A Morte do Superman | Entre erros e acertos, nova adaptação do clássico investe na diversão e no drama – mas esquece da ambição

    “Matem logo ele!”. A frase, dita em tom de brincadeira durante as reuniões da equipe criativa das revistas do Homem de Aço, foi responsável por um dos momentos mais icônicos e importantes das histórias em quadrinhos. A Morte do Superman foi uma das mortes mais impactantes das hqs, alcançando grande mídia e exposição internacional, gerando discussões em revistas, jornais e canais de televisão. Foram mais de 3 milhões de edições vendidas em todo o mundo, mantendo a edição 75 de Superman com o recorde de gibi mais vendido da história da DC Comics. A história se tornou um clássico mais por sua importância e repercussão do que, propriamente dizendo, por sua qualidade. Mas a verdade é que A Morte do Superman trouxe um novo frescor para o personagem e para suas vendas, que passavam por maus momentos na década de 90. De lá pra cá, acompanhamos a morte do personagem em diversas mídias diferentes. Em novas HQ’s, em animações para a TV, longas de animação, séries, cinema… Sempre tentando emular o sucesso econômico e a relevância do evento original. E depois de já ter sido adaptada em 2007, A Morte do Superman também ganha sua versão no Universo de Filmes Animados da DC. E o que está nova adaptação traz de relevante, hoje, que justifique uma nova visão sobre a morte de Kal-El? Afinal, existem grandes histórias do Superman que merecem ser animadas. Então, por quê a escolha de adaptar A Morte do Superman mais uma vez?⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀

    A história é, em suma, a mesma. Superman/Clark Kent e Lois Lane estão em um momento especial de seu relacionamento, até que a chegada de uma criatura abominável e poderosa leva o Homem de Aço ao limite de suas forças e causa aquilo que ninguém no universo (com exceção do Luthor) acreditava ser possível: a morte do Superman. De imediato, podemos perceber que as principais novidades desta nova versão são as inserções de aspectos mais recentes da história do Último Filho de Kripton e da DC Comics. Inspirações e referências de fases como Novos 52 e Rebirth e ao DCEU são visíveis no visual e roteiro de A Morte do Superman. Além, claro, de situar este acontecimento na cronologia do Universo de Filmes Animados da DC. Nesta nova animação enxergamos também a vontade de recontar a história o mais fielmente possível ao arco de histórias dos quadrinhos. É interessante notar como o roteiro de Peter Tomasi (responsável por grandes runs do Lanterna Verde e Batman & Robin, entre outros tantos títulos) busca adaptar desde Man of Steel #18, edição que traz a segunda aparição de Apocalypse, até Reign of Supermen/O Retorno do Superman, história que fecha a trilogia principal da saga. Uma adaptação tão ampla como esta não havia sido feita, de fato, em nenhuma mídia. A Morte de Superman é, portanto, uma animação que traz uma experiência divertida para aqueles que já leram a saga, pois podem identificar os pontos onde se assemelha e diferencia dos quadrinhos (e decidir se gostam ou não do trabalho realizado).

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    O problema é como a animação conversa com aqueles que ainda não tiveram a oportunidade de conhecer a história original ou mesmo não tiveram contato profundo com o personagem. Por mais que o Superman seja “o primeiro super-herói de todos os tempos” e por mais que sua história e seu símbolo sejam conhecidos no mundo todo, seu cânone e seus elementos não são. Apesar disso ter mudado recentemente graças ao interesse gerado pelo Superman de Henry Cavill e Snyder do DCEU, a fatia que reconhece elementos como a Fortaleza da Solidão, a cidade engarrada de Kandor ou os vilões do Homem de Aço são legitimamente menores do que a de outros heróis, como o Batman e o Homem-Aranha, por exemplo. A grande dificuldade em matar o Superman (não só nesta animação mas em outras mídias) é criar uma conexão com o público forte o suficiente para que esta seja impactante e dolorosa o suficiente. E A Morte do Superman até busca fazer isto, porém, fica á mercê da incerteza. Falta ambição para contar uma história tão ambiciosa. Caberá ao espectador decidir se a morte de um símbolo tão importante quanto o Superman é relevante ou não.⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀

    E em A Morte do Superman podemos reconhecer estas escolhas que buscam criar ligações com o espectador. Já nos minutos iniciais da animação somos apresentados a um herói que é símbolo da paz e da proteção. Reconhecemos o Superman como um ser querido e amado pelos cidadãos de Metrópolis, um guardião. Sua relação com outros heróis também é rapidamente explorada, deixando claro como o Azulão é uma inspiração para os outros membros da Liga da Justiça. Na primeira sequência de ação, é interessante notar como o Homem de Aço nos é revelado aos poucos, sendo o reflexo de seu símbolo a primeira parte apresentada ao espectador. A forma como a movimentação em supervelocidade do Superman é retratada remete, intencionalmente ou não, aos curtas animados do personagem lançados no início da década de 40 pela Fleischer Studios. Por último, vemos finalmente o rosto de Kal-El, de forma positivista, antes da introdução do título. É uma estrutura feita para deixar o público apreensivo e refém do destino irreversível do Homem de Aço, e que se será investigada de outras formas ao longo do filme. E a mais interessante e poderosa delas é a relação de Clark Kent e Lois Lane. O casal tem química e carisma, e é muito agradável vê-los juntos. O triângulo amoroso entre Clark – Lois – Superman é retratado de forma bem divertida, como em grandes histórias dos personagens.

