Neste mês de Bienal e da censura do prefeito do Rio de Janeiro com um beijo gay entre dois personagens em uma história em quadrinhos da Marvel, é de imensa importância falarmos sobre um dos casais mais conhecidos das HQ’s no meu primeiro textinho aqui no Terraverso. Começo falando do meu casal favorito dos quadrinhos porque essas mulheres incríveis têm muita história desde os anos 90 e sim, vamos falar da Harley e da Pamela Isley, nossa querida Hera Venenosa. Nem sempre tudo foram flores e essas personagens tiveram uma evolução maravilhosa nos últimos anos. Se você não conhece a história delas juntas e do desenvolvimento ao longo do tempo, vem cá que o Terraverso te explica direitinho.
A ORIGEM
Tudo começou em 1993, durante a série animada chamada “Batman: A Série Animada” no episódio #56. Nesse episódio é apresentado ao público o começo de uma parceria que duraria muitos e muitos anos, tornando-se um episódio clássico para quem é fã da Harley de carteirinha.
O episódio basicamente se passa com Harley indo roubar um diamante do Museu de Gotham, e por obra do destino ou dos roteiristas a Ivy também estava tentando roubar toxinas por ali, então automaticamente as duas viram amigas. Nesse mesmo ato, a Ivy injeta um soro na Harley que deixa ela imune a qualquer tipo de toxinas e venenos, isso já faz a gente observar o companheirismo e cuidado que a Hera sempre teve com a Harley, principalmente em relação ao Coringa, já que desde os anos 90 ela tentava desvincular a sua então amiga daquele relacionamento abusivo que todos já conhecem.
Agora que já conhecemos o início, vamos falar de algo importante na história das duas… a evolução e o relacionamento.
O RELACIONAMENTO
Em 1998, é lançada por Paul Dini e Rick Burchett a edição “Batgirl Adventures”. Nessa HQ algo específico chama a atenção dos fãs; Quando em uma conversa, a Batgirl quer saber qual o tipo de “amizade” da Harley e da Ivy, já deixando subentendido, o que sempre foi notável desde quando as personagens foram criadas. E esse foi um dos momentos essenciais para que se intensifique uma história muito interessante das personagens que saiu da cabeça dos fãs para se confirmar nos quadrinhos.
A DC viu como uma possibilidade nos anos posteriores de mostrar um lado mais humano da Harley, utilizando uma das poucas coisas que ela realmente ama de verdade, a própria Hera. O aspecto romântico entrou no momento certo há muito tempo como “mensagens subliminares” e vem evoluindo até hoje nas obras, se tornando um relacionamento em algumas edições como poligâmico e em outras monogâmico. A editora tenta não perder a característica de melhores amigas que as duas personagens têm e isso se desenvolve da maneira correta, com a Ivy ajudando a Harley nos momentos de dificuldade e tentando livra-la de um relacionamento que a corrompeu por muitos anos nesse universo.
Antes era só algo que os fãs achavam devido as declarações de ambas personagens nos quadrinhos, até a confirmação vir da própria editora com o lançamento de Harley #15 e então, não dava mais para disfarçar. A DC Comics publicou em seu twitter a confirmação do relacionamento das duas ressaltando que elas tem um relacionamento sem o ciúmes monogâmico, algo que define as personagens muito bem.
A notícia não chocou muito os fãs, que já desconfiavam de toda essa situação, e o próprio Paul Dini e o Bruce Timm quiseram desenvolver a relação das duas, mas escolheram deixar subentendido por um tempo. Só em 2015, foi confirmado toda essa relação maravilhosa que as duas tiveram ao longo dos anos. A gente observa que a DC espera a Arlequina se desconstruir do Coringa, espera uma mudança com o tempo e a personagem vem se firmando dentro do universo dos quadrinhos, para poder introduzir de verdade o relacionamento das duas em algo futuramente também monogâmico e mais direto, já que até em um arco recente as personagens se casam em Las Vegas, na edição #70 da saga prequel aos acontecimentos do game Injustice 2. Onde Hera conta que ela e a Harley se casaram em Vegas.
É visto então que o Coringa foi uma pessoa importante na vida da Harley nas HQ’s, muito mais de forma negativa do que positiva, já que bastante da sua personalidade foi moldada pelo Palhaço, algo que a DC vem tentando desconstruir com o passar dos anos, e a Hera, foi essencial para o crescimento da personagem. O que ajudou a mesma a se destacar mais ainda nas edições e ganhar um arco solo pelo seu jeito sério e contrário da Harley, com todo o seu cuidado com a natureza e proteção ao meio-ambiente.
