Justice Con | Produtora Deborah Snyder participa da convenção digital

    A produtora Deborah Snyder começou elogiando a organização da Justice Con, “Nós estávamos, eu acho, planejando ir para a Comic Con este ano, e com a pandemia e não ser capaz de ir lá foi muito decepcionante. Eu não sei se já vi uma organização não corporativa criar este evento. Sabe, é dirigido por fãs, para os fãs, é incrível. Obrigada por fazerem isso”.

    Pergunta – Qual conselho você daria para a próxima geração de líderes femininas e como se empoderar?

    Deborah – Nós precisamos liderar com exemplos. Acho que começar dando suporte para outras mulheres e não querer derruba-las, não ser negativa. Dar suporte, seja o conteúdo, se você for criadora de conteúdo, dar suporte para cineastas mulheres. Dar suporte para empresárias, donas de negócios. Acho que é exemplo de liderança. Acho que a maior coisa que podemos fazer é aconselhar. Porque eu acho que realmente ver o que é possível, quais as possibilidades, é o que ajuda as pessoas a acreditarem que eles conseguem.

    Apresentadora – Acho que o que você disse sobre dar suporte em vez de depreciar é tão importante hoje em dia. Especialmente online, onde tem isso de no gênero de super-herói tem aquilo de “Um é melhor que o outro” e não precisa ser desse jeito. Não é questão de quem é mais poderoso, nós precisamos dar suporte para todos.

    Deborah – Eu sinto que é além disso. Quando é sobre quadrinhos, todos costumavam perguntar tipo “Prefere DC ou Marvel?” e eu fico “Não podemos ter os dois?”. Acho que agora, especialmente neste país que tem tanta negatividade, e as pessoas tem o anonimato para acharem que podem dizer o que querem. Não tem um rosto para o que foi dito, então eles falam o que não diriam se fosse uma conversa cara-a-cara. Então acho que precisamos de uma pouco mais de bondade e suporte. Também acho que os movimentos provaram que se vocês se juntarem para o que importam, independente do que seja, vocês conseguem mudanças. Vocês conseguem quando estão unidos.

    Pergunta – Como você se sente trabalhando em Hollywood junto desses grandes nomes? E o que significa para você ser uma mulher ao qual todas nós podemos escutar?

    Deborah – É meio inacreditável. Eu cresci em Nova Jersey, meu pai era um ferreiro e minha mãe ficava em casa conosco até irmos para a escola, ela trabalhava como gerente de escritório em algumas empresas. Eu fui a primeira pessoa em casa a ir para a faculdade. Então, Hollywood sempre pareceu tão distante. Eu não conhecia ninguém, nada. Mas por viver perto de Nova Iorque, era uma hora de trem, eu lembro de um amigo do meu pai trabalhar com propagandas, eu fiquei fascinada. Na época, a indústria de comerciais mudava tanto. Os comerciais de televisão era realmente a linha de frente. Tinham grandes diretores trabalhando em comerciais para contar essas pequenas histórias. E eles gastavam muito dinheiro nessas propagandas. Então foi algo que eu me interessei em fazer quando fui estudar. Ter um estágio em Nova Iorque. Fui em grandes agencias de publicidade, me lembro de me formar e tive que fazer o teste de digitação. E eu não conseguia digitar para salvar minha vida [disse rindo], me lembro de ter falhado no teste de digitação e eles ficaram “Não pode ter o trabalho de assistente” e eu fiquei “Eu tenho um diploma da faculdade em produção de vídeo”, mas mesmo assim eu não sabia digitar. Então, eu me lembro que nas férias em família, eu trouxe uma maquina de digitar e eu ficava praticando. Eu meio que consegui uma oportunidade quando fui em uma entrevista e a pessoa do RH tinha uma reunião, eu tinha falhado no teste de digitação, mas eles deixaram eu me encontrar com o chefe de produções mesmo assim. Então eu me encontrei com o chefe de produções e consegui o emprego. Eu fiquei trabalhando como assistente para cinco produtores. Mas mesmo assim, Hollywood parecia muito distante. Eu conheci Zack trabalhando em um comercial de desodorante, na Nova Zelândia. Ele tinha acabado de conseguir o trabalho em Madruga dos Mortos, que é o único filme que eu oficialmente não trabalhei com ele. Nós começamos a namorar, ficamos noivos e quando fui para a Califórnia eu ainda não pensava que trabalharia na indústria de filmes. Eu pensei que seria freelancer em propagandas, porque era isso que eu sabia. Mas quando eu percebi que as coisas que aprendi trabalhando com propagandas, tendo ideias. Porque muito disso é sobre ser capaz de expressar ideias, de vender ideias. Como produtora e comerciais, é sempre como fazer esses pequenos filmes, é sempre as mesmas etapas só que em uma escala muito maior. Então eu ainda não pensava que a indústria de filmes estaria no meu futuro, mas Zack queria que fizéssemos 300. Nós tínhamos esses parceiros de produção incríveis, mas a vantagem de vir dos comercias é que sabíamos como apresentar ideias, como vender. Então apresentamos essa incrível ideias, que eram maquetes de com o visual dos personagens.

