The Batman | A Mulher-Gato de Zoë Kravitz e o racismo disfarçado de “opinião” na cultura pop

    A atriz Zoë Kravitz foi escolhida recentemente para interpretar a Mulher-Gato no filme “The Batman”, o novo filme do Homem-Morcego dirigido por Matt Reeves. Grande parte dos comentários dos fãs sobre a escolha da atriz foi uma grande infestação de chorumes e críticas por ela ser negra e escolhida para o papel de Mulher-Gato, que já teve nos cinemas a consagrada Michelle Pfeiffer e mais recentemente Anne Hathaway no longa “O Cavaleiros das Trevas Ressurge”.

    Em um primeiro momento, lembro ao desavisado leitor que este texto não é direcionado a você que não concorda com a escolha da atriz pelo repertório de atuações que ela já apresentou. Esse texto não é para você que questiona a profissional Zoë Kravitz por sua capacidade de atuação em outros papéis nos cinemas. Desde que seus argumentos apresentem um conteúdo relevante e embasado, que os justifiquem de forma clara, toda e qualquer crítica deve ser respeitada, sendo ela dentro dos limites éticos e livres de ofensas.

    Agora, se você critica a escolha da atriz para o papel, onde a escolha da cor de sua pele para interpretação da personagem é o maior problema, esse texto é para você.

    Zoe Kravitz

    O grande questionamento necessário a se levantar é justamente sobre a capacidade de alguns fãs de entender e assimilar os seus próprios limites ao julgar uma pessoa para determinado papel fictício somente por sua aparência. E isso não acontece somente quando um casting de cinema é divulgado. Não é um fato corriqueiro. Esse impacto e repulsa ao ver uma mulher negra chegar até um posto almejado por boa parte de Hollywood reflete suas atitudes como um indivíduo dentro do contexto social. O debate sobre isso ultrapassa a barreira de mero comentário no meio nerd. É o famoso e lamentável preconceito disfarçado de “é a minha opinião”.

    Sempre penso que diariamente o mundo nos ensina algo para evoluir. Nos torna pessoas melhores e mais compreensíveis com a sociedade e o ambiente em que estamos inseridos. Todo dia há coisas externas que nos decepcionam e por algum momento, nos enfraquece como ser humano. Seja um assalto, uma morte, um triste acidente, ou até mesmo os rumos que o país toma politicamente. A arte e a cultura devem acalentar corações e mentes já fartas do nosso acelerado cotidiano de tragédias.

    Diariamente o Terraverso está envolvido com notícias, boatos, rumores e tudo que circunda o universo da DC Comics. Há comentários excelentes e outros que chegam a embrulhar o estômago ou estragar totalmente o seu dia. Considero que hoje, principalmente no universo da cultura pop, há uma grande falta de empatia entre as relações humanas. Poucas são as pessoas que se colocam no lugar do outro antes de criticar ou proferir qualquer tipo de ofensa. Poucas.

    Em 1969, a atriz Eartha Kitt assumiu o papel na terceira e última temporada da série clássica do Batman de Adam West. A escolha na época não agradou os fãs justamente por ela ser negra. Aliás, aquele período histórico se assemelha e muito com o nosso atual momento. Na década de 60, a atriz precisou sair dos Estados Unidos, depois de se mostrar contra a guerra do Vietnã, publicamente, durante um almoço na Casa Branca.

    Eartha Kitt

    Nossa sociedade adoece repetindo os mesmos erros do passado. Parece que ficamos estagnados na proposta evolucionista do ser. Agora as guerras não são com armas, como era antigamente, mas sim com palavras, ofensas, que transtornam a vida de qualquer pessoa, seja ela pública ou não. É um caos silencioso e com um teor psicológico de dano imenso e por vezes irreversível. Relembro aqui o que aconteceu no ano passado, ao vazarem imagens da atriz Anna Diop, a Estelar de Titãs. O ataque a ela nas redes sociais e as críticas foram depreciativas e ofensivas. Leia mais sobre o caso aqui.

    No ano de 2004, foi a vez de Halle Berry interpretar a Mulher-Gato. Desta vez numa narrativa que colocava a anti-heroína lutando pelo bem da sociedade em um filme solo. A produção não agradou o público e recebeu pesadas críticas na época. Realmente o filme era extremamente fraco. Pela sua narrativa, por questões de atuação, direção e figurinos que ficavam bem abaixo das expectativas. Ele certamente está entre os filmes mais fracos da DC, mas ainda sim, algumas pessoas colocaram a culpa do fracasso da produção pelo perfil da atriz não ser semelhante ao de sua antecessora, Michelle Pfeiffer.

    Halle Berry

    Considero a escolha de Zoë Kravitz para o papel uma excelente opção. Além dela ser uma atriz gata (perdão pelo trocadilho de tiozão), ela teve um excelente trabalho recente na série da HBO, Big Little Lies, interpretando a personagem Bonnie. Acho mais do que necessário avaliar sempre os últimos trabalhos de cada ator, porque a evolução profissional na área é sempre constante.

    Quanto aos comentários depreciativos disfarçados de opiniões, torço pela evolução da espécie. Espero que essas pessoas em um futuro próximo, possam criar a capacidade empática para compreender o quanto é difícil lidar com questões tão delicadas que envolvem o ambiente profissional, a existência, a ética e o respeito ao indivíduo.

    Willyan Bertotto
    Willyan Bertotto
    Publicitário. Diretor de Arte, Designer e Batmaníaco. Fã incondicional da DC Comics e pesquisador assíduo desse universo e todas as suas possibilidades de transformação.

    Deixe seu comentário

    Você pode gostar

    Siga-nos

    24,169FãsCurtir
    15,600SeguidoresSeguir
    18,192SeguidoresSeguir

    Últimas Postagens