Os Jovens Titãs Em Ação Nos Cinemas | Uma bela história sobre aceitação, família, metapiadas e puns

      Em julho de 1964, das páginas da The Brave & The Bold #54, surgia o grupo de heróis mirins Teen Titans, ou Turma Titã na adaptação brasileira da EBAL. Criado por Robin, Aqualad e Kid Flash, a equipe teve a inclusão de muitos heróis ao longo dos anos, assim como relançamentos de sua revista que, vez ou outra, era cancelada. Foi em 1980, com a chegada da genial dupla Marv Wolfman e George Pérez, que os Jovens Titãs se consolidaram como um título sucesso de público e crítica, com histórias maduras e que buscavam dar profundidade a seus personagens e dilemas. Wolfman e Pérez também foram responsáveis pela criação de Estelar, Ravena e Ciborgue e pela inclusão de Mutano na equipe, além de terem consolidado Slade Wilson, o Exterminador, como um inimigo memorável da equipe.⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀

      Não é surpresa que esta formação tenha sido levada para Os Jovens Titãs, um marco do universo animado DC responsável por introduzir os heróis para toda uma nova geração de fãs. E com o sucesso da série animada também não seria difícil de prever que os heróis voltariam, agora em nova abordagem, aproveitando a fase atual dos desenhos animados. Com animação dinâmica, cabeças maiores, corpos menores, nonsense e muito, mas muito mais deboche. Você pode até fazer parte da parcela de espectadores que não gosta de Os Jovens Titãs Em Ação, mas tem que dar o braço a torcer. Hoje, o desenho é um dos principais sucessos do Cartoon Network e comemorou, em 2017, o lançamento de seu episódio 200 (número que nem a série de 2003 conseguiu alcançar). E foi justamente graças a Os Jovens Titãs Em Ação que a equipe, 54 anos depois de sua fundação, chega às telonas com Os Jovens Titãs Em Ação Nos Cinemas, o segundo filme de um desenho do Cartoon Network a ter um lançamento global nos cinemas, sendo o primeiro As Meninas Superpoderosas: O Filme de 2002.⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀

      Em Os Jovens Titãs Em Ação Nos Cinemas acompanhamos a equipe em mais um dia de combate ao crime, quando Jump City é invadida pelo Homem-Balão. Após receberem críticas da Liga da Justiça, os Jovens Titãs percebem que são vistos como uma piada pelos outros heróis e vilões. Quem mais se sensibiliza com a descoberta é Robin, que entende que para ser um herói respeitado precisa que façam um filme sobre si. A partir daí os Titãs embarcam em uma jornada para se tornarem “heróis de verdade” e que irá colocar a equipe em rota de colisão com a maior ameaça que já enfrentaram: Slade! A animação é dirigida por Peter Rida Michail (diretor e produtor de Os Jovens Titãs Em Ação) e Aaron Horvarth (roteirista de Os Jovens Titãs Em Ação e diretor da série animada de Mad), ambos com experiência também como animadores, algo que influencia diretamente na qualidade técnica presente em Os Jovens Titãs Em Ação Nos Cinemas. Horvarth assume o roteiro junto com Michael Jelenic, roteirista responsável por diversos trabalhos no mundo animado DC, como The Batman, Legião dos Super-Heróis, Mulher-Maravilha e Superman/Shazam – além, claro, de Os Jovens Titãs Em Ação.

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      Com 1h24 minutos de duração, Os Jovens Titãs Em Ação Nos Cinemas possui o tempo de cerca de 7 a 8 episódios, mas o filme não é como uma maratona da animação. O trio Michail-Horvarth-Jelenic, por já ter familiaridade com o universo e com os personagens na série regular, pode aproveitar o tempo de duração para criar uma história maior e que justifique uma adaptação cinematográfica. Por mais que tenha sua proposta satírica o filme se leva a sério, sendo ousado o suficiente para competir com comédias de herói em live-action como Deadpool e Thor Ragnarok. E isso apenas mantendo sua essência original, trazida para as telas de cinema e potencializada. Não há nenhuma inventividade em relação ao que já é feito em Os Jovens Titãs Em Ação. As referências escondidas no cenário, as metapiadas, o humor escatológico, a exploração de diferentes linguagens e estilos de animação, a inteligência e o jeito pateta estão todos presentes no filme. Os espectadores que acompanham a série animada sairão satisfeitos, tendo visto lugares e situações nunca explorados no desenho da TV. Já os que nunca assistiram Os Jovens Titãs Em Ação vão se sentir tentados a maratonar a animação – e com certeza vão ficar arrependidos de não ter se dado essa oportunidade antes.

       

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      E os Titãs não desperdiçam seu tão esperado holofote, espalhando piadas a todo instante sobre a DC, a Warner, a Marvel, a Disney, a cultura pop, o universo e tudo o mais. São inúmeras referências, homenagens e surpresas, que não contaremos para não estragar a experiência. O espectador pode ir preparado para se perder em meio a tantas homenagens – e com certeza só depois, com o DVD em mãos e pausando quadro-a-quadro, poderemos encontrar tudo que os animadores colocaram no longa. O humor do filme agradará todas as faixas etárias- mas com certeza os adultos aproveitarão mais a acidez e o sarcasmo dos heróis. Mesmo sabendo que grande parte do seu público será justamente de crianças, Os Jovens Titãs Em Ação Nos Cinemas não perde a chance de fazer piadas mais adultas. Existem 2 grandes cenas no filme que exemplificam isso muito bem, como uma sequência longa de toilet humour que envolve, bom, literalmente, uma privada. Por mais que pareça algo fácil e bem idiota de se fazer, há uma genialidade aqui que brinca com convenções e com a metalinguagem. É um recurso que já foi utilizado por grandes cômicos como Rowan Atkinson e Peter Sellers e em filmes como Débi & Lóide, por exemplo. Há também outra sequência que brinca com o passado notório de alguns super-heróis e que contém piadas de humor negro de arregalar os olhos. Nada que choque as crianças e, como já foi dito, nada que a série animada já não faça – então podem ir sem medo papais e mamães.

