O Cavaleiro das Trevas | Afinal, por que amamos tanto esse clássico dos quadrinhos?

    A expressão “Cavaleiro das Trevas” mudou muito de sentido na ultima década. Minha sogra disse que não gosta do Batman por que ele é o Cavaleiro das Trevas. Bom, eu a entendo. Trevas lembra escuridão. E escuridão lembra medo. Os bandidos também não gostam dele por esse mesmo motivo. Medo. Depois de tanto tempo sendo ridicularizado, Batman finalmente dá medo. E só entendemos isso a partir da Batman O Cavaleiro das Trevas.

    Vamos às impressões sobre essa icônica HQ:

    Desenho

    Sou detalhista. Gosto de ver ao fundo a cidade e acessórios nas roupas dos personagens. O Renascimento cumpre bem esse papel. Os desenhos tem uma riqueza de detalhes tão grande, que ler é uma missão especial a cada edição. Posso dizer que como o detalhista que sou, fiquei ligeiramente decepcionado. Os traços são simples. Comentei isso com um amigo, que me repreendeu rapidamente, dizendo que esses são os traços dele (que como um leigo, não conhecia pessoalmente). Depois de ler umas belas 50 páginas, compreendi. As imagens são um espetáculo a parte. Como uma pintura de Edvard Munch (O Grito), elas têm um toque não tão detalhado. Mas é isso que as tornam lindas. Lembram tirinhas de jornal dos anos 80 misturadas às cores do começo dos anos 90. Vou explicar o que me remete os desenhos.

    O Grito (1983) – Edvard Munch

    Eu ficava na biblioteca da cidade. Era velha. Bem velha. O cheiro de páginas amarelas, misturada a naftalina era forte. Era incrivelmente organizada. Eu passava horas que somadas, viravam dias. Não era muito grande. Mas era o suficiente para eu passar algum tempo passeando por lá. A tia idosa que ficava lendo livros lá era bem legal comigo. Isso era segunda metade da década de 90. 1998, talvez. Era a época da enciclopédia Barsa e seus vendedores de porta em porta. Tive contato com uma prateleira de quadrinhos nessa biblioteca. Na prateleira tinha de tudo. Mas me interessei pelas adultas. Batman pelo lado DC e Wolverine pelo lado da Marvel. Minha paixão ficou incubada por dois motivos: falta de dinheiro para comprar novos quadrinhos e o preconceito que quadrinhos são coisas de criança.

    Bom, depois desse breve relato você pode entender porque me apaixonei loucamente (não imediatamente) por Batman O Cavaleiro das Trevas. O estilo era o mesmo! Os ideais da década de 90 (as revistas daquela biblioteca tinham quase dez anos) com seu traço oitentista eram muito nostálgicos. Diante dos traços detalhados e milimétricos das atuais HQs é até um pouco difícil se acostumar com o desenho de poucas linhas dele. Mas quer saber? Eu descobri, depois dessa bobagem da minha parte, que os desenhos têm um charme todo especial.

    Roteiro

    O roteiro é do Frank Miller. E eu queria citar um trecho da introdução para ressaltar meu sentimento:

    O Cavaleiro das Trevas é, obviamente, uma história do Batman. Em grande parte, procurei usar a escalada da criminalidade ao meu redor pra retratar um mundo que precisava de um gênio obsessivo, hercúleo e razoavelmente maníaco para pôr as coisas em ordem. Mas isso era apenas metade do serviço. Eu não guardei meu veneno mais poderoso pro Coringa ou pro Duas-Caras, mas para as insípidas e apelativas figuras da mídia que cobriam de forma tão pobre os gigantescos conflitos daquela época. O que essas pessoas insignificantes fariam se gigantes andassem sobre a Terra? Que tratamento elas dariam a um herói poderoso, exigente e inclemente? Ou a um vilão cuja alma é obscura como a morte?”