    Também apresentamos livros de artes. E nós vendemos e eu pude ser produtora executiva desse filme. Enquanto fazíamos isso a Warner disse “Nós realmente gostamos de trabalhar com vocês” e eu me lembro de pensar “Eu não acredito nisso!”… tipo, como essa garota de Nova Jersey, sabe? Aqui! E então fazer esses filmes que pessoas do mundo todo assistem. Eu me lembro quando começamos a fazer Sucker Punch, que foi uma ideia original que desenvolvemos, eu me lembro de estar no set e sentir a mesma coisa. Tipo “Você acredita que isso estava na sua cabeça, que veio do nada?”. Acho que meu ponto é que, na metade do tempo, eu ainda não acredito. E eu acho que cada projeto, seja trazer Mulher-Maravilha pela primeira vez, ou seja… eu ainda não acredito que somos capazes de fazer o que fazemos. Mas acho que meu maior ponto é que não importa, você não precisa ter conexões para ter tenacidade. Se você se esforçar. Hollywood estava tão distante que eu realmente amava produzir, amava o que fazia. Eu aceitei qualquer trabalho. Eu fui recepcionista, trabalhei para produtores. Eu trabalhei até onde estou e eu aprecio isto. Eu acredito que você pode fazer o que sua mente diz que você quer fazer. Mesmo que muita gente fale “Não”, você não pode aceitar isso como resposta.

    Apresentadora – Você disse que quando você e Zack estão trabalhando em um filme, você traz mais mulheres para participar. Para poder ter mais mulheres na indústria. Você poderia nos dizer um pouco mais sobre isso, porque é interessante e incrível.

    Deborah – Uma mulher que eu realmente admiro é Geena Davis. Ela é uma atriz incrível, mas para aqueles que não sabem, ela é o Institute on Gender in Media. Eles fazem muita pesquisa sobre gêneros nas mídias, por na frente e atrás das câmeras. Mas o que eles também fazem são essas reuniões, e o ditado dela é “If she can see it, she can be it” (Se ela pode ver, ela pode ser) e eu tive a oportunidade, enquanto trabalhava em Mulher-Maravilha, de participar de uma dessas reuniões. E trabalhamos no filme. Mas a filosofia, se não é na sua frente, se você não está vendo… acho que muitas vezes quando falamos sobre gêneros, nós falamos sobre o que podemos enxergar na tela, seja a atriz ou a diretor, porque são mais visíveis. Seja o conteúdo do roteiro. Mas eu acho que também é importante sobre quem está por traz da câmera, garantir que temos igualdade por trás das câmeras é um longo caminho. Por isso eu sempre senti que poderíamos buscar essas jovens, estudantes ou meninas que estão em programas sociais governamentais. Nós buscamos elas para mostrar, nós temos uma variedade de coisas. Quando na Inglaterra gravando Liga da Justiça, eu tinha duas meninas que trabalharam comigo por duas semanas cada uma, elas trabalharam uma semana comigo e depois escolhiam outro departamento, seja de dublês, áudio visual, produção. E aí elas ficavam uma semana no que escolheram para ver exatamente o que eles fazem. E então elas iam para outros departamentos que elas não conheceram, para passar um tempo lá e aprender também. Patty também fez isso quando ela fez Mulher-Maravilha.

    Mostrar para as pessoas que existem oportunidades que eles podem nem saber que existem. E nós temos a tendência de ter muitas mulheres no set, nossa assistente de direção é uma mulher, a Misha Bukowski, que vem trabalhando conosco desde Watchmen. Nós trabalhamos com mulheres na coordenação de dublês. Essas são posições que geralmente não permitem que mulheres estejam no topo. Eu adoraria ver mais mulheres nas áreas técnicas, por trás das câmeras. Mas acho que as pessoas não sabem que existem essas oportunidades. Eu não acho que eu tive um mentor, alguém que me impactou como meu guru de carreira para me aconselhar. Mas eu sinto que eu estou tentando mudar isso.

    Apresentadora – Como uma mulher na indústria de filmes, quando você entra no set, qual é a coisa mais importante que você quer ver.

