Joe, o Bárbaro | Uma visita aos bons momentos da Vertigo

    Sempre que converso com a redação do Terraverso eu vejo o quanto existe um enorme carinho pela Vertigo, inclusive foi com muita tristeza que foi recebido o encerramento do selo, conheço algumas obras mais famosas como Hellblazer, Preacher, Sandman e V de Vingança que inclusive já me rendeu um 10 na faculdade, mas nunca tive a curiosidade tão aguçada para entrar de cabeça no mundo da Vertigo como fiz recentemente, e foi uma experiência apaixonante.

    Dentre as história que procurei, acabei encontrando esta que me chamou a atenção já no título, Joe, o Bárbaro, escrita por Grant Morrison em meados de 2010 até 2011 e com a arte de Sean Murphy, que inclusive foi uma das obras indicadas ao Eisner daquele ano. Quando finalizei esta leitura eu consegui compreender em um modo mais amplo como a Vertigo é um selo especial.

    A história se assemelha a um conto de fadas como Alice no País das Maravilhas, inclusive o próprio Morrison confirmou que suas inspirações para a criação da história foram esse tipo de conto. Um garoto chamado Joe e que possui diabetes Tipo 1 ao ter uma crise de hipoglicemia (uma queda dos níveis de açúcar no sangue que dentre as suas consequências causa alucinações), resolve sair do seu quarto e ir até a cozinha pegar uma soda para aumentar os seus níveis de açúcar. Acontece que esse pequeno deslocamento torna-se uma aventura épica com direito a cavaleiros, castelos e um roedor samurai.

    O que torna essa leitura tão agradável é como tudo não fica apenas no mundo da fantasia. Em alguns momentos, Joe retoma sua consciência de seu estado alucinógeno questionando o que é real ou sua imaginação, dando o tom da narrativa que vai se passar ao longo das oito edições.

    A construção da subjetividade de Joe é um dos grandes trunfos que Grant Morrison utiliza para contar a história. As vivências do garoto se tornando fruto do seu inconsciente, são elementos fortes para que a sua epopeia se torne a maior aventura que já vivenciou em sua vida. Ela é uma forma para que ele possa lidar com questões mais profundas do seu crescimento. A dificuldade em lidar com a morte do pai, não ter amizades, sofrer bullying, os seus sentimentos em relação a sua mãe que luta bravamente para manter a casa na qual moram. Todos esse momentos estão todas sendo vivenciados dentro deste sonho desperto que Joe esta passando.

    Quanto a sua aventura dentro desta alucinação, um momento inicialmente confuso que aos poucos vai se elucidando com o decorrer da narrativa, a característica mais marcante de Grant Morrison é representada a cada página que ganha vida pelas habilidosas mãos de Sean Murphy, a psicodelia. Somos brindados com um mundo aonde anões vivem em encanamentos e na família real o príncipe anão é um gigante, cachorros ganham asas como dragões, uma rainha que vive de luto em seu castelo onde tudo está de cabeça para baixo. Não vá pensando que não existe alguma referência aos heróis DC, pois Batman, Superman e Mulher-Maravilha estão entre os guerreiros deste mundo criado nas representações da vida cotidiana de Joe.

    Uma imaginação onde uma torneira vazando se torna um rio e o porão passa a ser o lar do maior inimigo de toda a vida, o lar dos seus maiores medos. A cada obstáculo ultrapassado pelo herói de seu próprio mundo, me fez refletir sobre diversas coisas ao longo da leitura.

    Joe, o Bárbaro não é o tipo de HQ que você vai encontrar entre as mais conhecidas de um público mais amplo dos leitores de quadrinhos, mas é uma história que, com toda a certeza, é indispensável para os fãs deste mundo de heróis, sendo um conto que mostra a cara do selo Vertigo.

    Nota:

    Ricardo dos Santos
    Ricardo dos Santoshttps://terraverso.com.br
    Fã de quadrinhos, séries, filmes e games. Apaixonado por DC de Grant Morrison a Alan Moore. Mais um privilegiado de estar na amada Terraverso.

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