Um apresentador falastrão. Uma dançarina de cabaré. Homens bêbados. E assim começa a mais nova animação: Um Conto Batman – Gotham City 1889!
Depois de dirigir Batman: A Piada Mortal, Batman: Ano Um entre outros, o queridinho da DC Animation volta no lançamento dessa adaptação dos quadrinhos. Sam Liu se une ao roteirista de LEGO Batman, James Krieg, pra criar uma Gotham Vitoriana, cheia de submundos e histórias sombrias de monstros. Se no mundo das HQs essa história é um clássico, no mundo das animações temos a combinação perfeita para um novo sucesso. 300 gramas de Batman, 100 gramas de violência, dois maços de escuridão e uma pitada de surpresas é a receita de uma animação que já chega aplaudida.
Alguém está caçando prostitutas em Gotham e isso precisa parar. Se depender da lenda Batman, isso vai parar. Para animar o espectador, temos um vislumbre logo no começo de Batman, Jack, o Estripador (sim, o próprio) e Selina Kyle (sem o traje de Mulher-Gato) lutando habilmente. Selina anda displicentemente por uma Gotham que parece abandonada. Por becos escuros e lugares estranhos (quase pude sentir o cheiro de esgotos a céu aberto), a belíssima mulher caminha, como que esperando por algo, ou alguém. É aí que tudo começa. O embate no frigorifico é incrivelmente macabro.
O serial é descrito como habilidoso lutador, 1,90 de altura, uns 110 quilos e canhoto (preste atenção no canhoto). E abusado. Observe a carta e sinta o sangue espirrando enquanto lê:
Querida chefia,
Gotham se tornou um ninho de sujeira e podridão. Estou no meio de prostitutas e não vou parar de esquartejar elas até que me prendam. Grande trabalho meu último serviço. Nem dei tempo para a garota gritar. Como vão me pegar agora? Eu amo meu trabalho. Cortar prostitutas e aqueles degenerados que defendem elas. Nem os malditos policiais, nem o falso deus por trás de quem se escondem vão estragar meu jogo. Vou voltar a trabalhar logo e mandar mais pedaços de vísceras…
Com um pouquinho de pesquisa você descobre que é uma adaptação da carta “Dear Boss”, uma das cartas enviadas pelo próprio Jack (o real), a polícia em 1888. Considerada uma das três cartas escritas pelo assassino em série. Já está sentindo calafrios aí?

Com outra reviravolta macabra, a busca começa. Com direito a citação bíblica, Alfred até o tenta convencer o Batman a esquecer esse cara. Mas a forma de luto predileta do Homem-Morcego é a vingança.
O que não é segredo para ninguém é o numero de suspeitos que aparecem. Wayne, por exemplo, é preso. E as referências à época é que me deixam realmente empolgado. Em dado momento, Bruce numa conversa pelas grades com Selina Kyle, diz que seu mentor costuma dizer que “quando você elimina o impossível, o que restar, não importa o quão improvável, deve ser a verdade”. Essa frase na vida real é de Sir Arthur Conan Doyle. Ninguém mais, ninguém menos que o pai de Sherlock Holmes, detetive de casos improváveis. Sacou a referência?
A vestimenta da polícia, os cabarés, os clubes masculinos, as carruagens. Tudo remonta a Londres. Contando com algumas aulas de história, Os Estados Unidos foram colonizados pela Inglaterra. Então podemos dizer que essa Gotham de 1889 é uma mistura da capital inglesa e Nova Iorque. Algo que pode soar estranho é o fato de termos todos os personagens clássicos nessa história de época. Mas essas histórias são chamadas de Elsewords. Elsewords são histórias retiradas dos seus cenários normais e colocadas em locais e épocas diferentes. Locais e épocas que existiram ou que poderiam ter existido. Ou que não podem, não poderiam ou nem deveriam existir (se serve de curiosidade, a primeira Elseword da DC Comics é a HQ que inspirou essa animação: Gotham By Gaslight). Resumindo: não são canônicos. Não mudam a origem de Bruce, Selina, Gordon e outros personagens presentes. Como um famoso vilão do Batman conhecido como…, bom, te desafio a ver quem é.
De toda e qualquer maneira, é bom prestar atenção em tudo. Os desenhos são clássicos. O estilo advém do diretor, um velho conhecido das animações da DC. A adaptação é bem fiel a HQ (que não é unanimidade entre os fãs). O grande problema não está na própria animação em si. Mas a HQ, em comparação com outras é fraca. A animação até mudou o plot, tem uma reviravolta. Temos mais violência e mudança de personagens na animação. Afinal é uma adaptação. Mas podemos dizer para quem leu a HQ e assistiu o desenho que com toda a certeza, a animação é melhor. Talvez seja a riqueza de referências, os personagens que se alteram em oposição à HQ ou a dose certa de violência aplicada por Liu. Não dá para dizer com precisão o que torna a animação especial. O detalhe toca a cada um de uma maneira. Particularmente, achei muito boa. Está longe de ser uma Batman: Ano Um ou Cavaleiro das Trevas. Mas mesmo quando a DC Animation faz algo mediano, ela é muito superior ao restante. Vale a pena comprar e assistir? MUITO MESMO! Tem algum sangue e uma dose de pancadaria. E diverte. Inclusive gostei da revelação de quem é Jack, o Estripador. Sim. Ele é…