     

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    A animação é competente, segue a identidade já estabelecida no DCAMU e tem sequências de ação muito interessantes e empolgantes. Mas, assim como nos filmes anteriores, alguns frames e movimentos são duros e sem fluidez. Apesar de A Morte do Superman possuir qualidade técnica superior a animações anteriores da DC, é natural que alguns espectadores sintam que o filme não apresenta nada de novo neste quesito. Realmente, é hora da DC inovar em suas animações. Se faz necessário descobrir formas de dar personalidade visual própria para cada um de seus filmes, pois a longo prazo isso poderá cansar o público (muitos, certamente, já estão cansados).⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀

    A dublagem americana dos personagens também é um ponto positivo. Jerry O’Connell é um ótimo Superman, mas é ainda melhor como Clark Kent. É muito interessante ver como é sua transição entre um personagem e outro. Rebecca Romjin tem um bom timing de comédia e aproveita os momentos inspirados de humor de Lois Lane – sim, Lois tem momentos muito engraçados no filme. Rosario Dawson entra pra invejável lista de profissionais que viveram personagens da DC Comics e da Marvel. Sua Mulher-Maravilha tem pouco tempo de tela, mas o suficiente pra cativar os fãs da amazona com sua voz forte e charmosa. Os outros membros da Liga são dublados pelos mesmos atores dos filmes anteriores, que em A Morte do Superman também fazem um trabalho interessante. A única ressalva seria Rainn Wilson, que não consegue entregar o ponto certo de Lex Luthor. Possivelmente por causa de sua curta participação no filme.

     

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    E Apocalypse/Doomsday? Um dos pontos positivos do filme é a introdução do personagem. Claro, não há muito o que se desenvolver aqui, visto que sua criação nos quadrinhos foi uma espécie de Diabolus ex Machina. O que é digno de elogios aqui é como a animação nos apresenta Apocalypse como uma presença realmente ameaçadora, uma perfeita contraparte do Superman. Se o filme demora para nos mostrar a face do heroí e de toda a esperança que ele representa no início, também usa o mesmo código para nos revelar o vilão e a destruição imparável que ele o é. No fim, para aqueles que se envolverem, A Morte do Superman consegue ser dolorida de assistir. Poderia ser mais? Sim. Mas o resultado final ainda é satisfatório, divertido e deixas pontas para a continuação, Reign of Supermen/O Retorno do Superman, já anunciada para 2019.
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    Enfim…
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    A Morte do Superman busca adaptar o mais fielmente possível um grande marco dos quadrinhos com sequências de ação empolgantes e humor leve, além de criar conexões com momentos recentes da história da DC Comics nos quadrinhos e no cinema. Por mais que o visual da animação possa soar trivial para alguns fãs do Universo de Filmes Animados da DC, A Morte do Superman traz qualidade técnica superior a filmes anteriores, e seu roteiro se propõe a construir uma relação de importância e proximidade com o espectador. Claro que isso não muda o fato de que as animações da DC possam estar entrando em lugar-comum e que, a longo prazo, isso possa cansar o público. A Morte do Superman é uma animação que, verdadeiramente, tem chances de agradar o espectador.⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀

    Mas não estamos falando da morte do maior herói do mundo? Essa não deveria ser, assertivamente, uma grande história? O grande problema de A Morte do Superman é, novamente, tentar destruir um símbolo tão poderoso sem preenche-lo de significados antes – afinal, sem analogias, alegorias ou metáforas um símbolo não tem força o suficiente para se transformar, de fato, em um símbolo. Há inúmeras histórias ao longo dos 80 anos do Superman que podem ser transformadas em animações, filmes e outras tanta mídias que tragam novos leitores para o Homem de Aço. E aí, quando todos tiverem relembrado a importância do Superman e de tudo que seu símbolo representa, podem matá-lo de novo. Ou melhor, não matem! Chega de matar o Azulão! Acho que tudo que precisamos no momento é do Superman e de tudo que ele significa para a Terra.

    O Homem do Amanhã nunca precisou estar tão presente no hoje.

    Rodolfo Chagas
    Rodolfo Chagashttps://terraverso.com.br
    Sou daqueles que saía correndo na saída da escola pra almoçar assistindo Liga da Justiça. Daqueles que juntava o troco do pão pra comprar gibi no sebo. Feliz de viver na melhor época pra ser nerd. Sem editorismo, amai-vos uns aos outros! A alvorada dos heróis ainda vai durar por muitos anos! Que Snydeus seja louvado e que Stan Lee viva pra sempre!

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