Atualmente nos quadrinhos, muitos consideram as personagens mais como “anti-heroínas” do que vilãs, já que em muitos arcos a DC levou a aposta de mostrar ao leitor um lado mais humano e admirável da Harley, com as pessoas e coisas que ela ama, sem perder o foco e a personalidade da personagem que vem conquistando o coração de cada vez mais pessoas no cinema e nos quadrinhos, mostrando assim, que o Universo da DC Comics está sempre propenso a mudanças e fases de cada personagem.
POR FIM, O OUTRO LADO QUE PRECISAMOS SABER!
Em 2007, Paul Dini, Bruce Timm e Judd Winick lançam uma edição dividida em 3 partes chamada “Batman Harley and Ivy” onde vemos uma HQ com muitas cores, lembrando bastante a animação dos anos 90, algo que agradou muitos fãs. Porém, essa edição gera muita controvérsia até hoje, sobre como esse relacionamento foi desenvolvido, e muitos usam o argumento de que a Hera é tão tóxica quanto o Coringa nesse quadrinho. Para compreender um pouco dessa polêmica, explico brevemente do que se trata essa edição, que visualmente muito bonita, mas não nem de perto uma das minhas favoritas.
Nessa HQ vamos ter uma Hera um pouco diferente do que somos acostumados hoje em dia, ela aborda Harley e Ivy em muitas aventuras, se metendo em problemas como já estamos acostumados, porém, sem uma Ivy cuidadosa e amorosa com a Harley. Na história, ela continua uma mulher séria e mais fechada que a Quinn, o que torna as situações engraçadas ao longo da trama, mas incomoda quem se acostumou com as versões recentes da personagem, pois a Pamela está sem um ponto principal no relacionamento das duas: a proteção.
Escolho mostrar para vocês 2 momentos da edição que não condiz com o que vemos hoje, provando como a editora com o passar dos anos, vem se edificando e melhorando o tratamento com a Harley, valorizando o fato que a personagem tem sentimentos e merece alguém que se importe e cuide dela
- Em muitos momentos da trama, a Ivy se imagina matando a Harley por conta da personagem ter cometidos erros atrapalhados, como por exemplo, maltratar uma planta para poder salva-las do perigo, isso causa um excesso de raiva fazendo com que ela tente se livrar da Harley, e ter pensamentos absurdos.
- Para muitos, esses momentos foram um grande erro ao longo da HQ, pois a Pamela tem um sonho ruim com a Harley e acaba a agredindo. Isso lembra a vocês um personagem específico? Pois é…
Esse trabalho visualmente lindo do Bruce Timm, gera muitas controvérsias mas algo é fato: A DC melhorou no tratamento da personagem, e a maioria dos arcos atuais tratam a Ivy como o que ela realmente é, amiga da Harley que faz de tudo para sua melhora pessoal, sempre a protegendo e cuidando, algo que nesse quadrinho em específico não acontece como um todo.
A ideia de uma relação saudável entre duas mulheres que sempre foram amigas foi só evoluindo com o passar do tempo, a Ivy surgiu de volta na vida da Harley no momento certo, em uma fase que as pessoas não admiravam e nem achavam tão engraçado o relacionamento dela com o Coringa como antes. A nossa rainha das plantas não surgiu na vida da personagem para “tapar buraco”, surgiu para desenvolver algo que desde os anos 90 estava planejado pelos criadores. É importante frisar que essa HQ não é a favorita de muitas pessoas, apesar de amarem o trabalho do Bruce Timm e do Paul Dini nesta obra e os autores as conhecerem muito bem, mas realmente os tempos mudaram.
Os arcos dos Novos 52 e Renascimento da Harley estão cheios de conteúdo que nos apresentam a verdadeira personagem que a DC aposta agora, a verdadeira relação que a atriz Margot Robbie já deixou claro que quer ver nas telonas em entrevistas, que é da amizade e o relacionamento verdadeiramente romântico. Com isso, concluo que apenas um arco não define toda situação de personagens que tem se adaptado e evoluindo cada dia mais com autores diferentes que buscam compreender a relação, e adaptar para o seu jeito de ver as duas, respeitando a personalidade individual. Sendo assim, Arlequina e Hera Venenosa é o casal com uma das maiores trajetórias da DC, com bastantes pontos positivos e representatividade LGBT no universo dos quadrinhos, onde as duas personagens atualmente se respeitam e a na maioria das vezes, sempre se salvam, mantendo além de um relacionamento romântico, acima de tudo uma amizade respeitosa.
Com essas personagens cada vez mais exploradas nas HQs, neste mês de Setembro estreou uma nova série das duas pós eventos da saga “Heróis em Crise” do Tom King, com também o anúncio de uma série animada da Arlequina que conta com a presença da Hera acompanhando a protagonista.
“Harley Quinn (Arlequina: Série Animada)” estreia dia 23 desse mês no streaming DC Universe.