Parem as máquinas o Superman beija.
Yes, aquele azulão com cueca por cima da calça, ops, isso também mudou. Aquele cara boa praça amigo de todos e assim como o da vizinhança, aquele que sempre teve um par romântico. Sim, senhoras e senhores este ser supremo, ele beija.
Bem, agora ele também beija homens.
Jon Kent, filho de Clark Kent e Lois Lane é o novo Superman do Multiverso DC a partir da edição Son of Kal-El, onde o protagonista será bissexual e namorará seu colega repórter, Jay Nakamura. Tudo normal não é? Um herói vai ter um par romântico, dar uns beijinhos super de boa e kriptonita pra lá kriptonita pra cá, enfim. Deveria ser tranquilo, mas os preconceituosos não reagem bem ao amor.
O filho do Presidente da República, Deputado Federal, Eduardo Bolsonaro ficou irritadinho e postou nas redes sociais: “Chegou o dia em que é obrigatório! Para ser aprovado pelo establishment midiático é preciso pagar um pedágio, eles querem decidir por você e ditar o monopólio das virtudes. Vários desses super-heróis inspiram adolescentes e crianças. Mas o problema é o garoto de policial, né?”
Para o deputado, atualmente existe uma obrigatoriedade para representar personagens que sempre ficaram de escanteio. Seria maravilhoso se fosse verdade. Vamos lembrar, quantas vezes vimos o Superman beijando a Lois Lane? Quantas vezes alguém questionou isso? Quantos inúmeros casais héteros existem no mundo dos quadrinhos e sempre, sempre convivemos com isso?
Existiu sempre uma obrigatoriedade de personagens héteros nos quadrinhos, assim como a falta de personagens negros ou mulheres sendo usadas como artifício sexual, personagens LGBTQIA+ escassos ou totalmente caricatos. Sempre vimos isso e o foco dos quadrinhos é o público infanto/juvenil no geral. Óbvio que não houve nenhum problema nessas retratações que pudesse influenciar negativamente crianças e adolescentes não é Eduardo?
O homem de 37 anos, vulgo Eduardo Bolsonaro, seguiu argumentando na publicação: “A intenção não é democratizar os super-heróis ou tornar o mundo + tolerante, é o contrário: destruir a masculinidade dos mais tolerantes para dominar estes cordeiros e instigar o ódio nos resistentes para poder acusá-los de homofóbicos e depois a esquerda se dizer protetora dos gays”.
Pausa para respirar de novo (eu preciso).
“A intenção não é democratizar os super-heróis.” Isso deveria ser naturalmente o básico. Heróis deveriam ser democráticos ao ponto de representar todo mundo. Vamos repetir, T-O-D-O M-U-N-D-O. Pode parecer novidade para os preconceituosos, mas existem jovens (seguindo a linha de que quadrinhos são para eles) que não são hétero, cis, branco, homem.
Ainda pode parecer novidade para alguns, mas o mundo é diverso e quem lê quadrinho também. Entretanto, o dinheiro que paga o quadrinho é igual. Se eu homem gay quero ler um quadrinho do Superman, vou pagar o mesmo valor que meu amigo hétero Will vai pagar. Nunca houve desconto para mim quando sempre existiu uma obrigatoriedade de personagens héteros. Ainda não me contaram que existe um vale para eu poder trocar a minha suada grana que gastei com romances héteros por histórias bem contadas de personagens LGBTQIA +.
E sobre “destruir a masculinidade dos mais tolerantes para dominar estes cordeiros e instigar o ódio nos resistentes para poder acusá-los de homofóbicos”, é difícil até de ler, eu sei, mas o processo de masculinidade é algo tão tóxico e ao mesmo tempo tão mal compreendido, que um homem de 37 anos, está berrando aos quatro cantos sobre um personagem que nem existe no mundo real.
Homens, em geral, são mal criados. Seja pelos seus próprios pais e pessoas próximas ou pela própria sociedade. Crescemos achando que o mundo é nosso e todos devem nos servir. Os quadrinhos recriaram isso por décadas. Eram histórias escritas por homens (em sua maioria) que se sentiam rejeitados pela sociedade e que nunca ouviram falar de terapia. Esses homens impunham nas páginas toda a sua visão de mundo deturpada.
A criança/adolescente lia aquilo e achava normal mulheres sendo representadas apenas como peito e bundas e você, o protagonista, porque era assim que você deveria se sentir ao ler, o todo poderoso fod**. Assim foi se criando por muito tempo o machismo, o preconceito e todo esse lado podre que existe nesse meio tanto quanto existe na sociedade.
Não é surpreendente que um homem branco hétero cheio de privilégios se sinta tão incomodado com algo que não se assemelhe a ele. O mundo não foi projetado para que ele saia do palco porque o palco é dele. Agora, sinto informar a todos os preconceituosos que o palco mudou. O Superman é bi! e escrevo gritando, porque é preciso. A todos os que tem ódio no coração, o Super representa esperança e a nossa esperança é que ele vai beijar muitas bocas.
Pausa para ofender o conservadorismo. Bocas masculinas e femininas. Viva Adão e Ivo!
O roteirista Tom Taylor disse sobre o quadrinho:
“Não é um truque para chamar a atenção. Quando me ofereceram este trabalho, pensei: ‘Bom, se é para termos um novo Superman, seria uma chance desperdiçada imaginá-lo como outro salvador branco e heterossexual’. Sempre disse que todo mundo precisa de heróis, e que todo mundo precisa ver a si mesmo nos seus heróis. O símbolo do Superman sempre se levantou em defesa da esperança, da verdade e da justiça. Hoje este símbolo representa algo além. Hoje, mais pessoas podem se ver refletidas no super-herói mais poderoso das HQs.”.
Se você é fã de quadrinhos como eu, sabe que o que mais importa não é a sexualidade de um personagem e que isso não impede em nada a história. O que importa é que a história seja bem contada, tenha um bom roteiro. Se você é preconceituoso como o Eduardo, não leia mais quadrinhos.
Todos realmente precisamos de heróis. Todos. Agora, mais do que nunca, o Super voou alto aos céus, onde o preconceito será destruído igual o Zod enquanto o nerd preconceituoso grita: NÃOOOOOOOOOO!