Com o início de um novo ano é comum revisitarmos os eventos do ano anterior e tirar algum tipo de conclusão que definirá se ele foi bom ou não. No micro cosmo da DC, o ano de 2021 foi muito benéfico em diferentes frontes, com uma diversidade de produções que exploraram a fundo o potencial dos personagens e universo da editora.
Contudo, apesar do futuro parecer bastante promissor, especialmente no que diz respeito ao cinema. Muitos são os exemplos dos fãs que não só escolhem achar que tudo está perdido, como também passam de todos os limites ao esquecer de olhar de maneira não passional para aquilo que eles afirmam tanto amar.
Fãs, onde vivem??
A palavra Fandom é originaria da língua inglesa, usada para se referir a um grupo de indivíduos unidos por um gosto em comum. Normalmente encontrados aos montes em redes sociais, como o Twitter, debatendo ou comentando sobre produções referentes a esse assunto em comum. Existindo uma certa identificação por conta de gostos em comum e, com isso, causando um determinado grau de aproximação.
Contudo, apesar de no papel esse grupo de indivíduos parecer inofensivo e harmonioso, um olhar mais aproximado revela uma massa generalizada caótica e prepotente de vozes desconexas movidas pelo desejo do querer. Sendo verdadeiramente impossível identificar uma bússola que encaminhe qualquer obra para “a direção correta”. Até porque, tal concepção nunca será uníssona entre os próprios membros.
Outro fator alarmante na relação entre “fã X obra”, é a ideia prepotente de posse. Muitos são aqueles que acreditam ser donos de determinadas histórias ou personagem. Sendo os únicos detentores do que é melhor para o lore dos mesmos. Qualquer ideia que fuja dessa concepção, mesmo que respeitosa com a jornada apresentada até aquele momento, é imediatamente posta como inválida.
Um exemplo fora do núcleo DC, aconteceu na recente trilogia de Star Wars, quando uma massa ativa de “fãs” se revoltou com as escolhas do diretor Rian Johnson para com esse universo e, especialmente, com o encerramento da jornada de Luke Skywalker. No fim, essa revolta gerou uma série de reformulações, usando como base os desejos e clamores dos “fãs”, resultando em Ascenção Skywalker e o amargor de uma trilogia tão promissora.
Atualmente a franquia se mantém firme e forte através de produções originais para o serviço de streaming da Disney+. A série O Mandaloriano, a grande precursora dessa nova investida, que usa da estética dos filmes originais e conceitos apresentados em derivados da franquia, como as séries animadas. Fazendo o público voltar a ter bons olhos para as novas produções do universo, entretanto, não é preciso de muita pesquisa para encontrar comentários de grupos que desprezam esse cânone criado por Dave Filoni, e só considerando aquilo produzido por George Lucas.
Escutar os fãs pode parecer uma solução, mas, como em muitos casos, pode ser exatamente o contrário.
Rumores e o status do DCEU
O DCEU (DC Extended Universe) surgiu em 2013 com a estreia de O Homem de Aço, dirigido por Zack Snyder (300) e estrelado por Henry Cavill (The Tudors), reapresentando o mais icônico herói da editora, em uma nova roupagem. Mesclando elementos messiânicos e de tragédia grega para moldar uma versão mais melodramática do personagem. A proposta não foi bem aceita pela crítica e pelo público, gerando uma série de mudanças e conflitos internos que, resultaram no lançamento de Liga da Justiça de 2017, dirigido por Joss Whedon, um filme desconjuntado e apático. Uma clara intervenção do estúdio moldada pelo clamor indecifrável dos fãs.
Com o fim dessa “primeira fase” espiritual, a franquia voltou a ter fôlego após a estreia de Aquaman (2018), filme bilionário estrelado por Jason Momoa (Game of Thrones) e dirigido por James Wan (Invocação do Mal), que estabeleceu um ponto de partida que seria presente nesse novo recomeço. Produções distintas que explorariam a fundo os conceitos mais fantásticos de seus personagens em histórias contidas e sem a obrigatoriedade de grandes conexões. Se reaproximando com o público e permitindo a solidificação de uma nova e firme base para esse universo, tendo retornos positivos mesmo em meio a pandemia.
Em 2021 houve o encerramento dessa “segunda fase” através do lançamento de O Esquadrão Suicida (2021), que abriu portas para o aprofundamento desse universo através de derivados, com a série do Pacificador (2022) sendo a primeira investida do DCEU na plataforma da HBO Max, e permitindo o cruzamento dos personagens através das sub franquias apresentadas até então. Agora, o caminho deverá ser de aprofundamento de temas e determinar uma linha cronológica oficial, podendo essas franquias se conversarem ou até contarem uma história própria, sem precisar envolver todo o universo.
No centro dessa reafirmação está o filme The Flash (2022), estrelado por Ezra Miller e dirigido por Andy Muschietti (It), que deverá misturar elementos de viagem no tempo e o conceito de multiverso, tal qual a animação da Sociedade da Justiça (2021), para dá desculpa necessária para tais mudanças cronológicas.
E, o grande exemplo de mudança está na presença de Michael Keaton como o Bruce Wayne regular desse universo, uma homenagem ao seu legado na pele do herói. Entretanto, uma discussão se iniciou com tal especulação, mostrando mais uma vez a prepotência e desrespeito dos “fãs”.
