Dead Boy Detectives, agora em carreira solo!
No decorrer do arco Estação das Brumas, da odisséia original de Sandman, vemos uma dupla de eras distintas tendo suas inocências cerceadas através de atos com requintes amargos. Um fim deverás cru para almas com tamanhos sonhos. Entretanto, apesar das circunstâncias, uma fagulha de rebeldia juvenil, talvez acesa pelo desabrochar da amizade, foi capaz do inimaginável. Muitos sonham com tal presente, que outros intitulam como maldição, mas qual caminho segui quando duas crianças se juntam após negar a morte?
Criados por Neil Gaiman, e pelos artistas Matt Wagner e Malcolm Jones III, Charles Rowland e Edwin Paine são uma dupla de detetives sobrenaturais oriundos das páginas de Sandman, em 1991. Sendo personagens de natureza apaixonante, que após aparições corriqueiras em títulos adjacentes desse universo, tiveram a honra de se desventurar naquele que seria seu primeiro caso de total exclusividade, no ano de 2001, pelas mãos do, ainda iniciante, Ed Brubaker (Batman: Gotham Noir).
Em seu primeiro volume de Dead Boy Detectives, dividido em quatro edições, Brubaker explora os atritos da amizade, que encarna a áurea de opostos complementares. Com o meticuloso Edwin desejando agir pelas regras, enquanto a impulsividade de Charles a veem como um desafio. Com um sempre impulsionando o outro para mais fundo no mistério, que se prova não tão desafiador quanto a dupla de protagonista acredita. Por que no fim, a escrita nunca deixa os leitores esquecer que no fim são apenas crianças, que se inspiraram em filmes antigos de mistério para dar um novo rumo em suas vidas pós morte.
A base central do enredo está na inocência, seja na ótica dos protagonistas ou nas circunstâncias em que ambos são inseridos. Com Marcia, esse exemplo de jovem vinda de uma sub cultura marginalizada da Inglaterra, decidindo arriscar suas chances indo de encontro aos detetives, em sua mais nova casa-da-árvore/escritório, para solucionar as macabras mortes de seus amigos, aos quais as autoridades não acham validos o bastante para investigar. Despertando a rebeldia dos não vistos, que em momentos de desespero não temem nem mesmo o encontro com o sobrenatural.
Encontro esse carimbado com rostos familiares aos fãs, que surgem na historia não só como piscadelas para os aficionados, como Mad Hettie, que desempenha aqui um papel central. Partindo de falsos antagonistas para aliados, e até mesmo mentores para essa mórbida jornada encantadora para os desbravadores do que ainda não enxergam com cautela o desconhecido.
Tal desventura transposta ao olhar pelas sinistras artes de Bryan Talbot, contrastando a brutalidade do texto com a inocência dos personagens através dos olhares vazios e cheios de pureza. Criando uma zona de estranhamento que vaga perfeitamente entre o mistério e a fantasia. Mostrando uma Londres corroída de dentro para fora, porém sem o maniqueísmo nas aparências. Destacando os mais fiéis aliados em realidades mais insalubres. Brincando com a percepção daqueles dentro e fora das páginas de Dead Boy Detectives, por meio dos detalhes.
- Neil Gaiman comemora o inicio das filmagens de Dead Boy Detectives.
- Anunciada nova minissérie de Dead Boy Detectives.
Contudo, o chamado a aventura é afrodisíaco, cegando até olhos em outro plano, tendo uma resolução que até poderia ser mais simples, mas exigiria um ato talvez até mais difícil que negar a própria morte, escutar os mais velhos. No entanto, a trama entende que não existe melhor professor que o fracasso, e transforma essa obvia falta de atenção em aprendizado. Destravando habilidades variadas que, não só amadurecem Edwin e Charles, como também os fazem compreender o horizonte das sua reais natureza. Por que no fim, a verdadeira jornada de toda criança é crescer, mesmo para as moribundas.
Roteiro: Ed Brubaker
Artes: Bryan Talbot
Colorização: Daniel Vozzo
Letras: Willie Schubert
Capas de: Dave McKean