#EspecialLigaSombria | Um conto de terror do Monstro do Pântano

    A Liga da Justiça Sombria é uma equipe que reúne os personagens do universo DC ligados intrinsecamente a magia e o mistério e, dentre seus membros, o Monstro do Pântano é um dos personagens que podem exemplificar de forma categórica este termo além do elemento clássico do terror.

    O herói representa o avatar da natureza e a sua revolta diante de toda a destruição que a humanidade causou ao verde ao longo de sua existência. O personagem possui características de um próprio conto de terror, mas com um significado mais profundo, um ser que questiona a sua própria existência em um conflito entre o que ele era como ser humano, um cientista brilhante, e o que se tornou como uma criatura formada da própria natureza.

    O Monstro do Pântano foi criado por Len Wein e Bernie Wrightson tendo sua primeira aparição em House of Secrets #92 lançada em julho de 1971. A HQ começou a ser publicada na década de 50 e tinha como proposta ser uma reunião de contos de fantasia, mistério e terror escrita por diversos artistas e roteiristas. A edição traz os contos Snipe Hunt e Trick or Treat escritas por Gerry Conway, After I Die! de Jack Kirby e Mark Evanier , It’s Better to Give de Mary Skrenes e Swamp Thing onde o personagem principal dava o nome ao título da história.

    Diferente do que conhecemos atualmente, a história foi um conto de terror ambientada na Louisiana no início do século XX. Narrando os acontecimentos que levaram o jovem talentoso Alex Olsen, um cientista com um futuro promissor vítima de um assassinato tramado por seu assistente, Damian Ridge que, sabotando seus equipamentos, causou uma explosão que matou o cientista e, por fim, acaba escondendo seu corpo em um pântano.

    O assassino então casou-se com Linda, viúva de Alex, e quando estava em vias de planejar o assassinato de sua esposa é surpreendido por uma criatura que surgiu matando-o antes que pudesse concretizar seus planos. Linda foge em desespero sem saber que o seu salvador foi Alex, agora uma monstruosidade criada a partir dos produtos químicos da explosão causadora de sua morte, se tornando a criatura solitária conhecida como Monstro do Pântano.

    Uma marca interessante a respeito do personagem é que diversos roteiristas que futuramente ganhariam uma visibilidade muito maior na DC começaram sua trajetória trabalhando com o Monstro do Pântano. Ao todo foram lançadas três séries do avatar da natureza e mais uma outra série lançada no período do reboot ‘Os Novos 52’.

    A primeira série

    A primeira publicação do Monstro do Pântano foi um run escrito pelo próprio Len Wein e posteriormente passou para as mãos de David Michelinie e Gerry Conway, que finalizaram com o total de 24 edições lançadas entre os anos de 1972 e 1976. Wein foi responsável pelas 13 primeiras edições enquanto Micheline e Conway pelas restantes.

    Neste período surgem dois personagens que serão importantes na história do avatar da natureza, Anton e Abigail Arcane, o primeiro por ser o maior vilão do Monstro do Pântano e Abby o seu interesse amoroso. Anton é um cientista louco que procura a vida eterna e acredita que o segredo para o seu objetivo reside na essência daquele que um dia foi Alec Holland. Ele apareceu diversas vezes ao longo desta fase em diferentes formas a medida que morria e retornava, sua aparência variava desde um velho até uma aranha gigante.

    Abigail Arcane inicialmente não tem nenhuma ligação com Alec Holland e a sua transformação na criatura que aterroriza o pântano. Ela é esposa do agente do governo Mathew Cable, que investigava o desaparecimento do cientista. O personagem foi morto neste período mas ressurgiu na forma de um corvo no universo de Sandman de Neil Gaiman. Nesta primeira fase, Abigail é casada com Mathew mas possui uma grande empatia tanto por Alec Holland quanto pelo Monstro que se tornou, ajudando-o da melhor forma possível a sobreviver.

    A segunda série

    Esta segunda fase é a que o personagem mais se desenvolve e muitos conceitos que foram criados neste período estruturaram a origem do Monstro do Pântano para publicações posteriores, além de marcar a chegada do que talvez seja o melhor amigo de Alec Holland (ou não) no universo mágico da DC, John Constatine, o Hellblazer.

    Apesar de ser a fase de maior desenvolvimento criativo do personagem as coisas não começaram muito bem. Esta segunda fase do herói iria começar no ano de 1978, durante o evento DC Explosion, o maior fracasso editorial da DC na época causando um cancelamento em massa de mais de 24 títulos e lembrado na história como o DC Implosion. O lançamento acabou ocorrendo em maio de 1982, aproveitando o lançamento do primeiro longa do personagem dirigido por Wes Craven e sendo escrito por Martin Pasko e Dan Mishkin, não alcançado o sucesso que se esperava do lançamento. O período também marca a chegada do personagem ao selo Vertigo, permanecendo por muitos anos até ser trazido novamente ao universo recorrente da DC.