O desrespeito com o legado
O ator Michael Keaton ficou eternizado na pele do cruzado encapuzado após protagonizar dois dos filmes mais aclamados do herói, em meados da década de 90, ajudando a distanciar a imagem considerada “infantil” da encarnação de Adam West. Em 2022, o ator retornará ao papel no filme The Flash e, segundo especulações, deve ser colocado como o Batman definitivo do DCEU.
Essa decisão desagradou uma parcela consideravelmente ativa dos “fãs”, que responderam a esses rumores de forma desrespeitosa. Fazendo comentários preconceituosos com o ator por conta de sua idade (70 anos), constantemente reafirmando que não querem um “Batman que usa fraldas geriátricas” como o titular do universo.
Não é a primeira vez que um artista é alvo de comentários ageísmo, Rosie Perez também passou por algo semelhante na época de Aves de Rapina (Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa) por não se encaixar na figura “jovial” que o público esperava da detetive Renée Montoya.
Preferir uma versão mais jovem de determinado herói é compreensível, a própria indústria fomenta tal pensamento enaltecendo o corpo esbelto de atores na “flor da idade”. Porém, existem limites. A partir do momento em que tais comentários se tornam agressões a imagem de um indivíduo, seja ele famoso ou não, esse limite é ultrapassado e só demonstra a infantilidade e desrespeito daquele que o faz.
Outro ponto apresentado, contra a presença de Keaton no DCEU, diz respeito do conhecimento do público mais jovem quanto ao trabalho do ator. Uma desculpa vazia que subestima uma geração formada através da nostalgia que, mesmo não tendo determinado conhecimento, encontrará um meio de entender todas as referências de um episódio de Stranger Things, por exemplo.
A ideia de ter um Batman experiente não é algo sem precedentes e pode vir a permitir que o cinema explore outras facetas do personagem, como a mentoria. A Batfamilia é um dos elementos mais cruciais da mitologia do personagem, mas nunca foi devidamente explorado por sempre termos um Batman “início de carreira” nas telas. Com a chegada de Robert Pattinson e coexistência de dois Batmen nos cinemas, qual o problema de um deles abraçar uma das melhores qualidades do herói, a de ser um pai.
E o Superman, hein??
Talvez uma das grandes incógnitas a respeito do DCEU diz respeito ao Superman. O herói foi deixado de lado desde a repercussão negativa de seus filmes e o futuro de sua franquia ainda parece incerto, especialmente se o ator Henry Cavill voltará a usar a capa novamente.
A questão envolvendo o Superman é ainda mais complicada do que aparento, pois envolve um longo e complicado histórico de problemas de bastidores, projetos engavetados e produções que foram aquém das expectativas do estúdio. Todo esse transtorno em volta do herói é somente o resultado de uma grande bola de neve que vem se formando desde a saída de Richard Donner da direção de Superman II – A Aventura Continua (1980).
Existe um medo do fracasso que paira sobre essa franquia, que vem se alimentando das incertezas da própria Warner e a dificuldade dos realizadores em trabalhar com o personagem. Diferentemente da televisão, que sempre soube explorar e desenvolver bem o Superman e sua mitologia, vide a Smallville e, mais recentemente, Superman & Lois.
Querendo ou não, o que pode ser a grande mudança de paradigma para o herói, é a sua prima, a Supergirl. A personagem, que será apresentada nos cinemas em The Flash (2022) vivida por Sasha Calle, poderá ser o diferencial que possibilitará o retorno do herói, usando de sua mais recente ascensão no gosto do grande público, que veio acompanhando sua jornada em produções como na sua série solo na CW e na animação DC Super Hero Girls.
Vale lembrar que, diferente do que muitos possam imaginar, uma nova adaptação do personagem está em desenvolvimento. O projeto ficou conhecido como o filme do “Superman Negro”, onde deve trazer o que muitos suspeitam como a versão da Terra-23 do herói, conhecido como Presidente Superman, ou simplesmente, Calvin Ellis. O filme contará com produção de J.J.Abrams (Super 8) e roteiro do premiado escritor e jornalista estadunidense, Ta-Nehisi Coates. Produção essa que parece caminhar nos mesmos moldes de The Batman e ser algo a parte do DCEU.
Apesar de ainda parecer incerto a direção que a Warner levará o personagem, é incorreto dizer que não existe uma preocupação e vontade de desenvolver o maior herói da editora. A grande questão aqui é o tempo.
A pressa é a maior inimiga da perfeição
É importante entender que muito provavelmente o DCEU nunca será o MCU (Marvel Cinematic Universe), pois, mesmo que a DC tenha planos que construir uma mega saga nos cinemas, os objetivos e, principalmente, o histórico de ambas as empresas são diferentes. Universos demoram anos, talvez décadas, para serem formados. Precisando se adaptar as mudanças e percalços que sofrem ao longo do caminho. Uma mudança, mesmo que pequena, pode desencadear toda uma nova visão de mercado.
Ambas as empresas estão atualmente precisando se reinventar na própria maneira e focar em manter a atenção do público, se distanciando da massa uniforme que se tornou o gênero de super-heróis, há alguns bons anos.
Por fim, é certo dizer que o ano de 2022 parece bastante promissor para os fãs não só da DC, mas de quadrinhos em geral. A quantidade de produções diversas mostram um novo caminho para o gênero. Algo que não é visto por aqueles presos no discurso de que “deve seguir aquilo que os fãs querem”.