Dia da Consciência Negra: Paralelos entre bell hooks e a Milestone Media

      O Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de Novembro, é uma oportunidade para refletir sobre a história e a luta do povo preto no Brasil.

      Estava aqui pensando sobre escrever algo em alusão à data para trazer aos leitores, não somente pela data em si, mas também pelo compromisso enquanto um redator preto e fã de super-heróis.

      Poderia falar sobre o histórico do dia 20 de Novembro e sobre origem do Dia da Consciência Negra, mas acredito que esta celebração não se restringe apenas a olhar para o passado, mas também ressalta a importância da representatividade no presente. Fazendo um link com a DC, gostaria de destacar que ter heróis negros na ficção é algo fundamental, já que isso desafia estereótipos e contribui para a construção de uma sociedade mais inclusiva. Personagens pretos, por exemplo, não só enriquecem as narrativas, mas também proporcionam modelos positivos para crianças e jovens negros, promovendo a autoestima e inspirando sonhos mais amplos.

      Falando sobre desafiar estereótipos, acabei me recordando de um conceito da teórica bell hooks (1952- 2021), chamado de AUTODEFINIÇÃO, que explicarei mais adiante. Primeiramente, como sempre afirmo, a ficção é uma ferramenta poderosa para desconstruir preconceitos e promover a valorização e a diversidade, tal ferramenta pode ser usada para contribuir na a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

      O conceito de autodefinição, para bell hooks, está intrinsecamente ligado à sua crítica das estruturas opressivas e à busca pela libertação pessoal. Ela defende a importância de as pessoas definirem a si mesmas, de se autodefinirem, em vez de serem definidas por narrativas dominantes que muitas vezes perpetuam estereótipos e limitam as possibilidades de autenticidade e realização.

      bell hooks

      hooks argumenta que a sociedade frequentemente impõe imagens pré-concebidas sobre grupos de pessoas com base em categorias como raça, gênero e classe, e isso pode limitar a forma como as pessoas se veem e como são vistas pelos outros. Ao reivindicar a autodefinição, ela incentiva os indivíduos a se reconhecerem para além dessas categorias predefinidas, a rejeitar estereótipos e a construir identidades que reflitam suas experiências únicas e complexas.

      Ao adotar o conceito de autodefinição, bell hooks acaba destacando a importância do empoderamento individual e coletivo. Ela defende que, ao se autodefinirem, as pessoas podem resistir às formas de opressão, encontrar sua própria voz e agir para transformar as estruturas sociais injustas. Essa abordagem é parte integrante de sua visão mais ampla de justiça social, que vai além da igualdade superficial para reconhecer e abordar as complexas intersecções de poder que moldam as vidas das pessoas. MAS O QUE ISSO TEM A VER COM A DC?

      Acredito que vocês estejam familiarizados com a Milestone Media, que foi fundada em 1993 pelas mãos de artistas e escritores afro-americanos, sendo eles: Dwayne McDuffieDenys CowanMichael Davis e Derek T. Dingle, eles acreditavam que as minorias eram severamente sub-representadas nos quadrinhos americanos, a Milestone Media foi a tentativa deles de corrigir esse desequilíbrio.

      Todos os títulos da Milestone faziam parte do mesmo universo, separados do Universo DC principal. A maioria estava ambientada na cidade fictícia do Meio-Oeste chamada Dakota; o universo da Milestone é  referido como Dakotaverso e conta com personagens como: Ícone, Rocket, Hardware e Super Choque (talvez o mais famoso deles).  

      Voltando ao conceito de Autodefinição, bell hooks acreditava que pessoas pretas deveriam assumir as narrativas de suas histórias para evitar a perpetuação de estereótipos e imagens negativas, correto? Se traçarmos um paralelo com a Milestone, nós veremos pessoas pretas assumindo o compromisso de criar histórias sobre seu povo e sua cultura, logo, podemos afirmar que a Milestone Media é um exemplo concreto de como a Autodefinição pode ser utilizada para que nós criemos nossas próprias narrativas e desafiemos imagens negativas vigentes.

      NOSSAS HISTÓRIAS EXISTEM, ENTÃO QUE NÓS MESMOS AS CONTEMOS!

      Lucas Nunes
      Sou publicitário, mestre e doutor em comunicação e alguém apaixonado pelo mundo nerd.

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