEU à caminho; um universo à parte de Batman, produzido por Matt Reeves; e um Elseworld para o Snydeverse, parece ser o mapa perfeito para trilhar um novo caminho. Um caminho onde escutam os fãs, sem abrir mão de uma nova estratégia, agradando ao máximo o seu público e colocando, em destaque, como potência plural que a DC Comics sempre foi. Afinal, nunca foi característico da editora ser uma marca de decisões unilaterais e me surpreende quem torce para isso.