Batman | Ben Affleck sai do papel de Homem-Morcego exaltando o que há de maior no personagem: suas dores

    Quando Ben Affleck foi anunciado como Batman, os fãs foram a loucura, não no sentido positivo. O ator já tinha no currículo a interpretação de outro herói, o Demolidor. O filme claramente não foi bem recebido, e isso aumentava ainda mais a suspeita de Ben no papel de um dos heróis mais populares de todos os tempos.

    Em 2016, Batman vs Superman estreou nos cinemas e o público ficou totalmente dividido. De um lado, aqueles que amaram um Batman amargurado, se questionando sobre o real efeito do seu trabalho e bem violento, do outro, muitos se perguntavam se aquilo era mesmo o Batman. Entrando no mérito da discussão ou não, Ben Affleck entregava um novo Batman nos cinemas, que mais tarde sofreu pela falta de planejamento da Warner, junto com ideias questionáveis da parte de roteiristas.

    Foram três aparições como Batman e o futuro filme solo nunca aconteceu. Affleck chegou a escrever um roteiro que foi bem elogiado, sendo descrito pelo Jay Oliva (diretor de diversas animações da DC) como “o melhor roteiro que [ele] havia lido”. No Twitter, Affleck lançou um pequeno vídeo com a aparição do Exterminador, o que leva a acreditar que esse seria o principal vilão. Até então, Ben estava a cargo do roteiro e direção do filme, o que mudou quando Matt Reeves assumiu a direção do projeto. Pelo que tudo indica, Reeves trabalharia com o roteiro de Affleck.

    Vários rumores surgiram indicando que Matt queria um Batman mais novo e no início de carreira, sendo o Ben, impróprio para o papel. Todos os rumores acabaram quando Robert Pattinson foi anunciado como o novo Morcego. O que não sabíamos, era que Ben Affleck já estava afastado do papel há muito tempo e o motivo não tinha nada a ver com a troca de comando do filme ou diferenças criativas.

    Numa entrevista recente, com uma franqueza rara entres os astros do cinema, Ben explicou ao The New York Times o real motivo que o levou a desistir de interpretar o Batman. “As pessoas com comportamento compulsivo, e eu sou uma, têm esse tipo de desconforto básico o tempo todo que estão tentando fazer desaparecer. Você está tentando se sentir melhor em comer, beber, fazer sexo, jogar, fazer compras ou o que for. Mas isso acaba piorando sua vida. Em seguida, você faz mais do que isso para diminuir esse desconforto, então, a verdadeira dor começa. Torna-se um ciclo vicioso que você não pode quebrar. Foi pelo menos o que aconteceu comigo.”   

    “Eu bebi relativamente normalmente por um longo tempo. O que aconteceu foi que eu comecei a beber mais e mais quando meu casamento estava desmoronando, isso foi em 2015, 2016. Minha bebida é claro, criou mais problemas conjugais.” Nesse período, Ben interpretava o Batman e logo em seguida lidava com as críticas negativas e em alguns casos, absurdamente exageradas. 

    Affleck era casado com a atriz Jennifer Garner com quem tem três filhos. “O maior arrependimento da minha vida é esse divórcio. A vergonha é realmente tóxica. Não há subproduto positivo da vergonha. É apenas um sentimento tóxico e hediondo de baixa autoestima e autoaversão.”

    Ele continua na entrevista. “Não é particularmente saudável para mim ficar obcecado com as falhas – as recaídas – e me derrotar. Certamente cometi erros. Certamente fiz coisas das quais me arrependo. Mas você precisa se recompor, aprender com isso, aprender um pouco mais, tentar seguir em frente.”

    Affleck explica que mostrou seu roteiro para The Batman a alguém (ele não identifica) e ouviu como resposta: “ Eu acho que o roteiro é bom. Também acho que você beberá até a morte se passar pelo o que acabou de passar.”

    Ben confessa ter exemplos negativos na família a respeito do alcoolismo. Seu pai era alcoólatra, seu irmão também, o ator Casey Affleck admitiu lutar contra o alcoolismo. A avó paterna tirou a própria vida em um motel aos 46 anos. O seu tio se matou com uma espingarda. Uma outra tia era viciada em cocaína.

    “Demorei muito tempo para fundamentalmente, profundamente, sem um pingo de dúvida, admitir para mim mesmo que sou alcoólatra.”

    Todas essas falas se alinham ao personagem que Affleck encarnou. Bruce Wayne não era alcoólatra, mas em sua vida, a busca por justiça se tornou um vício, lhe provocando várias desgraças e a quem ele ama. Um ator que buscou interpretar um homem quebrado, com um senso de justiça que mascara a sua necessidade urgente de tratamento, enfrentou durante anos um triste mal.

    Eu conheço o alcoolismo de perto e sei do seu potencial destrutivo. Sou filho de um alcoólatra, que infelizmente não luta contra o vício. Esse triste mal, trouxe bastante dor ao meu próprio pai e também a sua família. A Organização Mundial de Saúde (OMS), trata o alcoolismo como doença e cerca de 3 milhões de pessoas morrem todos os anos por uso excessivo de álcool.

    “Muitas pessoas, suas famílias e comunidades sofrem as consequências do uso nocivo do álcool por meio de violência, lesões, problemas  de saúde mental e doenças como câncer e acidente vascular cerebral.” explica o Diretor- geral da OMS, Adhanom Ghebreeyesus.

    Estamos bem acostumados a ligar o álcool com a diversão e a romantizar o uso abusivo dele. O número de jovens que acabam se tornando alcoólatras tem aumentado em todo o mundo e largar o vício tem sido cada vez mais complicado. Problemas emocionais como a depressão, tem potencializado diversos casos de alcoolismo, fazendo do álcool um falso refúgio, com uma sensação de alívio passageira.

    Eu experimentei um pouco desse mal na prática quando passei por um momento horrível na minha vida repleto de pensamentos negativos, fruto da não aceitação da minha sexualidade. Nesses momentos, eu bebia demais e de uma forma cada vez mais constante. Não havia nem sequer notado que o uso do álcool tinha deixado de ser algo recreativo para uma necessidade diária.  Sentia falta do álcool e cada vez mais eu me aproximava do meu pai, o que eu havia prometido para mim mesmo, nunca fazer.

    Felizmente, depois de um tempo e tirando forças de onde nem sabia que tinha, consegui retomar o controle. Hoje, ainda faço uso, mas de uma forma consciente. No fim das contas, é como Ben disse “Você precisa se recompor, aprender com isso, aprender um pouco mais, tentar seguir em frente.”

    Vamos lá, vamos seguir em frente.

    Lucas Pimentel
    Lucas Pimentel
    Você acredita em milagres? Também não, mas vivo na esperança de um universo de filmes maravilhosos da DC. Enquanto não acontece, sonho e escrevo.

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