    Após a saída de Pasko, o roteirista Alan Moore, até aquele período seu trabalho mais conhecido era nas revistas 2000 A.D. assume o personagem realizando mudanças conceituais que são referência até os dias atuais. Este novo conceito entorno do Monstro do Pântano conecta a origem do personagem com a sua primeira versão que surgiu em House of Secrets, determinando que tanto Alec Holland quanto Alex Olsen fazem parte de uma longa linhagem de homens que foram escolhidos para se tornarem o Monstro do Pântano, um avatar da natureza escolhido pelo Parlamento das Flores para proteger toda vida vegetal na Terra.

    Neste período, além de Moore, assumiram também a revista Rick Veitch, Doug Wheeler, a escritora de terror Nancy A. Collins, Grant Morrison e Mark Millar, encerrando a série. Outro momento marcante da segunda série do Monstro do Pântano é primeira aparição de John Constantine, o Hellblazer, que futuramente seria um personagem marcante na história do universo DC além de colega de equipe do próprio Monstro do Pântano na Liga da Justiça Sombria, e um grande amigo, apesar da ambiguidade da relação entre os dois.

    A terceira série

    A terceira fase lançada em 2001 escrita por Brian K. Vaughan foi marcada por uma grande rejeição dos leitores por colocar o Monstro do Pântano como um personagem secundário dentro da própria revista que é protagonizada por Tefé Holland, filha de Alec e Abby, concebida através de Constantine ao ser possuído pelo Monstro do Pântano. Com uma protagonista diferente nesta fase de histórias, a maior situação problema desta fase gira em torno de Tefé não ter controle sobre os seus poderes que são uma combinação da energia elemental tanto da vida vegetal. quanto da manipulação da carne. graças ao sangue demoníaco de Constantine. O final desta fase é marcado por Tefé comendo o fruto da árvore do conhecimento que é vista na bíblia.

    Os Novos 52

    Com a chegada do reboot em 2011 chamado Os Novos 52 o avatar da natureza retorna a lista de mensais da DC sendo escrita por Scott Snyder, atualmente o roteirista trabalha no evento Noites de Trevas: Death Metal, e sua origem não foi recontada mas o personagem foi renascido na nova realidade do universo DC.

    Nesta fase, Alec Holland renasce após os eventos de “O Dia Mais Claro”, com vagas lembranças a respeito de uma criatura que acreditava ser o cientista. Após ser visitado por alguns heróis, Holland é encontrado por um de seus antecessores relembrando o seu passado e a necessidade de retomar ao seu lugar como o Monstro, porém, ele renega o chamado até ser encontrado por Abby Arcane que pede ajuda para salvar ser irmão William de se tornar o avatar da decadência ou o podre, um elemento ligado diretamente a tudo que esta morto e que já foi utilizado por Anton Arcane.

    Durante a jornada, eles se apaixonam e, após o sequestro de Abigail e a quase destruição do Parlamento das Flores, Holland decide retornar ao verde se tornando novamente o Monstro do Pântano. Após o run de Scott Snyder, Charles Soule assume a mensal tendo como o grande inimigo em suas história Jason Woodrow conhecido como The Seeder.

    Minissérie 2016

    O último título solo do personagem foi escrito por Len Wein e volta a contar uma história do monstro que ele mesmo criou. A minissérie de 6 edições também conta com a arte de Kelley Jones, fazendo parte da iniciativa DC You e apresentando a participação de alguns membros da Liga da Justiça Sombria.

    A história envolve uma ameaça ao próprio Monstro do Pântano, que é atacado por forças que utilizam-se de magia negra. A história apesar de relativamente curta conta com a presença de Zatanna, Desafiador, Vingador Fantasma, Constantine e o Espectro e até o momento não foi lançada no Brasil.

    Personalidade

    O elemento mais atraente do Monstro do Pântano gira em torno das questões da sua própria existência. Em todas as suas reencarnações, aquele que se torna o avatar da natureza sempre questiona se o que existe é o humano que um dia foi ou algo completamente diferente. Alec Holland também vive esta ambivalência em relação a compreensão da sua auto-percepção.

    Após as mudanças realizadas por Alan Moore, esta luta interna do herói se torna bem mais nítida do que foi vista na primeira aparição do personagem na encarnação de Alex Olsen, agora passada a encarnação de Alec Holland que inicialmente se mostra muito confuso em relação ao que aconteceu após a sua morte.

