Baseada nos quadrinhos premiados da DC Comics, escritos por Neil Gaiman, The Sandman é uma obra de literatura fantástica, cheia de fantasia, mistérios e magia. Na série Tom Sturridge é Morpheus, o mestre moldador, Sonho dos Perpétuos, a personificação antropomórfica dos sonhos, e é ele quem dá forma aos nossos medos e fantasias mais profundos. Mas quando Sonho é capturado de forma inesperada e feito prisioneiro por um século, sua ausência desencadeia uma série de incidentes que mudarão para sempre o Sonhar e o mundo desperto. Para restabelecer a ordem, Sonho precisa encarar uma jornada por diferentes mundos e tempos e reparar os erros que cometeu durante sua vasta existência, revisitando velhos amigos e inimigos, e conhecendo novas entidades cósmicas e humanas.
O que esperar de The Sandman uma adaptação Netflix.
Compreender e aceitar uma adaptação parece ser uma tarefa muito difícil para alguém que respira os quadrinhos, a primeiro momento pode causar um leve desconforto, por ver algumas coisas fora do que consideramos “certo” como por exemplo o personagem que é apresentado como o grande antagonista da série que aparece fora do tempo esperado. Mas logo nos deixamos levar pela narrativa que nos abraça e vemos a influência do próprio autor em cada momento que se desdobra.
A imersão na narrativa pode ser creditada em grande parte a escolha de elenco. Todos os atores escolhidos passam a essência dos personagens, não se trata de maquiagem, figurino, ou características físicas, mas sim de postura, trejeitos, olhar, mesmo que de soslaio que personifica o que estava nos quadrinhos e finalmente vemos as histórias que tanto lemos ganharem vida. E uma surpresa muito boa é a adaptação Johanna Constantine, interpretada por Jenna Coleman, que ao mesmo tempo que se distancia do que conhecemos, entrega um personagem original mantendo o que é necessário para vermos nela os problemas do Constantine que já conhecemos e proporcionar um dos grandes momentos da série.
A introdução da série é muito bonita, e o CGI foi bem aplicado, por se tratar de história fantástica o recurso se faz muito necessário, e abusar dele normalmente deixa o expectador saturado, porem os efeitos foram bem dosados, nos dá a sensação de peso e profundidade. O Sonhar, reino/domínio de Sonho dos Perpétuos não teria como não ser adaptado em CGI, afinal, é um reino feito de sonhos, com paisagem, personagens, criaturas que só existem na imaginação, e as constantes mudanças de paisagem tornariam impraticáveis construção de um cenário tão rico. Ainda assim é utilizada a visão do artista, que une outras técnicas de animação e efeitos para tornar a experiência ainda mais insana e divertida.
Merv, o zelador de cabeça de abóbora é animado com uma técnica que lembra stop motion e a voz do personagem é do ator Mark Hamill, que além de ter sido consagrado como Luke Skywalker é um grande dublador, em sua carreira dublou personagens como o Coringa (DC) , Duende Verde (Marvel) e Senhor do Fogo Ozai (Avatar: A lenda de Aang).
Toda adaptação pode e deve sofrer mudanças na história original, tanto por se preocupar em agradar um público que pode não ser consumidor de quadrinhos, como também por não ficar tão bem em tela o que vemos nas páginas. E esse é um dos pontos levantados pelo próprio Gaiman, que em entrevista declarou que a aparência do Sandman está mais humana para que não parecesse com um cosplay, “[…]nos quadrinhos ele é um desenho composto por linhas e nós queríamos fugir de alguém que estivesse fazendo cosplay de Morpheus na San Diego Comic Com, queríamos alguém que parecesse o mestre dos Sonhos”.
Ainda assim podemos ver o Mestre do Sonhar em determinados momentos com características própria dos quadrinhos, e isso se estende ao demais personagens, que beira a um “fanservice” e muito bem servido. E um dos pontos que tornam as histórias do Gaiman tão ricas, que é utilizar personagens de segundo plano ou que caíram no ostracismo se virou contra a adaptação para série, e alguns desses personagens que aparecem na história original infelizmente não são usados, seja por questões legais ou por não ter se encaixado devido algumas mudanças da história.
É inegável o carinho que foi colocado na produção da série. Cenários, a caracterização dos Perpétuos e os demais personagens, história, foi todo pensado em quem conhece e quem ainda vai conhecer respeitando pontos cruciais. A série começa como nos quadrinhos, com Sonho sendo aprisionado pela “Ordem dos Mistérios Antigos”. Quando lemos a história e vemos Sonho ser aprisionado não entendemos bem como aquilo foi possível, afinal, ele é um ser tão poderoso, o que o deixou tão fraco para que um feitiço, que se quer era destinado a ele, pudesse aprisiona-lo? Não incomoda tanto quando lemos porque é algo que vamos colhendo informações durante a leitura, e esse fato em especifico só foi explicado totalmente dezessete anos depois do final dos quadrinhos regulares em “Sandman – Overture”.
A série seguiu um caminho diferente dando um outro rumo que provavelmente não abordará futuramente os acontecimentos de Overture, o que acaba não convencendo muito os mais aficionados e presos a praticidade, mas logo deixamos de lado essas convenções e imergimos na história e somos levados do inferno a reinos de fantasia e tantos outros destinos que somente poderiam ter saído de sonhos.
É um prazer redescobrir Sandman através da série. Pode ser um Delírio meu, mas se Desejo pudesse me conceder uma pequena graça, desejaria esquecer que li, e ter o prazer de conhecer novamente e ler como se fosse a primeira vez após assisti-la.
The Sandman já está disponível na Netflix. Com desenvolvimento e produção executiva do autor Neil Gaiman, do showrunner Allan Heinberg e de David S. Goyer, Sandman também conta um elenco de peso: Boyd Holbrook, Patton Oswalt, Vivienne Acheampong, Gwendoline Christie, Charles Dance, Jenna Coleman, David Thewlis, Stephen Fry, Kirby Howell-Baptiste, Mason Alexander Park, Donna Preston, Vanesu Samunyai (anteriormente conhecida como Kyo Ra), John Cameron Mitchell, Asim Chaudhry, Sanjeev Bhaskar, Joely Richardson, Niamh Walsh, Sandra James-Young e Razane Jammal.