    Deborah – Eu gostaria de encontrar diversidade, isso é muito importante. Como produtora, eu estou sempre querendo isso, quem contratamos. Mas acho que outra coisa importante é que estamos criando algo do nada, as vezes. Contratar essas pessoas importantes de cada área, eu sinto que é importante criar um ambiente de trabalho que possa ser colaborativo, segura para o processo de criação fluir. As vezes tem egos envolvidos, então sempre estamos tentando nos cercar de pessoas que são melhores que nós. Muita na nossa equipe de arte são as mesmas pessoas com que trabalhamos há 10 anos, e algumas delas, eu vi que vocês conversaram com Clay e Kristine e Clay é um dos meus amigos mais queridos da faculdade. Acho que quando estamos na escola nós ficamos “Não seria legal algum dia nós fazermos isso juntos?” e o fato de conseguirmos fazer isso é incrível. Nós passamos muito tempo com as pessoas no set, então queremos gostar delas também. Sempre digo que é como viajar em um circo, e tem as crianças, estamos na estrada as vezes. Ficamos na Inglaterra por um ano, e é bom ter esses relacionamentos porque eles se tornam sua família. Acho que isso também alcança a tela, sabe? Quando existe confiança, não tem medo de arriscar, acho que você quer pessoas corajosas.

    Uma coisa que eu preciso dizer é que eu não quero só trabalhar com mulheres. Tem que existir um balanço. Eu gostaria de ver mais mulheres, porque até nos níveis mais altos, tem sempre outra mulher e eu. Acho que precisa balancear um pouco mais.

    Apresentadora – Eu achei uma citação do Dr. Marston que diz “Mulher-Maravilha foi meio que um exercício psicológico para a mulher que deveria governar o mundo”. Qual foi o primeiro pensamento que voce teve quando soube que Mulher-Maravilha iria entrar no mundo?

    Deborah – Quando fazíamos Batman vs Superman, Zack começou com a sequencia do Superman e adicionou o Batman, e aí virou Batman vs Superman. E ele disse “Quer saber o que seria muito animador? Ver a trindade no cinema pela primeira vez”. Então, desse jeito nós trouxemos a Mulher-Maravilha para o cinema pela primeira vez. Eu acho ela é uma personagem tão gostável porque ela tem valores que são sobre justiça, lutar para o que é certo, e são valores que são compreensíveis nos dias de hoje. A mitologia desses personagens permite isso. E eles mudam! Se olharmos a história da Mulher-Maravilha através do tempo, ela reflete a nós [mulheres]. Acho que é o que esses personagens fazem, quem nós éramos naquela época, então eles mudam e evoluem. Eu cresci assistindo Lynda Carter, saber que nós poderíamos fazer isso foi muito animador. Mas também senti que foi uma grande responsabilidade, porque muitas pessoas, mulheres e homens, ela é adorada por todos. Ela não é uma personagem só para as mulheres, ou só para os homens, ou só para as meninas. Escalar Gal foi um processo, foi uma busca mundial para encontrá-la. Mas igualmente importante que seja lá quem interpretasse a personagem também carregasse algumas dessas mesmas características. Eu acho que as crianças, as minhas crianças ficam tipo “Ei, você está trabalhando com o Batman hoje? Quando eu posso ver a Mulher-Maravilha?”. Eles sabem que o nome dela é Gal, mas ela ainda é a Mulher-Maravilha, ela não é uma atriz. Acho que sabermos que para parte da audiência não existe essa separação entre a personagem e a atriz, elas são meio que a mesma pessoa. Acho que a escalação se torna ainda mais crítica em que escolhemos. Depois dessa busca extensiva, nós testamos acho que quatro mulheres e Gal era realmente a nossa Mulher-Maravilha. E o pessoal do estúdio ficou “Ela é tão gentil”, todos ficaram meio enamorados pelo o que ela era como pessoa. Então no filme nós já sabíamos que ela tinha aquela coisa que é indescritível, aquela mágica. Enfim, voltando… eu sei que é uma grande responsabilidade, eu lembro da primeira vez que ela usou o uniforme eu chorei. Eu não conseguia acreditar. Algumas pessoas da equipe levaram os filhos, e uma menininha desenhou ela [Gal], e ela foi tão gentil. Eles tentaram fazer o filme da Mulher-Maravilha por tanto tempo, houveram vários obstáculos. Mas fazer parte desse momento histórico foi muito emotivo. Acho que muitas pessoas choraram no set naquele dia.

    “Zack Snyder’s Liga da Justiça” estreia no streaming HBO Max em 2021.

    Tradução: Rayanne Matos

    Willyan Bertotto
    Willyan Bertotto
    Publicitário. Diretor de Arte, Designer e Batmaníaco. Fã incondicional da DC Comics e pesquisador assíduo desse universo e todas as suas possibilidades de transformação.

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