Aves de Rapina | Arlequina, da loucura a emancipação

    Heróis são inspirações para todas as gerações e todas as idades, além de grandes histórias que são um dos pontos que fascinam os leitores de quadrinhos, eles são exemplos, inspirações e até mesmo motivações para que as pessoas possam evoluir e crescer quando projetam isto na realidade.

    Dentro deste vasto mundo de heróis e heroínas temos a Arlequina, uma personagem muito carismática, midiática e uma vilã que gradativamente vem ganhando um papel de anti-heroína não apenas por uma mudança editorial mas por sua trajetória. Aqui vamos falar de todo o conteúdo psicológico por trás desta personagem.

    Assim como Freud realizava estudos sobre grandes personalidades como Leonardo Da Vinci, tentarei fazer um exercício semelhante, dada as devidas proporções, com Harley Quinzel, uma personalidade carismática que possui uma carga psicológica densa por trás da maluquinha que conquistou tantos fãs ao redor do mundo. Para realizar este exercício procurei tanto por quadrinhos quanto pelo o filme “Esquadrão Suicida” para que fosse possível entender a história da personagem.

    O que sabemos sobre a origem da Arlequina é que antes de ser parceira de crime e namorada do vilão em um relacionamento extremamente abusivo, ela era psicóloga no asilo Arkham e tinha como um de seus pacientes o flagelo de Gotham. Na história “Batman: Mad Love“, são revelados mais detalhes da sua vida, como ela ter sido uma ginasta, explicando também algumas de suas habilidades como lutadora.

    Pensando que a sua fascinação pelo Palhaço do Crime inicia-se a partir do momento que ele se torna seu paciente, e pensando em todo o contexto apresentado, pode-se dizer que durante o processo terapêutico ocorre uma contratransferência da parte de Harley, onde ela experimenta sentimentos em relação ao seu paciente e de certa forma seu inconsciente passa a entende-lo.

    Quando se fala de contratransferência, o momento em que o paciente passa a transferir conteúdos do seu inconsciente para o seu paciente, se define por dois tipos: a normal e a patológica. A primeira é positiva para o processo terapêutico, enquanto a patológico se origina nos conflitos não superados pela parte do terapeuta. Neste caso, a contratransferência de Harley é patológica pois é resultado de conflitos que ela já trazia consigo, acredito que ela seja psicótica, fazendo-a acreditar em seu inconsciente que entende o Coringa, passando a desenvolver sentimentos amorosos pelo paciente.

    É evidente que o alter ego Arlequina é uma forma escolhida por Harley para demonstrar o seu afeto pelo Coringa, mas também suponho que seja uma manifestação inconsciente da sua compreensão deste entendimento, que ocorre por causa da contratransferência. Este afeto e a constante obsessão por agradar o seu namorado me levam a acreditar que existe uma segunda condição psicológica que surge em decorrência desta relação: a Síndrome de Estocolmo.

    É um processo que ocorre sem que a vítima tenha consciência, no qual ela passa a desenvolver sentimentos afetuosos pelo agressor como um mecanismo de defesa, para assim conservar o inconsciente da vítima e a mínima demonstração de gentileza por parte do agressor é vista pela vítima de forma ampliada. Esta condição é muito comum em situações de sequestro, cenário de guerra e relacionamentos abusivos como o caso da Arlequina e Coringa.

    Após o lançamento do filme ‘Esquadrão Suicida’, muitos internautas principalmente adolescentes encaram a relação retratada no filme como um exemplo de um relacionamento amoroso, o que na verdade é muito pelo contrário, há ali uma relação abusiva aonde a Arlequina é uma vítima da violência tanto física quanto psicológica do Palhaço do Crime. O que é devidamente exemplificado ao longo do filme com as cenas da origem da personagem em sua versão cinematográfica, com tortura e agressões.

    Outra cena que chama atenção é o momento em que Harley salta em um tonel de ácido de uma forma ritualística (vídeo acima) e na constante busca por satisfazer os desejos do seu objeto de afeto. Quando esta cena é vista do ponto de vista do Coringa, é apenas algo trivial ele retira-la do ácido e pela sua expressão até um incômodo, mas, do ponto de vista de Harley, é um ato de afeto para com ela reforçando a ideia de que um comportamento gentil por parte do agressor do ponto de vista da vítima é considerado algo muito maior.

    Na fase de “Os Novos 52”, a Arlequina se separa do Coringa passando a ter novamente as rédeas da sua vida. Isso acontece a partir do momento em que ela se afasta do seu agressor, no caso do quadrinho ele acaba forjando a sua morte e removendo seu rosto em mais um momento de loucura do Coringa, mudando-se para outra cidade e passa a viver as suas próprias aventuras.

    Outro fator que suponho que seja importante para a emancipação da Arlequina é sua relação com Pamela Isley, a Hera Venenosa, passando a ter um relacionamento mais saudável e direcionando todo o seu afeto que surgiu desde o seu encontro com o Palhaço do Crime para sua nova companheira. Hera demonstra compreender as excentricidades da personalidade de Harley.

    Com o filme Aves de Rapina que será lançado nesta semana, esperamos ver esta emancipação acontecer também nos cinemas, que seja uma inspiração positiva para muitas pessoas que são vítimas de relacionamentos abusivos e não encontram forças para se livrar de seus agressores, podendo também encontrarem a sua própria liberdade.

    Ricardo dos Santos
    Ricardo dos Santoshttps://terraverso.com.br
    Fã de quadrinhos, séries, filmes e games. Apaixonado por DC de Grant Morrison a Alan Moore. Mais um privilegiado de estar na amada Terraverso.

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