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      A qualidade técnica da animação é de encher os olhos, com suas já características cores vibrantes e fluidez cartunesca. Os Jovens Titãs Em Ação Nos Cinemas traz um frescor pros filmes animados da DC pois, tal qual Batman Ninja, apresenta ao público visuais diferentes das produções habituais, que ainda inspiram-se muito na construção de Bruce Timm (e que, por sua vez, inspirou-se na série animada do Superman da Fleischer Studios do início da década de 40). Mesmo que a DC mantenha a boa qualidade em suas animações, é inegável o fato de que parte considerável do público esteja se cansando deste “lugar comum”. E o filme dos Titãs não só diversifica as produções da DC, como também inova dentro de seu próprio visual. É possível notar o cuidado com a profundidade e com as texturas. As transições entre os diferentes estilos de animação, normalmente vistas nos ótimos episódios que têm a participação do Maluco do Controle, aqui são maximizadas e sempre estão reconectando o público, seduzindo-o com novas linguagens – principalmente durante as músicas. Sim, Os Jovens Titãs Em Ação No Cinema é repleto de músicas! A animação flerta com a estrutura dos musicais, e descaradamente brinca com a inserção de canções em filmes infantis. E a música não serve só como ferramenta para prender os pequenos e aumentar o tempo da produção, mas também para deixá-lo mais dinâmico e lançar outras dezenas de homenagens na cara do espectador. Entre elas, podemos destacar o rap da equipe, a música solo do Robin e uma canção positivista cantada por um tigre descolado, dublado na versão original por Michael Bolton. Além das canções, também temos um harmonioso trabalho de som e trilha, que incluem diversas releituras dos temas e músicas das animações dos Titãs, tanto a de 2003 como Teen Titans Go!

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      A dublagem de Os Jovens Titãs Em Ação Nos Cinemas merece um destaque especial – a original e brasileira. O acerto de manter as vozes dos dubladores dos personagens, de ambas versões, é um sinal de respeito com o público. Greg Cipes, Scott Menville, Tara Strong, Khary Payton e Hynden Walch assumem o quinteto americano; e Manolo Rey, Charles Emmanuel, Luiza Palomanes, Mariana Torres e Eduardo Borgherti continuam dando suas vozes marcantes para os personagens, que nos acompanham há tantos anos. Will Arnett experimenta o outro lado da moeda: do não-tão-heróico Batman Lego para o não-tão-vilanesco Slade. Uma excelente dinâmica nasce entre os Titãs e o vilão, um acerto do roteiro em construir um Slade que se mostrasse como uma ameaça real mas que fosse tão ridículo e divertido quanto seus arqui-inimigos. Isso também só é possivel graças ao excelente e divertido trabalho de Arnett e do dublador Ricardo Schnetzer. Outros grandes nomes participam da versão americana, como Kristen Bell, Tom Kenny, Patton Oswalt, Jimmy Kimmel, James CordenWil Wheaton e… Nicolas Cage, finalmente no seu tão desejado e merecido papel de Superman.

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      Enfim…

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      Os Jovens Titãs Em Ação Nos Cinemas é uma bela história sobre aceitação, família, metapiadas e puns. O filme acerta ao trazer toda energia da série animada e aproveitar seu tempo de duração maior, construindo una história realmente maior e melhor. Os Jovens Titãs levam o humor a sério – e entregam um filme que merece ser tratado com a mesma seriedade. Qualidade técnica impecável, piadas inteligentes, dublagens perfeitas… Quem diria que Os Jovens Titãs seria uma das melhores animações da DC e um dos melhores filmes de herói dos últimos tempos? Bom, qualquer um que já tenha assistido a série animada. Se Os Jovens Titãs Em Ação Nos Cinemas acaba fazendo justiça ao entregar um filme para o Garoto-Prodígio, também vale a pena conferir o desenho da equipe. Tudo que você assistir no cinema está lá. É hora de ser justo: Os Jovens Titãs Em Ação é uma ótima animação. Só relaxe, assista o desenho, solte aquele punzão de responsa e se diverta.

      Em tempo: não chegue atrasado e não saia do cinema quando os créditos subirem! Antes do filme começar, será exibido um curta fofíssimo da Batgirl. E no fim do filme tem uma cena pós-créditos que… bom, é melhor você conferir com seus próprios olhos.

      Rodolfo Chagashttps://terraverso.com.br
      Sou daqueles que saía correndo na saída da escola pra almoçar assistindo Liga da Justiça. Daqueles que juntava o troco do pão pra comprar gibi no sebo. Feliz de viver na melhor época pra ser nerd. Sem editorismo, amai-vos uns aos outros! A alvorada dos heróis ainda vai durar por muitos anos! Que Snydeus seja louvado e que Stan Lee viva pra sempre!

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