Sendo um dos maiores símbolos de heroísmo da Cultura Pop e estabelecendo características e trejeitos para todo um gênero, quando o Superman chegou as telas de cinema em 1978, na pele do carismático Christopher Reeve, o personagem marcou mais uma vez a história fazendo o mundo acreditar que era possível um homem voar. Com o passar dos anos, infelizmente, a franquia acabou se esvaindo até chegar em seu derradeiro fim em 1987, no filme “Superman IV – Em Busca da Paz”. Entretanto, o herói nunca saiu do imaginário popular, ansiando por um retorno triunfal, que só pode ser possível em 2006, quando Brandon Routh herdou o manto.
Demorou cerca de 19 anos para que Hollywood trouxesse o escoteiro encapuzado de volta as telas, em uma jornada muito exaustiva, mostrando que o estúdio não sabia ao certo como trabalhar com a mitologia do personagem. Nesse meio tempo, outras investidas com o Homem de Aço foram feitas para a TV, como foi o caso de Smallville. Porém, o personagem permanecia sendo uma marca importante demais para se manter reclusa apenas nesse formato.
O início dos anos 2000 foram o momento de renascimento para o gênero de super-heróis, com produções surgindo pontualmente, mas se mostrando como uma nova tendência de marcado bastante lucrativa para os estúdios. A Warner há muitos anos já tinha planos para o retorno do herói, o que resultou em um número bastante variado e singular de projetos do Superman, aonde certas liberdades criativas haviam sendo tomadas, podendo ser consideradas mais como reinterpretações do que adaptações. Algumas dessas produções até chegaram a começar a desenvolver um corpo, mas foram rapidamente descartadas, muito por conta de divergências internas.
Após uma longa jornada de 12 anos de tentativas falhas e tentativas com 3 diretores diferentes, o filme do Superman estava finalmente de volta aos trilhos. Para comandar o projeto, a Warner contratou o diretor Bryan Singer, que já havia emplacado sucessos como X-Men – O Filme (2000) e X-Men 2 (2003). Singer planejou a produção como sendo uma continuação espiritual dos dois primeiros filmes estrelado por Reeve, rejeitando qualquer ideia que fugisse do material original e fazendo questão de retomar alguns elementos clássicos, como a trilha sonora composta por John Williams.
Com o roteiro pronto, foram escolhidos os nomes que estrelariam a produção. Para encarnar a nova versão do Homem de Aço foi escolhido o ator estadunidense Brandon Routh, que conquistou Singer graças a familiar semelhança com Reeve e seu jeito desengonçado e doce, ao melhor estilo Clark Kent. Kate Bosworth foi escolhida para interpretar a destemida jornalista Lois Lane e, por fim, Kevin Spacey seria responsável por dar vida ao grande antagonista do filme, Lex Luthor.
O filme possui uma atmosfera saudosista e melancólica, mas sem nunca abrir mão do espírito esperançoso do personagem. Na trama, vemos um mundo que ficou 5 anos sem a presença do Superman, que viajou para o espaço com a intenção de encontra os destroços de seu planeta natal e, de alguma forma, estabelecer uma conexão mais forte com o seu passado. Ao retornar para casa, e ser recebido por uma amorosa Martha Kent (Eva Marie Saint), Kal-El se mostra reflexivo, se conectando a sua velha vida aos poucos, preferindo olhar para o horizonte em vez de se afogar em remorso, olhando para a vastidão da Fazendo dos Kent e se recordando do seu primeiro voo.
Apesar de recriar certos momentos chaves, Singer não perde tempo recontando a origem do herói, já pressupondo o conhecimento básico do público com a história, mostrando um Superman em seu pleno potencial e preferindo focar em seus conflitos como Clark Kent. Ao voltar para Metropolis e com a correria do Planeta Diário, Clark encontra um ambiente remodelado, mas familiar. Vivo. Revendo velhos rostos e descobrindo que as pessoas e o mundo precisaram seguir com suas vidas sem ele, ou eles.
Porém, quando chega o momento de necessidade, o Superman sempre estará pronto para subir alto e ir avante contra todo e qualquer mal. Quando ele faz sua primeira ação pública, mantendo a tradição de sempre salvar um avião, é ressaltado um elemento que veio a se perder no gênero ao longo das décadas, o heroísmo. Socos e explosões são elementos comuns que atraem a atenção do espectador, mas é importante entender que esses personagens são construtos moralistas, criados e moldados para inspirar o melhor na humanidade. O filme é esperto em mostrar esses feitos através do olhar humano sem criar uma relação de adoração religiosa, colocando a mídia em foco e a tornando elemento essencial na narrativa, usando Clark Kent como um observador passivo em meio à euforia desenfreada. Nada mais importava naquele momento, o Superman estava de volta!
Enquanto o mundo volta seus olhos para os seus grandes feitos, a relação Lois/Clark/Superman ganha protagonismo. A jornalista se mostra ressentida com a partida do herói e prefere se esquivar de todas as formas da sua presença, mas mostra ainda ter sentimentos fortes quando o mesmo volta para sua vida, muito disso por estar sempre no lugar errado e na hora errada. Um dos fatores que pesam bastante na balança é a vida estável que a mesma construiu ao lado de Richard White (James Marsden), seu noivo, e o pequeno Jason, (Tristan Lake Leabu) que mais adiante no decorrer do filme se revela como fruto do amor de Lois com o escoteiro encapuzado.
