The Death of Superman Lives | Documentário mostra por que você deveria parar de rir do Nicolas Cage vestido de Superman

    Você com certeza já deve ter visto por aí em algum lugar da internet: uma foto de Nicolas Cage, com cabelo na altura dos ombros, olhos semi-cerrados, vestindo o uniforme do Superman. Esse era um dos poucos registros que se tinha de Superman Lives, um projeto de filme cancelado que trazia o ator no papel do Último Filho de Krypton, com direção de Tim Burton e uma abordagem completamente diferente para um filme de super-herói – e não só para a já quase longínqua década de 90, mas até mesmo para os dias atuais. Superman Lives é, no mínimo, curioso. E é por isso que permaneceu vivo até hoje na imaginação do público, que só podia olhar para as fotos e vídeos dos testes de figurino de Cage e imaginar a grande tragédia que o longa seria. Mas… será que Superman Lives seria um fracasso mesmo? Será que uma foto é o suficiente para podermos tirar uma conclusão sobre o filme? Como Superman Lives nasceu? Como Superman Lives morreu? Qual a história por trás da história? O diretor John Schnepp reuniu essas e outras perguntas junto a sua admiração de fã para criar o documentário The Death of Superman Lives: What Happened, que tem a missão de entender mais sobre o famigerado projeto.

    Confira algumas imagens conceituais do filme cancelado abaixo:

    Em termos técnicos, The Death of Superman Lives não é um bom documentário. Seu formato não é muito bem estabelecido e sua filmagem não é muito inspirada. A direção e roteirização de Schnepp não consegue ser imparcial (e talvez nem queira). Também há uma necessidade muito grande de Schnepp de estar a todo momento em tela, aparecendo lado a lado de seus entrevistados, como se quisesse ter uma importância maior em uma história da qual não fez parte. Mesmo assim, o documentário é um must-see para qualquer fã de quadrinhos e para aqueles que querem entender mais sobre a indústria cinematográfica hollywoodiana. A pesquisa realizada por Schnepp e sua equipe conseguiu levantar novas e esclarecedoras informações sobre o projeto que, até então, era um completo mistério. E, justamente por suas falhas, acaba sendo um documentário acessível até mesmo para o espectador que não tem experiência (ou que tem preconceito) com este tipo de produção. Mas, o mais importante de tudo, The Death of Superman Lives se torna essencial para os fãs da DC Comics, que podem entender melhor passado, presente e futuro da Casa das Lendas no cinema.

    E porque todo fã de DC precisa ver The Death of Superman Lives? Porque é um documentário esclarecedor e que nos possibilita entender as escolhas da Warner sobre os projetos da DC que levou ao cinema desde a década de 90 até os dias atuais, na construção do DCEU. E um dos grandes méritos do documentário é apresentar ao espectador o papel da figura do produtor de cinema, que ainda é uma incógnita na cabeça de muitos. Schnepp coloca a narrativa de Jon Peters, produtor responsável pelo projeto e que também esteve por trás de Batman de 1989 e Viagem Insólita, frente a de outros envolvidos no projeto como Kevin Smith, o diretor Tim Burton ou o artista de efeitos especiais Steve Johnson, para tentar extrair as verdades dos bastidores. Essa tentativa, porém, é falsa, já que Schnepp sabe exatamente o que quer mostrar e não se preocupa em deixar o espectador criar seu próprio ponto de vista. Isso fica bem evidente na sua forma de apresentar Jon Peters para o público. O documentário acaba colocando Peters como um antagonista, ressaltando o ridículo de sua forma de pensar, a sua antipatia e suas falhas de caráter. Há inclusive uma cena onde Peters precisa atender o telefone durante a entrevista e o diretor, em vez de cortar a cena, prefere deixá-la no documentário, além de beber água em sinal de “desconforto”. Completamente desnecessário. Algo que só nos faz duvidar do documentarista e acaba desconectando os espectadores mais justos.

    E sabe o que é o pior de tudo? Schnepp não precisava ter pesado a mão. Se ele se preocupasse mais em mostrar verdadeiramente o material coletado não precisaria deturpar a narrativa para ridicularizar Peters. Já está tudo ali para o espectador. Logo no início já temos a dualidade das memórias de Peters e do primeiro roteirista do longa Kevin Smith, que conta quais foram as três solicitações feitas pelo produtor e pelos executivos da Warner. 1) Superman não pode usar seu uniforme clássico. 2) Superman não pode voar. 3) Superman precisa enfrentar uma aranha gigante no fim do filme (afinal, “aranhas são as criaturas mais perigosas da Terra”). Depois descobrimos que Superman Lives foi um título dado pelo próprio Smith, que achava o título anterior péssimo: Superman Returns (soa familiar?). Vamos aos poucos assistindo como Peter se apropria das ideias de Smith e o demite, partindo sozinho para o próximo passo já com um roteiro inicial e com a indicação de um nome para diretor: Tim Burton. O resto da equipe e os outros dois roteiristas de Superman Lives vão aparecendo ao longo do documentário, contando os prazeres e os desafios de se criar este novo mundo estabelecido. Principalmente os desafios – sendo Peters o maior deles. E o mais interessante é justamente entender as engrenagens da mente de Peters e dos executivos da Warner, que nos permitem montar uma outra linha de acontecimentos: a da história da DC/Warner nos cinemas. Quando somos apresentados a tudo que foi pensado para Superman Lives conseguimos ver porque o estúdio apostou em Superman Returns, anos mais tarde. Ou mesmo porque Nolan consegue explorar seu universo “sombrio-realista” na trilogia O Cavaleiro das Trevas. E até mesmo a liberdade de desconstrução de Snyder em Man of Stell e Batman Vs Superman. Por incrível que pareça, tudo começou com Superman Lives e seu sucesso (ou fracasso) que nunca se concretizou.

