Harleen | Uma história sobre a origem definitiva da Arlequina

    Contando com uma visão mais realista da origem de Arlequina, ”Harleen” serve como versão definitiva para o nascimento da personagem mais popular do selo na ultima década. O responsável pela edição é Stjepan Sejic.

    Apresentada como uma profissional dedicada, Harleen é uma mulher decidida a mudar o sistema. Em sua primeira aparição, logo nas primeiras páginas, a loira apresenta para uma sala de homens com pouco interesse sobre seus profundos estudos para presos que possuem anos perdidos no sistema. Harleen conclui que muito pode se aprender observando e estudando psicopatas e sociopatas, apresentando sua conclusão de descobrir maiores informações sobre como indivíduos assim são formados, criados, e como impedi-los.

    Atormentada por sonhos com uma figura misteriosa, Harleen se encontra no meio da guerra entre o Coringa e Batman durante uma noite em Gotham, e ali, tem seu primeiro encontro com o Palhaço do Crime, que mesmo de relance, já consegue despertar sua curiosidade. Com sua pesquisa financiada pelas empresas Wayne, Harleen entra com o pé direito no Asilo Arkham, mas não imaginava que aquele local seria palco do início de sua queda.

    Eles dizem que a definição de loucura é fazer a mesma coisa de novo e de novo, esperando resultados diferentes.” – Essa é a primeira frase que sai da boca do Coringa ao cruzar com a Doutora Harleen Quinzel, logo no primeiro dia de trabalho da moça, que é pega de surpresa pela presença do palhaço no Asilo. Então ela se apega a ideia de estudar a figura perigosa e o que ela representa.

    Logo na primeira edição, Quinzel passa sua tentativa de recomeço, levando a narrativa por momentos que te forçam a simpatizar com seus avanços, afinal, Harleen realmente estava tentando fazer algo bom. Fugindo do seu passado conturbado, a doutora não consegue escapar da sua fama, fazendo de sua ida a Arkham muito bem-vinda, era como se Harleen já estivesse presa do lado de fora, dentro dos corredores do Asilo. Quinzel se sentia em casa.

    Victor Zsasz, Pamela Isley e Edward Nygma. A doutora Quinzel teve contato com todos, mas a figura do Coringa ainda marcava seus pesadelos. Aqui, Stjepan Sejic estabelece o medo sentido por Harleen antes mesmo de conhecer o Palhaço do Crime, sua fama, e seus breves encontros anteriores marcaram Quinzel de um modo muito negativo. Ela tem medo, ela te passa esse medo, e você entende, da perspectiva da vítima, como a influência do Coringa funciona e como ele consegue entrar na mente de suas vitimas, sem ao menos tentar.

    Motivada pelo medo e pelas falsas ameaças de Harvey Dent (antes do incidente), Harleen decide enfrentar seus pesadelos e começa suas entrevistas com o Coringa, ou como ele pede para ser chamado, Mister J, e é assim que o livro 1 termina, o primeiro real encontro, pelo menos o primeiro em que ela causa certa impressão no palhaço, e honestamente, a antecipação do momento é tão bem construída que a leitura, apesar de tratar de assuntos pesados, passa com leveza. No final do livro 1, você se sente no começo, preparado para mergulhar na mente doentia do maior vilão da cultura pop.

    Quando a historia progride para o livro 2, a visão do Coringa fica mais clara, e o paralelo feito com a opinião pública de Gotham, onde mais de 60% de seus moradores não confiam ou acreditam mais na polícia, a política do vilão acaba se tornando uma realidade absoluta, principalmente quando vista do ponto de vista de sua vítima, a Dra. Quinzel. Todos estamos propícios a surtar, todos temos pensamentos ruins, apenas alguns tem a coragem de agir neles.

    Eu só quero o seu sorriso” continuou Mister J, em um momento crítico para a Harleen, onde cada palavra do palhaço era analisada por dias, e essa frase se fixou na cabeça da doutora, permeou seus sonhos, e a cada página descritiva sobre ela, somos mais uma vez testemunhas do trabalho cuidadoso que o vilão tem para penetrar na mente de suas vítimas. O sorriso de Harleen foi só o começo, e em suas sessões, Quinzel descobriu um homem machucado e imprevisível, que cuidadosamente plantou a ideia de que precisava de ajuda. Ajuda de alguém que se importa, e infelizmente, Harleen Quinzel se importava, até demais.

    Outro grande triunfo do livro 2 foi a origem de outro vilão famoso da DC, o Duas Caras. Aqui, Harvey também pode ser considerado uma vítima, parcial da cidade de Gotham. Stjepan Sejic fez um ótimo paralelo com os dois lados da moeda, dando dois casos extremos a serem analisados pelo leitor. Uma pessoa motivada por paixão a suas crenças, e outra com segundas intenções que definitivamente não a classificariam como totalmente limpa. Ambos sofrem algum tipo de pressão, ambos encontram obstáculos em sua motivação, e ambos acabam em ruínas, independente das boas ações. Em breve, Hervey e Harleen irão voltar para Arkham, só que dessa vez, como pacientes.

    Decidida a ser a pessoa que irá salvar o Coringa, Harleen acabou baixando sua guarda, e no início do livro 3, o último dessa saga, encontramos a doutora mais embaraçada do que nunca. Ela entrou em um território jamais explorado por alguém antes, pelo menos para ela, e acreditou que estava tendo progressos dentro da mente do Mr. J, quando na verdade, ela era usada por ele. O livro te mostra angustiantes páginas com Harleen caindo em um espiral que te deixa apreensivo e impotente, pois você sabe o que vai acontecer, mas não pode fazer nada.

    Todas as 3 edições apresentam artes incríveis, mas aqui, no livro 3, Stjepan reproduz as melhores cenas da Arlequina que qualquer fã pode imaginar, e de quebra ganhamos belíssimas cenas com Ivy e outros vilões.

    Em uma zona de guerra, empatia é um fardo. Reconhecer a humanidade do seu inimigo irá te fazer hesitar. Uma cortesia que seu seu oponente pode não te oferecer em retorno.” – Harleen Quinzel

    Harleen” é recheado com momentos intensos, artes de tirar o fôlego, e um olhar mais realista para a história trágica de uma jovem mulher traída pelas próprias vontades, manipulada por decisões duvidosas, e sua incrível motivação. Definitivamente, ao meu olhar, a melhor caracterização da Arlequina nos últimos tempo. Impactante, importante e necessário, Harleen é a representação perfeita de uma das origem mais tristes e conturbadas da DC e merece ser colocada, junto com seu escritor Stjepan Sejic, ao lado de grandes clássicos não só do Batman, mas como de toda a DC Comics.

    Nota:

    Juan Santos
    Juan Santoshttps://terraverso.com.br
    "Lembrai, lembrai, o cinco de novembro. A pólvora, a traição e o ardil; por isso não vejo porque esquecer; uma traição de pólvora tão vil" - “V for Vendetta”

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