Heróis em Crise | A crise de identidade moderna na DC Comics

    Não é novidade para nenhum fã de quadrinhos de longa data que a DC Comics sempre foi conhecida por sua grande quantidade de crises, seja uma crise em infinitas Terras, uma crise no tempo, uma crise final  ou uma crise de identidade. Cada crise foi parte de um período histórico muito marcante aos leitores de quadrinhos e fãs de heróis em geral sendo cada um destes momentos um marco importante na história dos quadrinhos.

    A nova crise que surge na DC não tem necessariamente proporções universais ou que afetaram todo um mundo, ou mundos, como conhecemos. Esta é uma crise mais íntima, e mostra um ponto em particular que em raros momentos são lembrados em uma história em quadrinhos, o que os heróis sentem após os momentos mais difíceis.

    A tentativa de mostrar este viés mais psicológico foi abordada na mini-série em 9 edições Heroes In Crisis (Heróis em Crise) escrita por Tom King com arte de Mitch Gerards e Clay Mann sendo publicada entre setembro de 2018 e maio de 2019,  seus tie-ins estão nas edições de Batman e Flash #64 e #65 com a história “O preço” e suas consequências são as mini-séries Arlequina e Hera Venenosa, com previsão de lançamento para setembro de 2019 e uma história solo de Wally West chamada “Fast Foward” continuando os eventos do seu desfecho em Heroes in Crisis.

    Quanto a história em si pode-se considerar que não é uma das obras-primas escrita por Tom King, que já trouxe histórias muito boas na mensal do Batman e a mini-série do Senhor Milagre que inclusive recebeu indicação ao Eisner, mas ainda sim podemos dizer que é uma história com o DNA do roteirista que foca em uma abordagem psicológica dos heróis de um modo mais amplo, nas mensais do Batman uma das características do seu roteiro são as reflexões em torno dos conflitos internos de Bruce Wayne, o quanto isso o afeta nas suas escolhas de vida e em sua batalha como o vigilante de Gotham, o leitor poderá perceber essas reflexões em cada um dos heróis e vilões que surgiram nesta narrativa.

    A premissa gira em torno do santuário, um local que tem como objetivo ser um centro de acolhimento aos heróis que sofrem com os traumas e pressões psicológicas das situações de perigo extremo nas quais são submetidos, sendo um refúgio para se trabalhar com essas decepções e dúvidas que também são parte da vida de um herói, no momento em que acontece uma misteriosa onda de assassinatos que arrebatou os refugiados exceto Gladiador Dourado e Arlequina que são os maiores suspeitos de terem cometido o crime.

    Apesar de ser uma história aparentemente voltada ao mistério dos assassinatos do santuário, o que se deve ressalta ao leitor é que volte a sua atenção aos momentos de reflexão dos heróis no confessionário do refúgio, geralmente a ótica sobre os heróis são de pessoas que em situação de dificuldade e medo são as primeiras a mostrar características típicas como segurança, autoconfiança, convicção, determinação e bravura que os destacam dos seus semelhantes tornando-os exemplos de bondade e modelos de moralidade a serem seguidos. Mas nesta história, podemos ver um lado mais frágil destes modelos de homens e mulheres que lutam contra qualquer ameaça buscando evitar que o pior aconteça, nos deparamos com pessoas com conflitos, medos, incertezas, angustias e traumas tornando-os mais próximos de um conceito mais humanizado de um herói independente da sua origem.

    Um exemplo destes momentos é quando o Superman usa o confessionário revelando as suas dúvidas sobre a dualidade de sua vida como herói de outro planeta e o homem criado em Smallville, jornalista na cidade grande, se perguntando quem na verdade seria ele entre um e o outro momento, também quando Wally West que veio da força de aceleração sente falta de relações que tinha quando vivia em uma outra realidade.

    E não apenas heróis foram buscar refúgio no santuário, Arlequina e Hera Venenosa, vilãs do Batman que protagonizam um dos momentos mais encantadores na história, estavam no santuário no momento dos acontecimentos trágicos culminando com morte da  Dr. Pamela Isley, levando Arlequina a um frenesi de loucura em busca de quem ela acredita ser o culpado. Outro detalhe que é importante se destacar é a relação entre o Besouro Azul e o Gladiador Dourado, que se dispõe a ajudar seu parceiro a entender o que esta acontecendo inclusive colocando a amizade acima do heroísmo.

    Mesmo sendo uma história mais voltada para Liga da Justiça na solução do crime, outros personagens se destacam na narrativa de Tom King como o Gladiador Dourado e Arlequina, os principais suspeitos, que apresentam versões completamente diferentes dos acontecimentos levando-os a tentarem provar a sua inocência com a ajuda de Besouro Azul e Batgirl respectivamente, levando a história em direção de uma reviravolta surpreendente em relação a tudo que é revelado até o momento da grande surpresa sobre o verdadeiro culpado do que houve com os heróis.

    Neste momento a história lembra muito a Crise de Identidade, não apenas por ser uma história na qual heróis estão se investigando e se acusando por algum crime, mas por ser um conto que coloca a índole muitas vezes indubitável de um herói em cheque, o que neste caso em seu desfecho pode trazer um certo desagrado ao leitor.

    Heroes in Crisis talvez não seja uma história que consiga agradar um grande público devido aos elementos que são trazidos em sua narrativa, mas pode ser mais um elemento agregador no conceito de humanização dos heróis, ao que se pode perceber este é o maior objetivo da história, mostrando que apesar das  sua grandes virtudes eles possuem medos, duvidas e incertezas.

    Nota:

    50/52 – Ótimo

    Ricardo dos Santos
    Ricardo dos Santoshttps://terraverso.com.br
    Fã de quadrinhos, séries, filmes e games. Apaixonado por DC de Grant Morrison a Alan Moore. Mais um privilegiado de estar na amada Terraverso.

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