Paralelamente a tudo isso, Lex Luthor planeja o seu maior e mais complexo plano até agora. Ele se livrou de uma pena perpétua pelo não comparecimento do Homem de Aço ao tribunal devido a sua viagem para as estrelas (algo arquitetado pelo mesmo, como é revelado no jogo do filme). Essa encarnação bebe muito da versão canastrona de Gene Hackman, com planos mirabolantes e perucas para todos os gostos, mas adicionando um ar sarcástico ao personagem que beira ao sadismo, tornando-o ainda mais vilanesco que seu antecessor.
Seu grande plano na realidade é uma versão mais robusta do que foi mostrado em 78, utilizando a tecnologia dos cristais kryptonianos para produzir uma nova massa de Terra para vende-la para grandes potências por um preço absurdo. Uma nova Krypton surgindo em meio aos mares. Usando na mistura fragmentos de kryptonita, como uma afronta ao Superman. Um paraíso mortal feito das memorias de seu lar a muito tempo perdido.
Após uma série de eventos e encontros que levaram ao confronto final entre Lex e Superman, o herói sai gravemente ferido, mas decide fazer um sacrifício final, atirando a Fortaleza de Lex na imensidão do espaço. O vilão consegue fugir, entretanto, se vê perdido em uma ilha deserta, Superman, por outro lado, acaba entrando em coma por conta da prolongada exposição ao material radioativo, deixando o mundo em um estado de aflição. Lois, agora tendo o perdoado e temendo sua morte, decide visita-lo no hospital e confessar a verdadeira natureza de Jason e de seus sentimentos por ele.
Um tempo depois, Superman acorda e decide visitar o seu filho, recitando uma passagem eternizada pela voz de Marlon Brando como Jor-El, onde promete ao seu herdeiro que nunca irá deixa-lo só, se despedindo tanto dele quanto de Lois ao fim, subindo aos céus e finalizando a história com ele indo em direção ao espaço e saudando o público, assim como Christopher Reeve em suas aventuras.
A produção é uma homenagem ao legado de Reeve e seus filmes, emulando a atmosfera e fazendo referências diretas ao primeiro filme, como a dificuldade de Lois com as palavras ou reutilizando frases famosas. Já foi revelado por Singer que uma participação do ator estava planejada, entretanto, Reeve havia falecido antes do início das filmagens, ganhando uma dedicatória especial nos créditos iniciais, ao lado de sua esposa Dana Reeve.
Lançado em 2006, Superman – O Retorno teve um orçamento de $270 milhões, tornando-se o filme de super-herói mais caro já feito na época. A recepção da crítica foi bastante positiva, rendendo elogios do cineasta Quentin Tarantino, que prometeu uma resenha de 20 páginas dizendo os motivos do porquê ama tanto o filme. Inclusive possibilitando o lançamento da versão do diretor de Superman II – A Aventura Continua (1980) no dia 28 de novembro de 2006, cinco meses após a chegado do filme aos cinemas.
A produção arrecadou cerca de $391,1 milhões de dólares mundialmente, sendo um número inferior ao que era esperado pelo estúdio, não superando a arrecadação de Batman Begins (2005) mas, ainda assim, havia se tornado o segundo filme da DC Comics de maior bilheteria já feito na época, depois de Batman (1989).
Nas premiações, as grandiosas sequências de regaste rederam ao filme indicações na categoria de Melhores Efeitos Visuais no BAFTA Awards e na edição de 2007 do Oscar. Em contrapartida, a atriz Kate Bosworth foi indicada ao Framboesa de Ouro na categoria de Pior Atriz, por interpretar uma Lois Lane sem uma personalidade cativante, em comparação com a sua antecessora Margot Kidder.
Uma sequência foi planejada, com Bizarro e Brainiac como possíveis vilões. No entanto, devido a atrasos frequentes, bem como ao enorme orçamento do primeiro filme e o retorno de bilheteria abaixo do esperado, ele foi cancelado. O personagem só voltou para os cinemas em 2013, no filme Homem de Aço, dirigido por Zack Snyder.
A falta de grandiosas batalhas é frequentemente apontada como o motivo da recepção morna da produção, mas é importante salientar as extensas sequências de ação, preferindo mostrar o herói usando sua geniosidade na contenção de danos colaterais e salvação da população, não sendo sugado para o espetáculo de violência desnecessária que acabaria por se torna o gênero de super-heróis anos depois.
No geral, o filme permanece sendo uma excelente adaptação do personagem e um tributo ao trabalho de Christopher Reeve, unindo o heroísmo espirituoso a um drama que não tira o brilho do herói, conseguindo o feito de trazer o Superman de volta aos cinemas após anos de indecisões quanto ao seu rumo e problemas nos bastidores, algo vagamente familiar ao status do personagem poucos anos atrás.