O ano era 1992. O mundo era um lugar totalmente diferente… O CD estava se popularizando, Vanilla Ice tocava aos montes nas rádios, o corte de cabelo estilo Chitãozinho e Xororó era a moda e as pochetes estavam aos montes nas cinturas dos brasileiros. Sim, era um mundo no mínimo peculiar. Mas o DCnauta estava muito feliz naquele ano. Depois de dois memoráveis filmes do Batman, em 1989 (Batman, com Jack Nicholson como Coringa e Michael Keaton como o Homem Morcego), e em 1992 (Michelle Pfeiffer icônica como Mulher Gato e Danny DeVitto como Pinguim). Então era a hora de uma série animada.
Todo filme de ação que fazia sucesso nos cinemas dos anos 1980/1990, tinha quase que obrigatoriamente ter uma série animada, para que o sucesso com as crianças fosse mais duradouro (e para vender brinquedos, é claro). Foi assim com Rambo, Robocop, De Volta Para o Futuro, Caça-Fantasmas… E não poderia ser diferente com o Homem Morcego.
Batman The Animated Series estreou no canal Fox americano em 7 de setembro de 1992, com o episódio piloto On Leather Wings (na tradução nacional ficou como Asas de Couro). Produzido por Allan Burnett, Eric Radomski e por Bruce Timm, logo virou um estrondoso sucesso. Seguindo um estilo totalmente diferente do que havia na época, a animação se destacava por trazer um visual que misturava o clima dos filmes noir dos anos 40, e usar e abusar do estilo art deco dos anos 20, com muitos dirigíveis nos ares, carros e edifícios característicos da época. Tudo isso misturado com as tecnologias dos equipamentos do Batman e da batcaverna. Essa mistura era intencional, para deixar o desenho com uma certa atemporalidade. E funcionou.
Além do visual, o que chamou a atenção do público foram as histórias e os roteiros do desenho. Naquele ano de 1992, desenhos animados de super heróis ainda eram algo visto como totalmente infantis. O que tínhamos até então com os heróis DC eram os desenhos dos Super-Amigos, produzidos pela Hanna Barbera que foram um imenso sucesso entre as crianças nas décadas de 1970 e 1980. Apesar de serem divertidos, esses desenhos tinham roteiros bem fraquinhos.
Já com Batman The Animated Series, a coisa mudou de figura. Os roteiros eram pensados de forma a contar uma história com temas que agradariam tanto as crianças como os adultos, que foi o que aconteceu o arco Two Face. Esse arco conta como o promotor público de Gotham City, Harvey Dent, se transforma no vilão Duas-Caras após ser atingido por uma explosão em um tanque de produtos químicos. A carga dramática contida nesse episódio, com todo o drama da deformação de Harvey Dent e como isso o levou a ficar insano, era algo que até então não era tratado nos desenhos animados.
Outro exemplo de vilão foi o Sr. Frio. Esse vilão, criado 1959 por Bob Kane, estava no ostracismo desde a sua aparição na série de TV do Batman dos anos 1960. Porém, isso mudaria no episódio Heart of Ice (Coração de Gelo na tradução nacional), onde o Sr. Frio foi totalmente reimaginado e sua história recontada. O episódio conta a história do Dr. Victor Fries, um brilhante cientista que busca uma solução na criogenia para salvar sua esposa, Nora, de uma doença que a está matando. Trabalhando na GothCorp, Fries decide que a melhor forma de salvar sua esposa é congelando-a para que assim ele tenha mais tempo de pesquisar uma cura. Mas, durante as pesquisas, o dono da GothCorp, Ferris Boyle, decide interromper o financiamento do Dr. Fries alegando que o investimento estava exorbitante e que necessitava do laboratório para outros usos. Desesperado, Fries entra em luta corporal contra Boyle, mas acaba levando a pior e foi atingido por produtos químicos que o afetariam de forma que só poderia sobreviver em temperaturas abaixo de zero. Tempos depois, ele desenvolve uma roupa protetora e uma arma que dispara raios de gelo e começa a roubar os equipamentos da GothCorp enquanto trama sua vingança contra Ferris Boyle. Com esse background cheio de drama, um dos vilões mais promissores do Batman foi ressuscitado.
Falando em vilões, a série utiliza muito bem tanto os personagens clássicos quanto cria novos que ficaram marcados, e até ganharam vida nos gibis. Além dos já citados Duas-Caras e Sr. Frio, apareceram na série o Morcego Humano, Crocodilo, Charada, Hera Venenosa, Mulher Gato, Chapeleiro Louco, Cara de Barro, Pinguim e outros. Mas claro que o destaque ficaria para o Príncipe Palhaço do Crime e sua “namorada” nova.
O Coringa, entre ações e menções, aparece em 18 episódios da série. E não podia deixar de ser diferente, afinal o maior vilão do Batman merecia um destaque desse tipo. Com a voz e interpretação impecáveis de Mark Hamill (o Luke Skywalker de Star Wars), o Coringa sempre rouba a cena nos episódios que participa, levando o Batman aos limites de suas forças. Além disso tudo, o vilão também “trouxe á vida” uma personagem que logo se tornou uma das mais populares da DC Comics.
Arlequina não era pra ser o que foi… Seria apenas uma ajudante do Coringa. Porém, a criação de Paul Dini conseguiu mais espaço do que jamais foi pensado, e o sucesso então veio. Logo a química entra a Dra. Harleen Quinzel e o Coringa se tornou imprescindível para a série. Você pode saber mais sobre a Arlequina no nosso especial de 25 anos da estréia da Palhaça do Crime clicando aqui.
E claro, não poderíamos deixar de falar do protagonista da série animada. Batman, interpretado por Kevin Conroy, é tudo aquilo que esperamos do herói: um detetive impetuoso que não mede esforços na busca pela justiça. Na série, tanto Bruce Wayne como o Batman são importantes, já que em vários episódios o herói usa sua identidade secreta e sua influência e contatos como bilionário nas investigações. Já na primeira temporada somos apresentados ao Robin (Dick Grayson nessa primeira versão) um pouco mais adulto. Com o passar dos episódios, surgem a Batgirl, o Asa Noturna e um novo Robin (agora como Tim Drake). Além do sempre fiel escudeiro do Homem Morcego, Alfred Pennyworth. Outro personagem icônico é o batmóvel. O modelo, que aparece logo na abertura do desenho, ficou como um dos mais belos da história do veículo, baseado diretamente no modelo dos filmes de Tim Burton.
Por esses, e muitos outros motivos, que Batman: The Animated Series é aclamada até hoje como uma das melhores séries animadas da história. Quantos de nós éramos crianças no começo dos anos 1990 e ficamos vidrados quando aquela abertura nos chamava para a aventura no Sábado Animado? Até hoje dá aquele arrepio quando a música tema da série (composta por Shirley Walker, baseada no tema dos filmes criado por Danny Elfman) toca, e quando um episódio começa.
Caso você leitor ainda não conheça essa maravilhosa série, faça um favor ao seu espírito DCnauta e corra atrás. Vale cada segundo!