Lanterna Verde | 10 anos do filme que prometia ser o precursor do universo DC nos cinemas

    Estou no cinema e passam os créditos do filme, quando eles terminam, começa a cena pós onde o até então Lanterna Verde Sinestro se entrega ao poder de um anel amarelo! Fiquei muito empolgado, era um gancho gigante para uma possível sequência…que deveria, mas nunca aconteceu.

    Dez anos se passaram desde o lançamento do filme do Lanterna Verde. Depois de dois filmes do Batman, dirigidos por Christopher Nolan com grande êxito, começar a estabelecer um universo cinematográfico dos personagens da DC fazia todo o sentido. Mas a realidade é que a estreia do Lanterna nas telonas mal se pagou, sofrendo bombardeios de fãs e da crítica especializada. É um filme ruim? Não, mas o que pode ter contribuído para o insucesso?

    Recentemente o diretor neozelandês Martin Campbell estava promovendo no Reddit o seu mais novo filme, The Protégé, respondendo perguntas de fãs. Em certo momento, alguém lhe questiona “Qual foi a pior luta em que já esteve?” e o cineasta respondeu “Com os executivos da Warner, sobre Lanterna Verde”.

    Em entrevista ao Collider, ainda para promover o seu último filme, ele completou:

    “A questão sobre o Lanterna Verde é que enquanto com Bond, eu amo Bond, eu amo os filmes de [James] Bond, eu realmente gostei deles, foi um evento para mim, eu não sou um fã de quadrinhos. E a verdade é que eu nunca deveria ter feito o filme [Lanterna Verde], mas eu fiz isso porque eu nunca tinha feito um filme de quadrinhos antes, então eu acho que a culpa repousa em meus ombros em grande parte. Era um grande filme de estúdio, e o roteiro não estava à altura, tínhamos Ryan Reynolds — fantástico — e Blake Lively, então pelo menos aqueles dois ficaram juntos, criamos algo.”

    O problema era que nas últimas seis a oito semanas de pré-produção, todos os dias tivemos reuniões sobre cortar o orçamento. “Precisamos cortar o orçamento.” “Como vamos cortar o orçamento.” Todos os dias. E eu tinha trabalhado um final fantástico para aquele filme. Lembro-me que tinha um escritório bem grande em Nova Orleans, os escritórios de produção, e eu forrando as paredes com storyboards. Era como papel de parede em todos os lugares para o final do filme, e eles [estúdio] entraram e disseram: ‘Não podemos pagar isso. Você tem que cortar tudo.” Então, no final, eles inventaram aquele encerramento de merda. No entanto, tendo dito isso, eu nunca deveria ter feito o filme, mas eu fiz isso. Eu não acho que fiz um bom trabalho, então para mim, para filmes de super-heróis, há pessoas melhores do que eu que deveriam estar fazendo essas produções.”

    A experiência vivenciada por Campbell, que também disse não querer voltar ao gênero de super-heróis depois dessa produção, é mais um exemplo de que a interferência do estúdio tem um toque de Midas ao avesso em algumas obras baseadas em quadrinhos da DC Comics.

    A escolha por Campbell foi muito acertada, pois este já havia se mostrado muito eficiente em introduzir ou reintroduzir um personagem nas telas como em “A Máscara do Zorro”, “007 contra Goldeneye” e “007 Cassino Royale”. O elenco tinha Ryan Reynolds como o protagonista, Blake Lively (Carol Ferris), Peter Sarsgaard (Hector Hammond), Mark Strong (Sinestro) e Angela Basset com a primeira aparição de Amanda Waller nos cinemas. O elenco de vozes dos personagens criados em CGI também era estrelado: Clancy Brown como Parallax, Geoffrey Rush como Tomar-Re e Michael Clarke Duncan como Kilowog.

    Dois membros do elenco, muito cultuados pelos fãs da cultura pop também dão as caras no filme. Temuera Morrison, o Boba Fett de Star Wars, dá vida ao Lanterna Abin Sur e o ator e cineasta Taika Waititi (sim ele mesmo, o ator e diretor de filmes da concorrência) é Tom Kalmaku, um grande amigo de Hal Jordan.

    Temos um bom diretor e um bom elenco, o que então poderia dar errado? O filme tem elementos da mitologia do personagem baseados em sua versão pós-crise, principalmente em “Amanhecer Esmeralda” (de James Owsley e M.D. Bright), “Crepúsculo Esmeralda” (Ron Marz) e “Renascimento” (Johns e Van Sciver).

