Liga da Justiça Snyder Cut | Por todos e para todos que acreditam; A Era dos Heróis voltou!

    Recordo da madrugada do dia 15 para o dia 16 de novembro de 2017, quando comprei os ingressos para a estreia da Liga da Justiça. Existia a expectativa de um filme grande feito pelas mãos de um diretor que divide opiniões extremas entre o amor e o ódio, mas não foi exatamente isso que aconteceu. Recebemos um filme comum, com diversas polêmicas, anedotas e até mesmo ofensas em relação ao que foi apresentado e dirigido por Zack Snyder. Com um “toque de Mídas” ao contrário, Joss Whedon foi o responsável por dirigir as refilmagens mais anti-profissionais até hoje testemunhadas na história do cinema, e ainda com a benção de Geoff Johns e Jonh Berg.

    Desde aquele dia, se falou no corte do diretor que nunca havia sido finalizado. Algo que divide opiniões assim como a visão do próprio diretor. Então, uma campanha sem precedentes foi iniciada para que a versão de Zack fosse lançada, até que em 2020 foi anunciado que veríamos “Zack Snyder’s Justice League” ou como os fãs carinhosamente apelidaram, Snyder Cut. Na última live que participei no nosso canal do YouTube, deixei claro que este filme de quatro horas não é mais uma questão de bom ou ruim, mas uma oportunidade de ver o que realmente foi planejado e gravado para o público, e assim mantenho minha opinião.

    Agora, falando sobre o filme, uma das justificativas (de algumas pessoas; fãs, críticos, produtores) para que o Snyder Cut não fosse lançado é que ele seria a mesma história, só que com algumas cenas novas. Essa ideia cai por terra ao perceber que existe toda uma nova construção narrativa para o argumento que nos foi apresentado em 2017, na época poluído pela “trindade da Warner” representada pelos nomes de Joss Whedon, Geoff Johns e Jon Berg. Infelizmente, devido a eles, perdemos a experiência de um filme que seria maravilhoso acompanhar na tela grande.

    Quanto à questão narrativa, o que mais se destaca é como tudo faz sentido na história, a motivação do Lobo da Estepe agora está clara e ele não é simplesmente um vilão com intenções malignas genéricas e sem fundamento. Nesta ideia original, existe um contexto para a sua chegada na Terra, e é possível entender cada passo do novo deus e seus métodos para alcançar o seu objetivo, além do porquê do cão de guarda do tirano de Apokolips ser tão obcecado em conquistar a Terra para seu mestre. Nesta trama, tudo tem uma conseqüência, como logo percebemos na cena de abertura, entendendo o que causou o despertar das Caixas Maternas.

    Um segundo detalhe sobre o Lobo da Estepe é que, além de uma aparência mais alienígena, algo que tornou muito mais interessante e atrativa a sua presença, é a funcionalidade da armadura que ele veste como uma relação simbiótica entre o usuário e sua proteção, se adaptando a diversos tipos de ataques, tornando-se uma couraça rígida em dados momento ou um amontoado de espinhos. A imponência dele, tanto na voz de Ciarán Hinds quanto na do Sérgio Fortuna em nossa dublagem, trazem intensidade para o personagem que teve diversas cenas editadas ou cortadas da versão que foi ao cinema. Sem falar do retorno do design original do personagem, servindo como um adversário a altura desta Liga que se uniu em torno do seu herói mais valioso.

    No SnyderCut não existe personagem que cresce em detrimento do outro, todos ganham seu devido valor, tanto que não destacaria apenas uma atuação neste filme, cada ator compreende que tem o seu espaço no roteiro e quando chega o seu momento de tela, explora ao máximo o personagem. Como por exemplo, o Vulko de Willem Dafoe, que apesar de ser uma pequena participação, é importante como um personagem de suporte para o Aquaman de Jason Momoa, lhe dando as armas necessárias para enfrentar o inimigo.

    Entre os arcos individuais, é maravilhoso ver a ideia original para o Cyborg, que teve cortada absolutamente todas as cenas sobre sua origem. Zack Snyder dizia que o Victor Stone de Ray Fisher é o coração da Liga, e ele nos entregou exatamente o que prometeu, mostrando a evolução do personagem e como ele está aprendendo a estabelecer novas relações com as mudanças, tanto em seu corpo a nível físico como em conhecimento. Outro personagem que vale destacar é o Flash de Ezra Miller, que passa a ter um papel de fato heróico e não somente apenas um alívio cômico forçado. As cenas mais engraçadas dele agora são leves e divertidas, passando o sentimento de auto descoberta do velocista escarlate.