    Mas sem dúvida, os grandes nomes aqui são Tim Burton e Nicolas Cage. É muito gratificante e estimulante ver a entrega dos artistas no projeto. Por mais que a ideia geral de Superman Lives pareça absurda, ouvi-la sendo explicada pelo próprio Tim Burton é uma experiência única. A visão do diretor é recheada de sentidos e de inovação, e em muito se parecem com o que Snyder fará mais de uma década depois. A escolha de Nicolas Cage para o papel é, por mais que alguns possam duvidar, certeira. Cage possui a estranheza e a densidade dramática necessárias para viver o Kal-El de Superman Lives. Cage não é só um grande ator. Cage é um dos maiores atores de sua geração. E, além disso, um fã de quadrinhos – em especial do Superman. Seu próprio filho, Kal-El Coppola Cage, é uma prova disso. A mundialmente famosa foto de Nicolas Cage no uniforme do kryptoniano é só um teste de figurino, tirada em um momento de distração do ator e para uso interno da figurinista Collen Atwood. Essa mesma foto, ridicularizada ao redor do mundo, foi usada por Bryan Singer nas reuniões com os executivos da Warner Bros. Toda vez que uma de suas ideias não era aceita, Singer tirava a foto de Cage vestido de Superman para mostrar a eles que coisas piores já haviam sido aprovadas por eles. E no fim das contas, depois de assistir a The Death of Superman Lives, isso parece ser uma grande injustiça – e até perverso.

    É possível perceber que Burton, Cage e todos que se envolveram verdadeiramente com o projeto saíram com mágoas. É como se soubessem que algo verdadeiramente relevante e poderoso pudesse ter sido feito. A repercussão de Superman Lives e a grande piada que se tornou mostram que a audiência, muitas vezes, é um monstro de diversas cabeças. Acabamos, sem perceber, comprando narrativas sem ao menos estudar a fundo o que nos é contado. Passamos apenas a repetir discursos e ideias preconcebidas. No frio dos fatos e das meias-verdades acabamos perdendo nossa empatia. Seja a foto de um ator vestido como seu personagem favorito ou um documentário que busca transformar a figura de um produtor em um aproveitador barato – precisamos sempre pensar por nós mesmos, procurar além do que estamos vendo e além do que estão nos apresentando. A verdade e a justiça. Afinal, é isso que o Superman gostaria, não?⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀

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    Enfim…

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    The Death of Superman Lives: What Happened não é um bom documentário. A direção e a linguagem documental possuem diversos problemas e seu formato não é bem estabelecido. Para piorar, a imparcialidade do diretor Jon Schnepp é preocupante. Porém, The Death Of Superman Lives se prova um filme fundamental para os fãs de cinema e da DC Comics, que podem entender melhor a história de um dos projetos mais audaciosos da empresa e os bastidores de Hollywood.

    Superman Lives é a prova de que não existe fórmula mágica no cinema. Fazer um filme é um risco! O sucesso e o fracasso não podem ser facilmente previstos. É necessário arriscar, muitas das vezes. Poderia ser um grande filme? Um filme genérico? Um clássico da década de 90? Um fiasco memorável? Nunca saberemos. Mas, sendo bem sincero, esse poderia ser um fracasso muito mais interessante de assistir do que alguns sucessos de bilheteria por aí. A ousadia e estranheza de Superman Lives continuará habitando o imaginário dos fãs, assim como certos filmes de um certo diretor que passou pela DC…

    Depois de assistir The Death of Superman Lives talvez você comece a olhar com um pouco mais de carinho quando a foto de Nicolas Cage no traje do Superman passar pela sua timeline. E, só por isso, já vale assistir ao documentário.

    Rodolfo Chagas
    Rodolfo Chagashttps://terraverso.com.br
    Sou daqueles que saía correndo na saída da escola pra almoçar assistindo Liga da Justiça. Daqueles que juntava o troco do pão pra comprar gibi no sebo. Feliz de viver na melhor época pra ser nerd. Sem editorismo, amai-vos uns aos outros! A alvorada dos heróis ainda vai durar por muitos anos! Que Snydeus seja louvado e que Stan Lee viva pra sempre!

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