    Fora a já citada interferência do estúdio, talvez a abordagem ao personagem não tenha sido a mais adequada. O filme tem um início promissor, com o ex-guardião Parallax totalmente corrompido pela energia amarela, alimentada pelo medo e fazendo às vezes de algoz de Abin Sur, que acaba parando na Terra para recrutar um novo Lanterna. Hal é mostrado como piloto de testes audacioso, por vezes arrogante e inconsequente, da Ferris Aeronáutica.

    Quando pensamos em um filme sobre o Lanterna Verde, o que vem à mente é ação e ficção científica. A obra entrega um pouco dos dois, mas acaba sendo irregular e por muitas vezes, talvez até mesmo pelo perfil de Ryan Reynolds, acaba fazendo do Lanterna um alívio cômico. Alguns personagens de grande destaque na história do protagonista, como Sinestro, Tomar Re e Kilowog, são menos aproveitados do que o interesse romântico de Jordan, Carol Ferris.

    A forma como o planeta Oa é mostrado, com aspecto mais rústico e menos tecnológico, obviamente é uma interpretação válida, porém um tanto descaracterizada para os que esperavam a mesma imponência mostrada nas HQs.

    Mas o filme está fazendo aniversário de 10 anos e esse cara só vai falar mal? Calma, cara leitora e caro leitor, o filme tem coisas positivas sim!

    A primeira que posso destacar é a opção pelo CGI nos uniformes da Tropa dos Lanternas Verdes. Cada um tem uma padronização energética própria, conforme a raça e perfil do seu usuário. O elenco de apoio é ótimo, destacando o Sinestro de Mark Strong, muito fiel ao original, Blake Lively como Carol Ferris e, ao meu ver, o ator que rouba a cena nesse filme: Peter Sarsgaard, o Hector Hammond. Ele traz uma abordagem diferente ao personagem (que nessa versão ganha poderes mentais ao ser infectado pelo vírus Parallax, durante a autópsia de Abin Sur) sendo ameaçador, porém com um leve tom cômico, quase debochado.

    As cenas em que o piloto Hal Jordan é mostrado em ação, são muito bem executadas, lembrando os melhores filmes do gênero (Top Gun e etc). Uma das boas escolhas foi a maneira como Parallax foi introduzido, fazendo parte da origem do Lanterna Verde do setor 2814. Na origem mais atualizada do personagem, sabe-se que Atrocitus, que viria a se tornar um Lanterna Vermelho, é quem efetivamente fere mortalmente Abin Sur, mas o fato de Parallax executar essa tarefa no filme e depois ser derrotado pelo Lanterna que “criou”, é um bom fechamento de ciclo.

    Outro ponto muito positivo da trama é mostrar como um momento trágico da vida de Hal Jordan ainda na infância, vai marcá-lo profundamente e definir o homem que ele se tornaria: A morte do seu pai, também piloto, em um acidente aéreo. Um easter egg interessante e que faz pensar em várias histórias que poderiam ser desenvolvidas é que enquanto o apelido de Hal é Highball o de Carol (também piloto da Ferris) é Saphire, uma clara alusão à vilã que ela viria se tornar nos quadrinhos, Safira Estrela.

    Acredito que o estúdio poderia ter dado uma nova chance ao personagem, talvez até com Reynolds como protagonista, com algumas mudanças no tom do seu Hal Jordan e com um roteiro mais ousado, com mais ação e dinâmica. A trama poderia perfeitamente girar em torno do gancho que citei no início do texto, onde Sinestro assumiria de vez o anel amarelo, tornando-se o arqui-inimigo  do Lanterna Verde, dos Guardiões e da Tropa.

    Resta esperar que a vindoura série da HBO Max se aprofunde mais no universo da Tropa dos Lanternas Verdes, e que seus realizadores tenham aprendido a lição com o filme de 2011.

    De toda forma, vale assistir a produção, pois ela instiga nos amantes do personagem pensar em quão grande esse filme poderia ter se tornado, e até mesmo ter se tornado um parâmetro para outros, para um universo realmente sólido da DC nos cinemas. Isso infelizmente não aconteceu, mas que a força de vontade dos fãs ajude o personagem a novamente ter a valorização merecida na grande tela.

    Que “a noite mais densa” do Lanterna Verde finalmente termine.

    Vinicius Chaves
    Vinicius Chaves
    Carioca, de 1976, Publicitário não praticante e aficionado por quadrinhos (dos bons), música (boa), cinema (de qualidade) e cultura pop em geral. Superman é o meu preferido desde a infância. Agora faço parte da equipe que do Terraverso, para aprender mais e compartilhar o meu carinho pela DC. “Enquanto isso na Sala de Justiça...”.

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