Antes de tudo, o texto não se trata do título Batman: O Homem Que Ri (2005), de Ed Brubaker e Doug Mahnke, mas sim de uma das várias inspirações que deram origem a um dos mais icônicos personagens da literatura moderna: o Coringa. Vamos falar de O Homem Que Ri, filme mudo de 1928.
O filme é uma adaptação do livro de mesmo nome, do francês Victor Hugo (o mesmo autor de Os Miseráveis e O Corcunda de Notre Dame), realizada por Paul Leni, cineasta da fase expressionista alemã.
Na trama, Gwynplaine é uma criança que é entregue a um grupo de ciganos pelo rei inglês James II. O monarca toma tal decisão querendo se vingar do pai de Gwynplaine, acusado de traição ao rei. Entre os ciganos, a criança acaba na mesa de operações do Dr. Hardquanonne, que com a intenção de fazer de Gwynplaine uma atração de circo, corta os cantos da boca da criança criando assim um sorriso.
Porém quando os ciganos são expulsos da Inglaterra, Gwynplaine é deixado para trás. Ele encontra um bebê cego, Dea, e Ursus, o homem que os acolhe. Ao crescerem, Gwynplaine se apaixona por Dea, mas se recusa a casar com ela, pois se considera inapropriado devido seu sorriso desfigurado.
A vida de Gwynplaine é cheia de misérias e sofrimentos, apesar do sorriso que forçadamente é obrigado a carregar. A crueldade humana explorada na obra de Victor Hugo, ganha destaque na versão cinematográfica que faz da trajetória do personagem um melodrama, deixando de lado o realismo e as críticas sociais, marcas do autor francês.
Um dos grandes destaques do filme – além de toda sua composição técnica, já que foi uma das primeiras produções a usar som, apesar de ser mudo em sua maioria – está a interpretação de Conrad Veidt. O ator já havia trabalhado anteriormente com Paul Leni e teve que encarar a difícil caracterização do personagem, pois atuava usando uma prótese para que os cantos da boca estivessem esticados formando o bizarro sorriso. Seu trabalho está entre um dos momentos mais memoráveis da fase do cinema mudo.
Na década de 1940, inspirados na estética expressionista de Paul Leni e pela caracterização de Conrad Veidt, os artistas Jerry Robinson, Bill Finger e Bob Kane criaram o Coringa, que pareceu pela primeira vez nas páginas de Batman #1. O personagem que deveria ter morrido na primeira edição, até hoje fascina a mente de leitores e amantes do cinema.
Durante as várias entrevistas dadas por Todd Philips, o diretor de Coringa, revelou que uma de suas principais inspirações para o filme foi O Homem Que Ri.
“Mas outra grande influência para esse filme e o que inspirou os criadores originais do Coringa, foi o filme mudo O Homem Que Ri, que foi realmente onde isso começou.”
Em quase oitenta anos de história do vilão, traços marcantes de Gwynplaine podem ser observados em várias encarnações cinematográficas do Coringa: do sorriso eterno nos lábios de Jack Nicholson, passando pelas cicatrizes de Heath Ledger, chegando ao drama cruel de Joaquin Phoenix. O sorriso do Homem Que Ri, seja de Gwynplaine ou do Coringa, ainda continuará atraindo a atenção de várias gerações.
Coringa, de Todd Phillips, estreia no dia 3 de outubro nos cinemas.