     

    Eu poderia parar por aqui. Mas quero tecer comentários. Que palavras poderosas! Escritas em 2006, há exatos 12 anos, mas com uma atualidade que beira a previsão. A internet, a TV e os meios de comunicação hoje em dia estão distribuindo futilidade e pregando a insensibilidade. Como trataria o Homem-Morcego se ele resolvesse combater o crime aí onde você mora? Como se sentiria se nos jornais pipocassem noticias de um mascarado que machuca e esmaga o crime? Esse é o principal argumento desse artista chamado Frank Miller. A história fala do Batman, do Superman, do Coringa, de crimes, de problemas sociais. Mas tudo gira em torno da mídia. Tudo gira em torno de como as pessoas engolem tudo isso. O filme de Nolan não aborda esse aspecto (é uma adaptação, é compreensível) e a animação não capta a intensidade. Por isso a HQ é respeitada por essas duas mídias, mas não tem impresso na tela o que Frank Miller realmente estava pregando: um mundo imparcial, justo e, infelizmente, utópico.

    História

    Analisando a história de forma geral, eu poderia dizer que foi escrita essa semana. Apesar dos costumes, roupas e linguajar serem do fim dos anos 80, fica claro a contemporaneidade da obra. A história tem plots suficientes pra confundir qualquer leitor desatento. E eu sei que isso beira ao spoiler, mas veja só um deles.

    Vemos uma mulher sendo roubada no trem por homens da gangue Mutante. Eles olham, vêem que ela não tem nada de especial a não ser uma caixa de tintas pro seu filhinho. Essa caixa de tintas foi comprada com o último dinheiro da mulher. Ela se desespera. Eles devolvem a bolsa e saem do vagão. Ela coloca a mão pra ver se a caixa ainda está lá. Está. Junto com algo que parece uma maçã de metal. O próximo quadrinho mostra uma TV, com a nova comissária anunciando a explosão da mulher. Tudo isso diante dos seus olhos. E aí você se pergunta: por quê?

    Meu envolvimento com a história foi muito emocional. Isso torna tudo tão crível. Tão próximo, vizinho e medonho. Por que com o passar das páginas, você entende a razão do Batman (senil e bem acabado) deixar que a cidade se consumisse em crime. Você começa a entender que as pessoas transformaram tudo em carnificina. E ninguém se importa. A mídia não se importa, o governo da cidade não se importa, do estado não se importa, do país não se importa. O presidente está defendendo uma ilhota invadida pelos russos, enquanto seus eleitores estão morrendo assassinados nas suas próprias lojas e casas. E isso indigna. Isso ofende sua humanidade. Frank Miller joga com suas emoções tão bem que chega a ser explosivo. Você tem vontade de rasgar as páginas, você tem vontade xingar o povo de Gotham. Mas você também tem vontade de chorar de tristeza por ver inocentes sendo dizimados e de ver a indiferença dos governantes. Lembrando também que essa é a história em que Batman está mais denso e psicótico sobre a vida.

    Frank Miller: O responsável pela genialidade existente em O Cavaleiro das Trevas.

    Bruce sempre se importou com a questão: Matar por algo bom é o mesmo que fazer algo mal? Mas aqui, ele só se importa em passar por cima do crime com violência e medo. Aqui, os bandidos temem o Homem Morcego. E a polícia o admira. Como é dito em determinada parte “ele cruza a linha que os policiais não podem cruzar”. Essa HQ é um clássico por isso. Eu só consigo finalizar com essa palavra: atual. Essa é a palavra que define essa obra. Que eu chamo de obra de arte. Mas chamo de obra de arte, por não ter nenhum adjetivo mais majestoso pra chamar.

    Sobre as publicações no país, “Batman O Cavaleiro das Trevas” já foi publicada pela Editora Abril 5 vezes (3x em mini série e 2x em encadernado). Já pela Panini foram 6 vezes entre 2006 e 2017. Isso tudo somando TDK I, II e III. Então, em um espaço de 30 anos, Cavaleiro das Trevas teve um total de 11 publicações no Brasil, sendo 5 delas Edições Definitivas.

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    Will Rodrigues
    Will Rodrigueshttps://terraverso.com.br
    Estivador, Escritor, Gênero: Terror, Futuro Cavalheiro de Windsor, Morador de Mordor, Batfã, Notívago. Escrevo aqui e para a humanidade por hobby. Fora os poemas pra alguém especial. "Não leve a vida tão a sério. Você não vai sair vivo dela."

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