DCnautas, calma! Nova era da DC nos cinemas precisa de mentes e corações abertos

    Desde que foi alçado ao posto de mandatário da Warner Bros. Discovery, David Zaslav deixou claro que pretendia dar destaque às produções da DC e manifestou a intenção de criar um estúdio independente para cuidar das produções cinematográficas da editora. Até o momento, o todo-poderoso cumpriu parte de sua promessa, tendo escolhido as figuras de James Gunn e Peter Safran como co-CEOs do recém criado DC Studios após árdua procura.

    Encontrar um “Kevin Feige” para chamar de seu não seria tarefa fácil, conforme adiantei neste Terraverso, em especial porque os escolhidos estariam tomando para si a obrigação de descascar um abacaxi de proporções multiversais. Tão logo assumiram a nobre missão, nossa dupla dinâmica teve que se debruçar sobre uma única e importante questão: o que fazer? Se observarmos as opções em uma perspectiva simplista, Gunn e Safran têm basicamente três alternativas:

    1) Seguir com o universo compartilhado atualmente existente;

    2) Aproveitar parcialmente o universo estabelecido;

    3) Recomeçar um universo compartilhado do zero.

    Depois de muito refletir sobre as possibilidades que listei, conversar e ouvir muitas pessoas que admiro e respeito, cheguei à conclusão de que não há resposta correta para esse entrevero; qualquer caminho escolhido por eles deixará cicatrizes e nenhuma alternativa agradará a gregos e troianos. Não se tem notícia de que os co-CEOs estejam sendo constrangidos a seguirem por este ou aquele caminho, tendo, ao que tudo indica, liberdade total para decidirem conforme acharem mais adequado, o que por si só é um sinal positivo.

    Dentre as opções que listei, um reboot parcial me parece a ideia que faz menos sentido, até porque seria aquela que deixaria o grande público mais confuso sobre os rumos futuros. Por outro lado, seguir com o atual estado de coisas seria a decisão menos inteligente, dado que construir algo sobre escombros não confere ao edifício robustez suficiente para resistir aos efeitos do tempo, tanto no sentido cronológico quanto meteorológico.

    Muitos podem acreditar que estou exagerando ao me referir ao atual universo compartilhado como “escombros”, mas vamos deixar nossas paixões de lado por um momento. É inegável que o atual universo compartilhado reúne características que o tornam querido para uma legião de fãs; afinal, houve filmes inegavelmente bons e que trouxeram resultados financeiros, como Mulher Maravilha (2017) e Aquaman (2018). Também não é possível ocultar o fato de que muitos dos atores que deram vida aos personagens ganharam o coração do público, a exemplo de Henry Cavill, Gal Gadot, Jason Momoa e, mais recentemente, Dwayne “The Rock” Johnson.

    De toda maneira, não é segredo para ninguém que o estado de coisas no universo DC dos cinemas contou com grandes fiascos, como o primeiro Esquadrão Suicida (2016) e a versão teatral de Liga da Justiça (2017), além de filmes que tiveram desempenho de bilheteria muito aquém do esperado, como Batman vs. Superman (2016) e Adão Negro (2022).

    Some-se a isso o fato de que o atual elenco conta com um sem-número de grandes estrelas de Hollywood (leia-se uma folha de pagamentos pesadíssima em uma empresa com um patamar de endividamento acima do considerado saudável) e a grande bagunça cronológica que se tornou o universo estendido após o lançamento de Liga da Justiça de Zack Snyder (2021), onde os eventos diferem de forma significativa da versão que chegou aos cinemas, inclusive no pós-créditos, não havendo certeza sobre o que é de fato cânone.

    Imagino que a esta altura você, leitor, imagine aonde minha linha de raciocínio quer chegar. Discutidas as duas opções anteriores, chegamos àquela que seria a mais traumática: um reinício completo do universo compartilhado da DC no cinema. Poucas informações são oficiais neste momento, mas entre elas temos que Henry Cavill já anunciou que não deve retornar ao papel de Superman, caminho que deve ser seguido pelo Adão Negro de Dwayne Johnson; além disso, Patty Jenkins não deve comandar o agora incerto Mulher Maravilha 3 após ter seu roteiro recusado pelo estúdio, o que também coloca um ponto de interrogação sobre a continuidade de Gal Gadot no papel da guerreira amazona.

    DC
    Henry Cavill não deve retornar ao papel de Superman.

    Talvez ainda seja cedo para fazer algum tipo de previsão, mas as mais recentes notícias e rumores reportados por fontes confiáveis da indústria do entretenimento indicam que um reboot total deve ser o caminho adotado pelo comando do DC Studios na construção de seu universo compartilhado, o que evidentemente tem desagradado boa parte da imensa base de fãs da editora, ao mesmo tempo que coloca ainda mais pressão sobre seus co-CEOs, dada a grande expectativa depositada sobre eles e as inúmeras comparações que inevitavelmente se seguirão.

    Antes de finalizar, permito-me aqui uma breve digressão para trazer um exemplo de origem sociológica e política. Desde que a humanidade se estabeleceu como civilização, diversos sistemas de organização político-econômica surgiram e ruíram por seus próprios problemas e contradições, sempre na esperança de que o sistema colocado em seu lugar fosse conseguir resolver os diferentes conflitos inerentes à vida em sociedade. A questão central é: os problemas e contradições não desaparecem como que em um passe de mágica apenas por se substituir um sistema por outro; é necessário o reconhecimento dessas mazelas e uma ampla e permanente discussão sobre como superá-las.

    O que quero dizer com o exemplo que acabei de mencionar é que os muitos problemas que o universo DC dos cinemas possui não irão se dissolver do dia para a noite, muitos deles envolvem raízes profundas que se conectam à própria forma de organização da Warner Bros. como empresa e a simples criação de um estúdio independente não deve ser um fim em si mesmo; será necessário planejamento, organização, trabalho e, sobretudo, paciência. Muita paciência. Os atuais mandatários do DC Studios parecem, ao menos, preocupados em aparar as arestas antes de realizarem quaisquer anúncios oficiais, o que me parece uma decisão sensata e correta.

    Dito isso, devemos ter um ano movimentado para a DC em 2023, com quatro lançamentos no cinema; em ordem cronológica: Shazam – Fúria dos Deuses (17 de março), The Flash (23 de junho), Besouro Azul (17 de agosto) e Aquaman e o Reino Perdido (25 de dezembro). Resta saber exatamente como os próximos passos serão dados e se um reinício completo do universo é de fato o futuro que nos aguarda. Saberemos mais cedo do que tarde.

    Álisson Couto
    Álisson Couto
    Engenheiro civil, professor e fissurado pelo universo de super-heróis e da cultura pop. Fã incondicional do Batman e defensor ferrenho do Batfleck. Palpiteiro profissional.

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