    A transferência da consciência do homem para o avatar pode ser discutida dentro da definição do que realmente significa existir, afinal, Alec Holland existe por ser um humano biologicamente ou por sua consciência, ou qualquer que seja a definição de alma, ser transportada para uma formação vegetal capaz de reproduzir suas lembranças, sonhos, emoções, medos e sua visão de mundo que foi construída enquanto carne e osso? Ele é apenas Alec Holland ou o próprio homem e algo a mais? O próprio personagem reflete isso em suas histórias quando procura entender o que aconteceu e, se refletirmos de acordo com a frase de René Descartes “Cogito ergo sum“, assim que ele realiza o exercício da sua razão, ele existe.

    Talvez a maior prova da sua existência seja os sentimentos que Abigail Arcane tem pela criatura. Abby não enxerga o Monstro do Pântano apenas como um ser vegetal humanoide que em algum momento salvou a sua vida, mas consegue ver a existência em conflito por detrás da criatura, conseguindo nutrir grande afeto e ignorando qualquer questão biológica. Arcane não o ama apenas por ter sido um homem, mas pela beleza da sua própria existência tanto como Alec Holland quanto como o Monstro do Pântano.

    Outras mídias

    Ao todo foram produzidos dois filmes de TV, dois seriados e uma série animada do Monstro do Pântano, além de aparições esporádicas em longas animados.

    Filmes


    O primeiro longa metragem adaptando o avatar da natureza foi no ano de 1982 e foi dirigido por Wes Craven. O diretor é conhecido pelos filmes da franquia ‘A Hora do Pesadelo’ e tenta trazer uma atmosfera mais assustadora para o longa dentro das limitações tecnológicas e um orçamento bem modesto. O filme foi estrelado por Ray Wise como Alec Holland e Dick Durock como o Monstro do Pântano, Anton Arcane foi interpretado por Louis Jourdan e Adrienne Barbeau deu vida a Alice Cable. Neste primeiro filme não foi utilizada Abigail Arcane, o longa recebeu críticas positivas sendo uma das razões que impulsionaram a DC a lançar uma nova publicação da HQ do personagem.

    Apesar do sucesso do primeiro filme, sua continuação só ocorreu sete anos mais tarde em 1989. Intitulado “A Volta do Monstro do Pântano” o filme não teve o mesmo sucesso do anterior e houveram mudanças tanto na direção quanto no elenco que teve a participação da atriz Heather Lockelear como Abigail Arcane. A mudança no tom em relação ao seu antecessor é uma das grandes diferenças que ficaram evidentes de um filme para o outro.

    Após o lançamento do serviço de streaming DC Universe, foi anunciado uma série do Monstro do Pântano produzida pelo diretor James Wan que havia dirigido um filme de outro personagem da DC, o Aquaman. A série foi lançada em maio de 2019 e o elenco contava com Andy Bean como Alec Holland e Derek Mears como o Monstro do Pântano e Crystal Reed interpretou Abby Arcane.

    Apesar da série ser muito elogiada pela crítica, a produção foi cancelada antes do lançamento da sua primeira temporada por problemas de orçamento. O clima de terror em torno da misteriosa morte de Alec Holland trouxe a mesma sensação que se tinha ao ler os quadrinhos, principalmente nas suas primeiras fases, e o relacionamento entre a criatura do pântano e Abby Arcane tinham um prognóstico promissor. Realizamos uma análise desta temporada e você pode conferir clicando aqui-

    Nas animações, o personagem aparece em duas histórias do universo de filmes animados da DC, que iniciou em Flashpoint sendo a sua primeira aparição em ‘Liga da Justiça Sombria’ de 2017 e ‘Liga da Justiça Sombria: Guerra de Apokolips’. Em ambas as animações as participações do Monstro do Pântano são pequenas e sempre com John Constatine, mas em ambos os casos é demonstrada toda a força do avatar da natureza.

    Não importa qual seja a mídia, o Monstro do Pântano sempre será um personagem interessante, seja como um conto de terror ou como as histórias do guerreiro que representa a luta da mãe natureza para manter a sua sobrevivência. Sempre que o verde estiver em perigo, a criatura que um dia foi Alec Holland irá se erguer das águas escuras dos pântanos da Lousiana para defende-lo.

    Ricardo dos Santos
    Ricardo dos Santoshttps://terraverso.com.br
    Fã de quadrinhos, séries, filmes e games. Apaixonado por DC de Grant Morrison a Alan Moore. Mais um privilegiado de estar na amada Terraverso.

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