Era uma vez o Superman, o maior de todos heróis, pai de todos, super força, raios pelos olhos, etc. Por trás dessa figura messiânica, dois imigrantes que não foram nada discretos em fazer o Super a imagem de Cristo.
Assim como seus criadores (Jerry Siegel e Joe Shuster), o Superman é um imigrante. Kal-el é obrigado a ir para outro planeta (país) em busca de uma vida melhor ou numa tentativa de sobrevivência. Aprende a amar o seu novo lar e a usar os seus poderes para protegê-lo. Como imigrante, o Homem de Aço se encaixa nas minorias que são desprivilegiadas e que sofrem preconceito. Não é uma questão de opinião, é simplesmente um fato. A compaixão que o Azulão possui pela humanidade é um reflexo perfeito do conceito cristão, do amor refletido em Cristo, vide os criadores do Superman que eram judeus.
Nos quadrinhos, o Superman ganhou novas interpretações incluindo algumas em que ele é negro. Calvin Ellis é o herói da Terra 23. Bastante semelhante a história original do Superman Clark Kent, se diferenciando apenas por ser negro e acabar se tornando o presidente dos EUA. Val-Zod é o protetor da Terra 2 e possui uma história um pouco diferente. Ele foi enviado à terra junto com Kal-el e Kara.
Nas HQ’s nada é imutável. Por ser uma mídia com um custo relativamente barato, é comum que a imaginação seja liberada e versões alternativas são criadas a rodo. O cinema é totalmente o oposto. Com orçamentos cada vez mais milionários, os estúdios tendem a evitar cometer erros. Não é à toa que tantos heróis nos cinemas sejam parecidos entre si. Os rumores em torno de um Superman negro foram aumentando e segundo o THR, o roteiro do filme já está em produção e um diretor pode ser anunciado em breve. Ainda não sabemos se esse filme vai substituir o Superman de Henry Cavill ou se passa em algum outro universo, o que não impediu as mais diversas reações dos fãs.
Alguns amaram a ideia, seja pela profundidade do personagem ou pela representatividade, mas outros simplesmente odiaram. Um de nossos leitores comentou que “Pantera Negra e Wakanda ficam para outro lado”, outro ainda sugeriu de forma irônica que a trama do filme “não importa desde que o Superman e o diretor sejam negros.”.
Não é a primeira e nem a última vez que vemos comentários assim quando personagens negros são colocados em pauta para filmes. Quando o elenco de ‘The Batman’ foi anunciado, alguns fãs questionaram a tal da caracterização do personagem pelos atores que interpretarão James Gordon (Jeffrey Wright) e a Mulher-Gato (Zoë Kravitz) serem negros. O problema para alguns é que isso não condiz com os quadrinhos, mas esquecem que para esses personagens o que importa são suas ações e elas não estão ligadas a sua etnia.
James Gordon não é um policial honesto porque é branco e da mesma forma, a Mulher-Gato não é uma ladra por conta da sua cor de pele. Assim, não importa quais os atores interpretem esses personagens se eles captam a essência dos personagens que independem a sua etnia.
Quando falamos sobre um filme de um Superman negro, precisamos refletir sobre o que isso pode significar e considerar que pode existir alguns pontos negativos. Um outro Superman anularia o do Henry Cavill ou seria de outro universo? Se for a primeira opção, seria um erro. Cavill ama o personagem e exala facilmente o Super, sem contar que teve pouco tempo de tela para ter a sua história como foco principal – apenas um filme solo.
Um outro porém é a confusão que isso pode gerar no grande público. Ter vários personagens ao mesmo tempo no cinema sendo interpretados por atores diferentes pode gerar uma grande confusão no público e um possível desinteresse. Precisamos nos lembrar que esses filmes são feitos para agradar ao máximo de pessoas possíveis e não somente para o pequeno grupo que realmente conhece os personagens e compreende o conceito de multiverso.
Mas, imaginemos que os planos da Warner sejam semelhantes ao do Coringa. Um filme independente dos demais, fechado, com direito a liberdade para roteiristas e diretor. Que história maravilhosa poderia surgir de um Superman negro em tempos onde o racismo virou “opinião”. Acompanhamos isso na série Watchmen da HBO, com uma história profunda sobre extremismo e racismo.
Um filme com um personagem desses, com certeza traria uma grande originalidade e temas raros e bem necessários. Além do mais, nada caracterizaria mais o Superman do que um personagem que luta a favor de minorias e produz esperança, não só no mundo fictício como também no real. Um longa do Superman negro pode ser questionado por diversos motivos e é válido um certo temor por parte dos fãs, visto que a Warner aparenta uma certa confusão para estabelecer o seu universo cinematográfico, mas, em hipótese alguma, o filme deve ser questionado pela etnia do personagem.
O Superman pode ser negro, asiático, gay, mulher, etc. Nada disso ofenderia a imagem do maior herói de todos os tempos. A sua maior característica, a capacidade de dar esperança para aqueles que não possuem, independe da sua origem ou qualquer atributo. Quem realmente ama o personagem ficará contente se quando olhar para os céus nas telonas, encontrar alguém em quem se espelhar e poder sonhar com um mundo melhor. Nunca precisamos tanto disso como agora.
PS. A DC bem que poderia fazer um Superman brasileiro, com certeza não precisaria grandes esforços para os roteiristas pensarem em quem seria o vilão.