Os Flintstones | Confira nossa resenha diretamente da Idade da Pedra

    Imagine uma civilização há 100.000 anos atrás. “Só posso imaginar quão horríveis suas vidas devem ter sido”, e assim partimos para Bedrock, a cidade natal dos Flintstones, nessa edição da DC Comics que leva um combo especial de muita crítica e bons elementos da origem dos personagens da Hanna-Barbera que vivem na Idade da Pedra.

    Fred está vestido esperando pelo cargo que pretende ocupar há 15 anos, Vilma quer ser reconhecida pela classe intelectual através de suas obras, sem sucesso, em comum estão insatisfeitos com o lugar que exercem na sociedade, numa persistente busca de sentido quando se há pouco sentido real. Traumas da guerra forçada, imposições do trabalho, ter para ser e a constante obrigação de sempre fazer algo para se tornar alguém reconhecido ocupam boa parte do tempo do casal protagonista.

    Os animais, objetificados, funcionam como ferramentas para tornar a vida civilizada mais confortável e luxuosa. A primeira transmissão de TV é a criação da janela para, através dela, enxergar o mundo; a incansável busca por um Deus que apazigue; a inauguração do shopping e o consumo frenético por “porcarias”, tudo está no cotidiano das pessoas de Bedrock, sem um motivo ou explicação, mas instituído como um hábito necessário.

    IABA-DABA-DUU, a frase sem sentido para lidar com situações tensas, é transformado em um bordão pelos veteranos das Guerras Paleolíticas conforme o número de conflitos que surgem em uma velocidade de coisas e acontecimentos além do que se pode crer. A evolução da história é apresentada por episódios de dominação por quem possui maior poder, assim se avança e se firma, ou então sobre o iminente risco sempre presente de ser desintegrado por uma outra civilização, como no caso de invasão alienígena que sofre Bedrock, que mais parece um “bate e volta” dos invasores sem se importar com nada e ninguém. Mark Russell (Prez), responsável pelo roteiro, através de lembranças e questionamentos de Fred e seus amigos combatentes, revela uma preocupação que acompanha o desenvolvimento da narrativa e o pensamento de seus personagens por diversos quadros, como existir aqui e agora, no tempo que me pertence?

    Capa Variante por Ivan Reis e Marcelo Maiolo

    Dentre os receios, a instituição casamento ou a formalização jurídica da relação entre duas pessoas, apresentado como algo inédito e com suas próprias regras, é exemplo de um tempo que flerta com as transformações e a modernidade, que não sustenta um modelo como ideal quando a real existência está fundada na diversidade. Os modelos estão obsoletos, a obrigação por eles ainda mais. Nada e ninguém anda lá satisfeito ou satisfeita com qualquer forma de domesticação pelos lados de Bedrock.

    Os interesses políticos e a manipulação de um cenário para benefício próprio estão na narrativa, quem detém o poder transforma vidas alheias em meras peças para o seu jogo de conquistas. Ai se não fosse a capacidade de refletir sobre suas próprias ações. Triste quando isso se dá tarde demais, é o que será de Barney ao fim do confronto contra o Povo da Árvore, afinal quem é que leva crianças para uma guerra?

    Passadas as ilusões, é possível voltar a ser uma boa pessoa.

    Em contraponto aos picos de caos e alienação há momentos tocantes, como a chegada de Dino e Bambam em suas respectivas famílias, provando humanidade em um cenário pouco propício para tal condição.

    A arte de Steve Pugh (Homem-Animal, Monstro do Pântano) é excepcional, principalmente ao recortar os extremos, o caos e os excessos de informação do cotidiano de Bedrock com seus fast-foods e instituições, sempre com mais cores, e a fragilidade dos personagens, quando sozinhos, refletindo sobre a própria existência, com traços delicados que destacam as expressões.

    Os Flintstones, volume 1, reúne as edições 1 – 6 em 168 páginas, uma leitura que se estrutura quase como uma visita ao museu, como se fossem salas temáticas em cada uma das edições, que em alguns momentos (somente alguns…) soa familiar mais do que deveria ser ao tempo que daqui escrevo esse texto.

    Leia mais sobre HQ’s da DC aqui.

    Leonardo Henrique
    Leonardo Henriquehttps://terraverso.com.br
    Me apresento da não tão distante Ribeirão Pires City, minha residência oficial desde que nasci. Formado em artes cênicas pela ELT e, recentemente, em jornalismo. Em tempos de Crise Infinita o momento exige Multiversões de si mesmo. Acreditem, não é uma Piada Mortal, isso foi apenas uma veloz apresentação. Se o caso é parar um asteroide, resolver um mistério ou acabar com uma guerra sabemos quem se deve ter por perto. Para informações sobre a DC este é o lugar…

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