    A história dirigida por Zack Snyder não me encantou apenas por ser uma aventura com muita ação, personagens bem desenvolvidos e cenas marcantes. O que acompanha de forma brilhante esses elementos é a trilha sonora que te prepara para o que está por vir e consegue transmitir de forma sutil a emoção das cenas.

    Quando penso sobre a Liga da Justiça, a sensação que sempre tive foi da unidade, grandes heróis se ajudando nos momentos difíceis. Esta é a virtude que acho essencial para apresentar esses personagens que são tão importantes para os fãs, não apenas os de quadrinhos, porque a DC sempre teve seus personagens bem enraizados na nossa cultura e considero que a ideia da equipe de se basear nesses valores é algo que me orgulha como fã.

    m nenhum momento da narrativa existe alguma cena que possamos ver os heróis brigando ou discutindo entre eles sem sentido. Em certo momento, eles até podem se contestar ou discordar, mas estão sempre alinhados com um objetivo comum e trilham toda a jornada juntos. Para exemplificar como eles funcionam tão bem como equipe, todas as cenas que os heróis tiveram embates juntos, eles cooperaram um com o outro. Esse elemento Zack Snyder retratou muito bem em sua direção. É possível visualizar a equipe ajudando uns aos outros, demonstrando clara empatia.

    Nesta produção é possível perceber como o universo de Jack Kirby é devidamente honrado na presença de Darkseid e outros personagens clássicos de Apokolips. O conceito das Caixas Maternas como elementos sencientes, capazes de sentir/provocar medo, percebendo a oportunidade que elas podem despertar a qualquer momento e servir a seu mestre é fascinante, não apenas sendo um objeto de poder mas um elemento capaz de interagir com o ambiente e entender o que acontece ao redor.

    Mesmo com quatro horas de duração, o filme não é cansativo de acompanhar. Ele prendeu a minha atenção do começo ao fim. O retorno do Superman foi um arco a altura do que ele merece como personagem, apresentando o amadurecimento do Clark Kent de Henry Cavill tanto como herói quanto como um homem comum que deixou seus medos e dúvidas de lado ao ter uma segunda chance. Finalmente tivemos a oportunidade de ver o herói utilizando uma versão preta de seu traje, uma referência ao seu retorno dos mortos nos quadrinhos.

    A conclusão, mesmo deixando a entender que essa história teria desdobramentos como um primeiro capítulo de uma grande saga, consegue concluir este primeiro momento de forma brilhante. Percebe-se agora, de forma clara, que os heróis se estabeleceram como uma equipe. E a pergunta que fica é: a Warner terá o desejo de seguir com este universo tão fascinante que conhecemos no SnyderCut?

    “Liga da Justiça Snyder Cut” é uma narrativa épica tanto no cinema quanto em seus bastidores, uma reparação de um erro gravíssimo cometido por um estúdio. É também uma oportunidade de vermos a Liga que merecemos com o carinho e respeito que é de direito a cada um destes personagens fundamentais na Cultura Pop.

    Aqui, essa produção levará a nota máxima. E isso não é apenas sobre o filme, mas também para os fãs que acreditaram no diretor e o apoiaram. Toda a comoção social gerada em torno desta produção através das campanhas de prevenção ao suicídio, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, aconteceram devido ao afastamento do cineasta em 2017, relacionado ao suicídio da sua filha, Autumn Snyder. A iniciativa dos fãs é digna de reconhecimento e esse filme é para todos que acreditaram até o fim.

    “Liga da Justiça Snyder Cut” existe por nós, por Autumn, por Ray Fisher, por todos e para todos que acreditam que a Era dos Heróis voltou.

    Nota: 52/52 – Excelente!

    Ricardo dos Santos
    Ricardo dos Santoshttps://terraverso.com.br
    Fã de quadrinhos, séries, filmes e games. Apaixonado por DC de Grant Morrison a Alan Moore. Mais um privilegiado de estar na amada Terraverso.

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